Desde pequeno, Lucas, que tem Síndrome de Down, apresentava dificuldades alimentares. “O processo de introdução alimentar não foi fácil. Ele não aceitava nenhum alimento e tinha muita ânsia”, conta a mãe, Mariana Keidel Freitas.
Até os quatro anos, o garoto tinha dificuldade na mastigação, aceitação de comidas sólidas e introdução de novos alimentos. Por essa razão, os pais decidiram procurar uma fonoaudióloga especializada em dificuldades alimentares. Por causa das condições genéticas, algumas crianças com Síndrome de Down podem apresentar hipotonia orofacial e ter mais dificuldade em desenvolver uma mastigação efetiva.
“Essa dificuldade pode aparecer quando a criança inicia a alimentação complementar, que ocorre por volta de 6 meses de vida. Porém, não é certo que a criança vai apresentar problemas para se alimentar”, ressalta a fonoaudióloga Carla Deliberato, especialista em motricidade oral. A hipotonia orofacial pode fazer com que os pacientes desenvolvam uma seletividade com os alimentos e, em casos mais graves, se recusama ingerir aqueles que são sólidos.
Embora essa não seja uma característica exclusiva das pessoas com Síndrome de Down, muitos pais enfrentam desafios no período da introdução alimentar. “Tenho um caso prestes a receber alta de uma criança com Down que se alimentava com tudo, porém em sopas e bem triturados. Cozidos e cortado em pedaços não aceitava. Com o tratamento passou a mastigar e já aceita os alimentos fibrosos e duros. Um alívio para os pais que já não encontravam soluções efetivas”, explica.
Para adequar o sistema sensório motor oral e aceitar diversas texturas, principalmente alimentos mais duros e sólidos, os pais precisam buscar ajuda de especialistas no assunto. O adulto pode procurar o fonoaudiólogo se estiver com problema de mastigação ou engasgos durante as refeições, um nutricionista ou nutrólogo se precisar ajustar os hábitos alimentares ou um endocrinologista se houver questões metabólicas relacionadas que estejam interferindo na alimentação.
“Lucas fez fonoterapia com foco em recusa alimentar. Durante o acompanhamento, recebemos orientações de como ampliar a aceitação de novos alimentos e também dicas para diversificar as texturas e evoluir para os sólidos. O importante é continuar a estimulação em casa e na escola também. É um trabalho em conjunto. E como resultado, ele apresentou melhora principalmente na mastigação”, afirma a mãe.
Os alimentos preferidos do pequeno Lucas são arroz e feijão com legumes e algum tipo de carne ou peixe. Também adora macarrão, mas não come doces, bolos e salgados.
Confira 6 dicas para ajudar crianças com Síndrome de Down a se alimentar melhor
A pedido da reportagem do Estadão, a fonoaudióloga Carla Deliberato, especialista em motricidade oral, elaborou uma lista com algumas dicas para os pais que têm filhos com dificuldade alimentar.
O processo de aprendizado alimentar da criança com Down é semelhante ao da criança com desenvolvimento típico, mas vale ressaltar algumas dicas: 1 - Explorar sua boca com objetos (mordedores, brinquedos e alimentos); 2 - Manusear os alimentos e explorá-los cheirando, lambendo e mordendo; 3 - Participar do preparo de alimentos, seja auxiliando na hora de fazer de um bolo caseiro que exige mais tempo da família ou até mesmo auxiliando a descascar uma fruta que não demanda de tanto tempo; 4 - Desenvolver a autonomia durante as refeições. Estimule a criança a participar de forma ativa numa refeição, seja auxiliando a colocar os utensílios da mesa ou se servindo numa refeição; 5 - Participar de refeições em família pois estimula a curiosidade da criança diante de alimentos novos; 6 - Não fazer uso de tablets ou estímulos visuais pois irão desviar a atenção da criança do contexto dos alimentos.
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