O Dia do Psicólogo é comemorado anualmente em 27 de agosto no Brasil. Foi nesta data, no ano de 1962, que João Goulart, então presidente do País, regulamentou nacionalmente a profissão (lei nº 4.119). Mas, somente em 2016, ela passou a ser celebrada oficialmente.
O impacto da covid-19 foi um ponto importante e atual que deu ainda mais visibilidade à importância da psicologia, pois trouxe a saúde mental para o centro das discussões. Somente no primeiro ano da pandemia, doenças como ansiedade e depressão tiveram um aumento de 25% segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
E, como em toda carreira, na psicologia, os profissionais que se dispõem a estudá-la e a exercê-la também enfrentam muitos desafios, mas logo são recompensados pelos parazeres e satifasções resultantes de um trabalho bem feito.
Foi pensando nisso, que conversamos com cinco especialistas da área, que atuam em Brasília e São Paulo, para saber deles quais são os maiores desafios e os prazes da profissão sob o ponto de vista e experiência de cada um.
Bruna Capozzi
Ao longo dos quase 14 anos de formação, tenho atuado em duas áreas diferentes da Psicologia, fazendo ajustes na agenda e criando uma forma de atuar que se complementa. Tanto a área organizacional quanto a clínica têm suas delícias e desafios e as duas se encontram quando falamos do principal cliente: as pessoas. Gosto de falar dessas duas áreas de atuação porque a Psicologia é uma profissão que abre muitas portas, pois temos a oportunidade de atuar em praticamente todas as áreas, afinal, atuar com o comportamento humano é algo presente em quase todas as áreas.
O trabalho de atendimento clínico de adolescentes e adultos tem sido incrível por permitir ver como as pessoas se transformam ao longo do processo terapêutico. Cada processo de autoconhecimento pode ser bastante desafiador para as pessoas e poder apoiar esse processo é muito gratificante. Acredito que as novas descobertas e evidências de tratamento são muito interessantes para os nossos estudos e eu adoro estudar! A Psicologia tem muito a ver comigo por ser essa ciência que tem vontade de saber das coisas, mostrar apoio e dedicação aos outros, querer compreender os comportamentos e as motivações das pessoas e olhar para as potencialidades dos indivíduos.
E esse trabalho pode ser difícil pela não valorização da Psicologia na sociedade. Muitas pessoas ainda têm preconceito ao procurar um psicólogo por acharem que os outros vão dizer que são “loucas”. Esse estigma é muito ruim para disseminação da profissão. Ainda é preciso investir na ampliação do acesso ao serviço e também no entendimento de que a terapia é essencial para o cuidado da saúde mental das pessoas.
Outro desafio importante é ser profissional liberal e ter uma atuação que muitas vezes é instável e solitária. Compreender que precisa ser empreendedor em relação ao seu negócio é um salto importante de percepção sobre o serviço prestado e o futuro da atuação como psicólogo. A atuação com Recursos Humanos eu iniciei antes mesmo de me formar, nos meus estágios da faculdade. Continuo atuando nessa área, com desenvolvimento dos ativos mais importantes para a empresa em que atuo: os colaboradores.
É gratificante ter a oportunidade de atuar com estratégias e iniciativas que permitam demonstrar o apreço e o valor que cada profissional tem para a organização. Para mim, é algo que encanta pela quantidade de possibilidades e novos caminhos que podem ser criados, considerando a transformação constante das pessoas, da cultura e da organização como um todo.
Existem desafios para essa atuação, pois nem sempre as ações e conduções que pensamos podem ser colocadas em prática em função de outras necessidades da empresa e isso pode ser bem frustrante. Outro ponto de desafio é a quantidade de intervenientes para as implementações das ações, nem sempre é possível alcançar o envolvimento das lideranças e sem esse patrocínio, existe dificuldade de implementar programas e ações importantes. Ser psicóloga é algo que faz parte de mim, da minha forma de estar no mundo e isso é encantador!
