Como a ansiedade e o estresse podem atrapalhar o processo de gravidez? Além de lidar com a frustração após inúmeras tentativas, as cobranças no ‘mundo interno’ da mulher em realizar o sonho de ser mãe ou externas, vindas da família e sociedade, também são vilãs na caminhada. As nossas emoções são capazes de mexer com todo o nosso organismo. O Sistema Nervoso Autônomo, que regula as respostas involuntárias em órgãos como o intestino e o útero, por exemplo, é altamente sensível. O SNA Simpático é o responsável pelas contrações uterinas e pode ser ‘controlado’ quando a mulher está em um ambiente menos hostil e mais relaxado.
Por isso, cuidar da saúde mental no processo de fertilização in vitro é primordial, na análise da ginecologista Amanda Volpato, sócia-fundadora da Clínica Hope: “É muito comum vermos em casais inférteis a presença de sintomas e sentimentos de ansiedade e depressão. Nesse grupo de pacientes nós notamos e sabemos que existe uma influência dessas emoções no resultado do tratamento. Esses casais são sempre incentivados a buscar ajuda e orientação para tentar controlar e lidar com essa parte emocional (principalmente a ansiedade) para que o tratamento seja realizado da forma mais tranquila possível”.
A psicoterapia para a mulher precisa estar alinhada nessa fase. “Nesse contexto é muito importante que haja uma rede de apoio para os casais que estão passando por tratamentos para engravidar. O suporte emocional é indicado durante todo o processo, até mesmo durante a fase de estimulação e utilização de hormônios que acabam influenciando nas emoções”, ressalta a especialista em Reprodução Humana.
Qual a diferença entre a fertilização in vitro e inseminação artificial?
Entre os tratamentos de infertilidade existem a fertilização in vitro (FIV) e a inseminação artificial (IA). A diferença entre eles é que a IA é um procedimento mais simples, considerado de média complexidade e onde há somente o preparo do sêmen.
“Esse sêmen, uma vez processado, será depositado dentro da cavidade uterina da mulher para aumentar assim a chance de gestação. É como se fosse uma gestação natural, uma maneira de facilitar o processo. Já a fertilização in vitro é considerada um tratamento de alta complexidade, com a fertilização do óvulo com o espermatozóide em um ambiente laboratorial in vitro”, explica Amanda.
Na FIV, os óvulos são estimulados através de medicações hormonais que a mulher usa por 10 dias. Esses óvulos, já em ambiente laboratorial, são coletados e fertilizados com sêmen em laboratório. “Na sequência, eles são mantidos em cultivo aproximadamente por 5 dias até a formação dos embriões. Depois desse período eles podem ser transferidos para dentro da cavidade uterina da mulher ou podem ser congelados e realizado uma transferência posteriormente”, acrescenta a especialista.
Quais as chances da fertilização in vitro dar certo?
Muitas pessoas que estão tentando
e buscam o processo de fertilização in vitro têm dúvidas sobre a taxa de sucesso. Isso porque trata-se de um procedimento caro.
“Quando a gente fala de chance de sucesso de fertilização in vitro, a primeira coisa que temos que considerar é a idade da mulher. Então, as mais jovens têm taxas de sucesso melhores do que as mais velhas. Na média, a taxa de sucesso é de 45% em geral dos tratamentos de fertilização in vitro”, afirma Amanda Volpato.
Entretanto, segundo a médica, existem alguns procedimentos que podem ter mais sucesso: “Por exemplo, a indicação de biópsia embrionária pode aumentar as chances de gravidez em até 60%. Lembrando que existe uma chance ‘acumulativa’. Acredita-se que, após três ciclos de fertilização in vitro, cerca de 95% dos casais vão conseguir engravidar, transferindo embriões euploides, ou seja, embriões cromossomicamente normais”.
Como lidar com um processo de negativa da fertilização?
Não é fácil lidar com a frustração, após semanas de tratamento, da negativa diante da FIV. Muitas famílias ficam desanimadas. “Embora tenhamos bons resultados com os tratamentos de fertilização in vitro, esses procedimentos estão longe de chegar a 100% de chances de gravidez, as melhores taxas que temos giram em torno de 60% de casos positivos. Então é comum termos um processo que acabe não dando certo e a mulher ou o casal tenha que lidar com esse resultado negativo”, destaca a especialista em Reprodução Humana.
O ideal é que as pacientes tentem afastar o sentimento de culpa e racionalizar que diversos fatores estão envolvidos e a maioria deles são impossíveis de se controlar.
“Mesmo com todas as variáveis favoráveis, nem sempre temos o sucesso. E, por isso, o último sentimento que essas mulheres têm que ter é de culpa. Temos que aprender a lidar com essa frustração”, diz.
Ao mesmo tempo, Amanda enfatiza que uma opção é a preservação da fertilidade. “O que acaba amenizando um pouco essa sobrecarga que a mulher carrega em relação ao tempo de ser mãe. A gente sabe que o relógio biológico é muito curto, a partir dos 35 anos já começamos a perder qualidade e quantidade de óvulos fazendo com que a gestação fique mais difícil. Hoje, graças ao avanço das técnicas de reprodução assistida e do congelamento de óvulos, a mulher já tem essa opção de conseguir preservar sua fertilidade e se livrar da cobrança em relação à maternidade que ela carrega, podendo escolher um momento certo para ser mãe”, conclui.
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