‘Como se fossem filhos’: Existem limites na hora de tratar pets como gente?

Roupas, carrinhos de bebê e até festas de aniversário estão entre os mimos feitos pelos donos; especialista explica prós e contras desse tratamento humanizado

Leticia Milani disse que cuida dos seus cães da mesma maneira que cuidaria dequalquer familiar. Foto: Maycon Cavalcante

Não dá para negar a relação de carinho e companheirismo que muitas pessoas mantêm com seus animais de estimação. Em momentos complicados, esses bichinhos levam alegria a muitos lares e, por isso, são vistos como parte da família.

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Esse é o caso de Leticia Milani, de 22 anos, que conta que o seu amor pelos animais veio de berço. “Quando eu era muito nova, tinha entre um e dois anos, meus pais me deram meu primeiro cachorrinho”, lembra. 

Toda a sua família gosta de pets e, ao longo da infância e adolescência, ela lembra que já teve coelho, galinha e até outros cachorros.

Um deles é o Oliver, da raça Shih Tzu, que virou o xodó da casa. Porém, quando foi morar sozinha, ela não pôde levá-lo por conta da idade e também do apego que seus familiares criaram com o animal.

Na sua nova casa, Leticia tem dois cães da raça Spitz Alemão Anão - ou Lulu da Pomerânia - que se chamam Leon e Jade. “Eles são como pessoas, eu cuido deles como eu cuidava da minha irmã quando era pequena. Tudo o que eu faço pela minha família eu faço por eles.”

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E esses cuidados incluem coisas como, por exemplo, carrinhos de bebê para cachorros. “Eu não consigo andar com os dois na guia. Na rua, que é mais perigoso, eu estando com dois e algum deles foge, não consigo pegar porque eu estou com outro.”

Por segurança, Leticia usa carrinhos para passear com seus cães. Foto: Arquivo Pessoal

Ela explica que estuda antes de ver quais itens podem ser usados nos cães. No caso de Leon e Jade, ela não usa roupinhas por conta da pelagem dupla que eles têm. “Às vezes, eu saio como eles no inverno, com temperatura de até 2ºC, mas eu sei que o Lulu não tem necessidade [de ser agasalhado].”

Já o Oliver, que vive na casa dos seus pais, anda sempre bem estiloso. “Ele gosta desde pequenininho principalmente porque aqui em Curitiba é frio. Quando eu chego para mexer na gaveta que tem as roupas dele, ele já vem para ser vestido.”

OShih TzuOliver é acostumado a usar roupas desde pequeno. Foto: Arquivo Pessoal

"Em todas as coisas que compro, eu tomo muito cuidado para estar sempre respeitando os limites do animal, porque mesmo que eles sejam da família, eles têm necessidades diferentes de uma criança, por exemplo", pontua Leticia.

Hoje ela tem uma empresa de marketing digital e trabalha de casa, então consegue dar ainda mais atenção e cuidado para os seus pets. Eles vão sempre ao pet shop e mantém uma rotina de banhos de acordo com as necessidades da espécie.

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Tratamento humanizado

A jornalista Ingrid Rodrigues, 24 anos, também criou um carinho pelos animais dentro de casa. “Meus avós sempre gostaram muito, então os meus pais também e, consequentemente, eu e a minha irmã também.”

Desde que nasceu ela tem contato com algum bichinho de estimação. “É um coelho, um peixe, um hamster, um papagaio, um cachorro, tudo. A gente nunca deixou de ter um animalzinho.”

Hoje, ela conta que tem 16 animais, que vão desde porquinhos-da-índia a gatos. “Eles são, de fato, parte da minha vida. Eu não conseguiria viver sem nenhum animal. Eu acho que um ambiente sem a presença de um animalzinho é muito triste.”

O tratamento dela com os bichinhos é humanizado, como ela mesmo descreve. Porém, eles não usam roupas, por exemplo. "A gente já comprou meias e vários acessórios, mas eles nunca se adaptaram."

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Essa humanização aparece de outra forma. A jornalista explica que, entre os animais da casa, ela é responsável pelo João Joaquim, da raça Shih Tzu, e eles são muito apegados. 

"Ele dorme comigo na cama. Eu trato como se ele fosse de fato uma pessoa. Eu coloco ele pra comer na mesa comigo, coloco a raçãozinha dele no potinho em cima da mesa."

E o cão já até se acostumou. "Ele não senta nem no chão, porque ele só quer sentar em cadeira. Até parece um comportamento de uma pessoa e as vezes eu brinco que ele pensa que é um menino". E, segundo ela, Joaquim sente até ciúmes dela com o namorado. 

Ingrid Rodrigues trata seu cão como gente e faz até festa de aniversário. Foto: Arquivo Pessoal

Ingrid também conta que sempre faz festas para comemorar o aniversário do seu pet. "Eu acho que a vida dos animais também precisa ser comemorada assim como a nossa."

E, segundo ela, a celebração tem de tudo: bolo, bombom, decoração e até os amigos dele. "Não faltam convidados aqui em casa, né? Tem muitos pets", brinca. 

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Existem limites para essa humanização?

Mariana Penteado de Castro, especialista em comportamento animal e CEO do IT Pet, diz ser totalmente a favor de que os pets sejam tratados como filhos. “Seja qual for a estrutura da família, eles são os amores das nossas vidas e nos dão amor incondicional.”

Ela afirma que há questões positivas nesse tipo de tratamento, como o fato das pessoas começarem a proporcionar aos pets produtos e serviços que tornem a vida deles mais longa, saudável e feliz. 

Contudo, a especialista frisa também o lado negativo, que vem dessa atribuição de características humanas aos animais. "Aí encontramos o problema fundamental: cães e gatos não são humanos, e jamais serão."

"A ciência já comprovou que os cães têm uma capacidade imensa de empatia e de reagir de acordo com nossos sentimentos e desejos. Isso, porém, não os tornam humanos. Gatos são igualmente fascinantes, ainda que de um modo bastante felino de ser."

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A especialista diz que não há problema em enxergar comportamentos meio "humanos" nos animais. "O que não podemos fazer é forçar comportamentos que irão, ao longo do tempo, causar danos psicológicos e físicos aos nossos bichos."

Especialista diz que não há problema em tratar pets como filhos, mas pondera alguns excessos. Foto: Pixabay

Ela chama atenção para alguns cuidados. Por exemplo, na hora de sentá-los em uma cadeira para comer, eles podem ter a ingestão e a digestão comprometidas pela posição que estão. 

Além disso, alguns donos acabam dando comida demais para eles e isso pode ser nocivo. "A consequência direta é sobrepeso, obesidade e todos os problemas associados."

Outro ponto é uma superproteção que impede os animais de andarem, correrem e até brincarem com outros bichos. "Todos esses comportamentos dos tutores, disfarçados de amor, fazem um mal imenso aos cães."

Em relação às roupas, ela pontua que podem usadas desde que maneira funcional. "É importante escolher produtos de qualidade, cujos tecidos, costuras e acessórios não causem alergias ou ofereçam riscos. E se o pet se incomodar, não se deve forçar nunca."

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Em resumo, Mariana afirma que a palavra-chave é bom senso. "Cães sempre serão cães, gatos sempre serão gatos, e todos os pets sempre deverão ser tratados dentro das necessidades de cada um como espécie."

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