Larissa Afiune
Por mais que a profissão esteja crescendo cada vez mais, e que nossa sociedade venha se abrindo para o novo, ainda é um desafio ter que lidar com o estigma que “terapia é coisa de louco”, “que é dinheiro jogado fora” e “que a única coisa que o psicólogo faz é sentar e ouvir”. Muitas pessoas ainda têm essas crenças limitantes e nosso papel inclui o de mudar essa percepção, mas confesso que é muito difícil. Esse pra mim é o maior desafio, porque ainda temos outros, como estudar e estarmos atualizados, fazer terapia, supervisão e outras coisas também, mas isso tudo é prazeroso de fazer.
E a maior delícia é a de poder exercer uma profissão tão bonita e de poder promover a mudança na vida das pessoas. De ser instrumento para que elas escrevam novas histórias.
Alexander Bez
É uma profissão basicamente muito gostosa, mas os tratamentos são demorados para o paciente ver resultados, cabe ao profissional saber tratar isso, ter habilidades para ir levando o tratamento e fazer com que o paciente perceba seus erros e ele mesmo ver qual caminho ele tem que seguir para uma melhora, e essa é a maior dificuldade da profissão, você fazer com que o paciente tenha esse entendimento com ele mesmo sem você ter que determinar o que ele tem que fazer. Psicólogo não dá ordens ao paciente, ele faz com que o paciente perceba quais atitudes deve tomar.
O psicólogo também ajuda muito no tratamento da ansiedade, porque é algo que não tem cura, então você vai ter que estar em “manutenção” sempre junto ao profissional que você escolher para percorrer esse caminho. A depressão endógena também é uma questão que vai estar sempre ali em consulta psicoterápica, por ser um transtorno depressivo bem maior. A síndrome do pânico, o psicólogo também tem toda a habilitação em curar, porque é uma síndrome totalmente curável, porém é um trabalho longo.
Mas veja, o fato de uma pessoa ter uma graduação em psicologia não a impossibilita de ela própria ter uma psicopatologia. Para o próprio psicólogo é recomendado que ele também faça sessões de psicoterapia para que ele possa estar aferido e preparado para cuidar das outras pessoas. O psicólogo tem que ser um profissional ileso, completamente neutro, apolítico, é vetado ao psicólogo entrar em assuntos que fujam do âmbito clínico. É muito importante ter o tato emocional e a leveza na alma para ser psicólogo.
Nathália de Maurício Mundim
Entre as delícias da profissão, acredito que o caminhar com o paciente e perceber com ele o processo de amadurecimento e crescimento, que se deu no processo psicoterapêutico, é uma das maiores satisfações que tenho nesta profissão.
Entre os desafios está o não envolver, misturar as próprias demandas emocionais com as demandas dos pacientes. Ter uma escuta genuína, sem crítica ou julgamento, com histórias de vida tão diferentes das nossas próprias.
Andréia Carvalho
Prefiro começar pelo lado dos desafios. Entre eles, está o de sempre tentar mostrar para as pessoas que ir ao psicólogo tem a mesma importância que ir ao médico fazer um check up anualmente, fazer uma consulta de vista... Ir ao psicólogo é procurar fazer uma auto compreensão. É preciso desmistificar que psicoterapia “é só para doido”, é para todos. Tentar quebrar as crenças centrais criadas desde a infância. Geralmente, a geração anterior pensava que era necessário resolver seus problemas sozinha, passando isso para as gerações atuais, fazendo que muitos sintam culpa por estar procurando um profissional para auxiliar em um momento difícil de vida emocionalmente.
Também é complicado para o profissional entrar em clínicas por convênio, sua remuneração é muito desvalorizada e ainda há problemas com repasses. A profissão sendo vista como algo feita por amor, não deixa de ser, é o nosso trabalho, e deve ser valorizado como as demais profissões.
Sobre as delícias, mais fácil de falar. Sentir que está auxiliando alguém, percebendo a cada dia suas evoluções no tratamento é maravilhoso. Durante o processo, é difícil a pessoa perceber, mas quando ficam mais aparentes suas mudanças, forma de pensar, agir, se sentem mais seguras... É gratificante para todos. Poder dar alta para um paciente sabendo que ele está pronto com ferramentas para enfrentar os desafios, é gratificante. Aprender com os novos casos, estar em constante estudo, evoluindo de forma pessoal e profissional também. Trabalhar com o que se ama, ter empatia pelo outro... Sinto orgulho pela profissão que escolhi. Agindo com ética e muito trabalho, é prazeroso poder ver cada vida mudando para melhor.
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