Como e por que sair da zona de conforto em 2025? Especialistas dão as dicas

‘Estadão’ conversou com psicólogas sobre o tema; uma delas explica que arriscar-se é um ‘músculo que pode ser exercitado’, o que possibilita mais coragem e ousadia

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Foto do author Ramana Rech

Ao contrário do que muita gente acredita, permanecer na zona de conforto não precisa ser algo ruim. Estar onde o indivíduo já domina os desafios pode ser até uma “conquista”, como definiu a psicóloga Desirée Cassado, professora da The School of Life. Mas nem sempre a zona de conforto é, de fato, confortável.

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Esse foi o caso de Mateus Souza Dalamelino, de 23 anos. Ele tinha um emprego estável na companhia de equipamentos elétricos Weg, com carteira assinada, perspectiva de crescimento e um salário que o permitiu construir uma kitnet para si próprio. No entanto, não se sentia feliz. “Eu tomava dois medicamentos, um para ansiedade e um para depressão. Chegou em um ponto que comecei a ter crise de pânico”, conta.

Para estar na Weg e ter estabilidade, Dalamelino precisou postergar o sonho de se tornar cozinheiro. Ele chegou a fazer um semestre do curso de gastronomia em 2020 na capital do Espírito Santo, Vitória, mas precisou voltar à sua cidade natal no interior do estado quando chegou a pandemia. Entrar na Weg, onde ficou durante 1 ano e 8 meses, foi a forma que encontrou de se sustentar, pagar algumas dívidas da faculdade e juntar dinheiro.

De acordo com a psicóloga Desirée Cassado, antes de dar o primeiro passo para sair da zona de conforto, é preciso avaliar de que forma isso está alinhado ao seu propósito Foto: Prins Productions

Era uma situação estável, mas que não necessariamente estava alinhada ao que o aspirante a cozinheiro realmente queria. “Às vezes, eu estou em uma zona de conforto, mas vivendo algo não tem a menor conexão comigo”, diz Desirée Cassado. De acordo com a psicóloga, antes de dar o primeiro passo para sair da zona de conforto, é preciso avaliar de que forma isso está alinhado ao seu propósito. “Para a gente conseguir mudar, precisa entender por que estamos fazendo isso”, diz.

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Ela explica que se arriscar também é um “músculo que pode ser exercitado”, assim como o é lidar com a ansiedade. Isso possibilita ser mais corajoso e ousado na vida.

No caso de Mateus Dalamelino, ele aproveitou a recuperação financeira conquistada no emprego para procurar com tranquilidade uma vaga como auxiliar entre os restaurantes da cidade, mesmo que pagasse apenas um terço do que recebia no antigo emprego. Ficou por 11 meses na cozinha de um restaurante que servia lanches e pratos à la carte. Mas se sentia insatisfeito com a sobrecarga de trabalho e a falta de oportunidades de subir de posição.

Mais uma vez, ele decidiu mudar e foi para a capital, onde morou de favor com uma amiga de um parente, em busca de melhores oportunidades na área com que tanto sonhava. Hoje, ele é o segundo no comando da cozinha de um café bistrô. “Não me arrependo. É algo que eu gosto, que me faz feliz. Também não me arrependo de ter ido para a Weg, porque foi uma experiência”, relata.

Como sair da zona de conforto?

Para Desirée Cassado, depois do indivíduo analisar o motivo pelo qual quer sair da zona de conforto e quais as expectativas dele com isso, ele fazer uma pesquisa sobre como chegar lá.

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Ela destaca que não é preciso fazer grandes mudanças. É possível começar a partir de cursos, mentorias, ou conversando com pessoas que trilharam o caminho desejado. “Eu posso ir experimentando a temperatura da água”, instrui.

A professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bianca Novaes afirma que sair da zona de conforto pode ser uma forma de se adaptar a mudanças que já estão em curso na vida. Nem sempre trata-se de uma mudança brusca de carreira, como o exemplo de Dalamelino. Pode ser deixar para trás um grupo de amigos com quem não se identifica mais, por exemplo.

Diminuir o fluxo de trabalho para dar mais prioridade a outras áreas da vida também é uma forma de abandonar uma zona de conforto bastante desafiadora.

A professora de Psicologia da UFF Bianca Novaes afirma que sair da zona de conforto pode ser uma forma de se adaptar a mudanças que já estão em curso na vida Foto: fran_kie

Outro exemplo de sair da zona de conforto é por meio da coletividade, “o que ajuda a tirar o peso do indivíduo”, explica a professora da UFF. Alguém insatisfeito com alguma condição trabalhista, por exemplo, em vez de mudar de emprego, pode se juntar a alguma organização para buscar resolver a situação de forma coletiva.

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O início de um novo ano pode ser uma boa oportunidade para dar início a novos planos e projetos. Mas ambas as psicólogas alertam para os perigos de criar metas muito fora da realidade e destacam a importância de dar um passo de cada vez.

E se der errado? Como lidar com o medo e a angústia de mudar

Seres humanos gostam de previsibilidade. “Inventamos várias ferramentas para descobrir o que vai acontecer amanhã, como calendário, horóscopo”, diz Desirée Cassado. Mas quando as pessoas saem da zona de conforto já não há mais essa constância, o que pode gerar sentimentos como angústia e medo.

Mas a psicóloga ressalta que esses sentimentos fazem parte do processo e que é preciso aprender a caminhar com eles. Essas emoções são importantes para alertar sobre possíveis perigos, mas não precisam ser paralisantes. “Nada de importante acontece na nossa vida que não envolva o desconforto. Tudo envolve algum nível de medo e angústia.”

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A psicóloga compara ter uma meta audaciosa e vontade de se arriscar a andar em uma roda gigante. Quem sobe no brinquedo sabe que em algum momento ele irá parar, mas “a gente aprecia a paisagem, olha as coisas de uma outra perspectiva, aproveita enquanto está nessa jornada”, analisa.

Indicações de livros de Desirée Cassado para deixar a zona de conforto

  1. Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida (Editora Objetiva; de Roman Krznaric) - Explora como reimaginar sua vida profissional e perseguir um trabalho gratificante.
  2. Carpe Diem (Editora Zahar; de Roman Krznaric) - É um chamado para aproveitar a vida ao máximo, explorando diferentes maneiras de viver intensamente.
  3. Como Ser um Bom Ancestral (Editora Zahar; de Roman Krznaric) - Incentiva a sair da mentalidade imediatista e pensar a longo prazo, com práticas para transformar sua visão de mundo.
  4. Lições de Vida: Nietzsche (Editora Zahar; de John Armstrong) - Ensina a usar inquietações e desafios para se transformar na pessoa que você deseja ser.
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