Fábio Teruel, o motivador religioso que se curou da depressão ajudando pessoas

Da doença à gratidão, radialista esteve no 'fundo do poço' e só conseguiu se levantar quando a sua vida começou a impactar a dos outros

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Por Caio Nascimento
Atualização:
Em 15 anos com projeto Geração Esperança, Fábio Teruel já doou cerca de 400 mil latas de leite em pó para mães carentes. Foto: Arquivo Pessoal

"Não sou guru nem coach. Sou apenas um irmão que estende a mão para alguém que está querendo se reerguer e não sabe como". É assim que se define Fábio Teruel ao falar de si. Nascido em Santa Bárbara d'Oeste, no interior de São Paulo, o homem alcançou mais de cinco milhões de seguidores no Facebook e 45 milhões de visualizações no YouTube ao se dedicar a ajudar, todos os dias, pessoas com palavras de autoestima e motivação.

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A vontade de tirar as pessoas do 'fundo do poço', como ele mesmo diz, não veio à toa. Fábio Teruel viveu um período nebuloso em sua vida, há 15 anos, quando perdeu todo o dinheiro e entrou em dívidas após um negócio mal sucedido. As dificuldades financeiras e o fato de ter sujado o próprio nome, o da mãe, o da esposa e o da cunhada o levaram à depressão. "Eu sei o que é a vontade de se matar, o que é o desespero e a frustração de tentar se levantar e não conseguir", conta.

Com o tempo, o radialista deu um novo significado para a dor e a transformou em apoio aos mais necessitados. "Eu tinha vergonha de mostrar que eu sofria com a depressão e que eu sentia dor, angústia e tristeza. Eu tirei de mim essa vergonha, e minha vida só voltou a ter sentido quando eu comecei a dar sentido para a vida de outras pessoas", recorda. "Temos, hoje, uma geração muito deprimida", lamenta ele, que considera importante o apoio de psicólogos e se preocupa com o fato de alguns coaches assumirem o papel desses profissionais. 

Veja um dos vídeos dele:

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Autor do livro Livres Para Voar, Fábio Teruel faz cerca de quatro shows sem fins lucrativos por mês e gere o projeto voluntário Geração Esperança, que já atendeu cerca de 600 famílias compostas por mães carentes ao longo de 15 anos. Todo mês, a iniciativa fornece cesta de alimento, fraldas infantis e latas de leite em pó. "Eu sou um grande doador. Se recebo bênçãos, eu preciso devolver isso para quem precisa", conta.

Leia abaixo a entrevista.

P: Você conquistou multidões por meio da religião e hoje é uma figura popular com mais de cinco milhões de seguidores no Facebook. Você se considera uma pessoa de sucesso?

R: Não foi por meio da religiosidade, mas pela palavra de Deus. Hoje, muitas pessoas necessitadas precisam de uma palavra de ânimo, conforto e motivação. A gente vê muitas igrejas que condenam, que dizem ao fiel que ele vai para o inferno se fizer algo, mas poucas são as pessoas preocupadas em ouvir as outras. 'O que você precisa? O que está acontecendo com você? O que se passa dentro da sua cabeça? Por que você não está bem? O que te incomoda? O que está no seu coração?'. Quando você começa a conversar com elas, você vê que não é só o lado financeiro ou da realização profissional, por exemplo. Elas querem um significado maior para a vida e sentem falta de um incentivo.

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Você pode falar com centenas, milhares de pessoas que já se realizaram profissionalmente, mas vai encontrar a depressão em muitas delas. Hoje posso dizer que encontrei meu verdadeiro significado, pois só consegui me levantar quando a minha vida passou a ter um incentivo maior para a vida das outras pessoas. Portanto, se sucesso for conseguir fazê-las felizes, levantá-las ou relaxá-las, então eu sou um homem realizado e de sucesso.

P: Durante a depressão, quais foram os sentimentos que te fizeram dar um novo sentido à vida ao ponto de querer ajudar os outros?

R: Eu tinha vergonha de mostrar aos outros que eu tinha depressão, que eu sentia dor, angústia, tristeza e vontade de me matar. Mas percebi que você só vai em busca da cura quando assume que sofre com aquilo; quando você aceita que é depressivo, dependente do álcool, das drogas e que é importante receber ajuda. As pessoas precisam tirar essa couraça de dizer que é frágil e aceitar que precisa de um colo, um abraço e de uma palavra de conforto. Eu tirei isso de mim e minha vida começou a ter sentido quando eu passei a dar sentidos para a vida dos outros. Havia chegado em um momento no qual parei de me preocupar com a minha dor e comecei a ajudar as pessoas a se curarem da dor delas. Foi somente aí que eu consegui resgatar a alegria que eu tinha no meu coração.

P: O que você percebe ao olhar para a angústia do outro?

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R: A gente está em uma época cuja juventude vive muito deprimida. Vejo jovens de 17 e 18 anos tristes, sem esperança, projetos e planos. Existem também muitas mulheres que são lindas, inteligentes, mas dependentes sentimentalmente de alguém que as maltrata, as manipula. Elas se mostram seguras e confiantes, mas estão presas a um homem. Então são coisas que a gente deve quebrar, entrar no coração delas e fazê-las entender que tudo isso está as impedindo de crescer.

Além disso, fico angustiado e preocupado ao ver que há ouvintes meus que querem uma mudança de vida, escutam minhas mensagens, sabem que é para elas, mas caem em contradição nos comentários [das redes sociais]: 'esse recado é para mim, mas na minha vida nada vai mudar, está tudo errado'. Não basta ir a um culto, ouvir um CD ou ler um livro para mudar. Vejo que muitas procuram uma resposta imediata, mas a mudança é um processo contínuo que devemos plantar e fortalecer todos os dias.

P: Você se considera um 'coach religioso'?

R: Não. Eu não sou coach nem guru. Sou uma pessoa próxima: já passei pelo desemprego e pela depressão. Já estive no fundo do poço. Eu sei o que é a vontade de se matar, o que é o desespero e a frustração de tentar se levantar e não conseguir. Nunca fui um treinador... sou apenas um irmão que estende a mão para alguém que está querendo se reerguer e não sabe como; sou o irmão que conhece o que muitas pessoas já passaram e não desistiram.

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P: Você me disse que já passou pela sensação de querer se matar. O que você diria para as pessoas que estão nessa situação?

R: Eu diria que o fundo do poço é um lugar terrível, mas é lá que você pode descobrir sua essência. Quando eu entrei em depressão, eu não tinha soluções para nada na minha vida. Mas aí eu entendi que quando a gente consegue respostas, o mundo vem e muda as perguntas.

Então, a primeira coisa que a pessoa em depressão precisa parar é de querer encontrar respostas; de querer entender tudo a todo instante. Digo a ela: 'se você está assim, é sinal de que você tem a possibilidade de mudar internamente, captar as dores, os problemas e o sofrimento do mundo [com ajuda psicológica]. Você é uma pessoa mais sensível, então você nasceu para ser luz neste mundo. Você vai curar a sua dor, porque você vai entender que você pode ser um instrumento de cura para a vida de muitas pessoas que estão enfrentando o mesmo que você'.

P: Muitos barram essa possibilidade de mudança e se cobram muito, reclamam da vida, vivem sob uma névoa: não gostam da família e são tristes com o trabalho, por exemplo. O que você diria para quem tem esses problemas que bloqueiam o crescimento pessoal?

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R: Uma das coisas que é importante trabalhar é a gratidão. Você pode conquistar o que for, mas, se começar a tornar banal o que já conquistou, você passará a andar sem alegria. O que essas pessoas precisam é acordar todo dia e agradecer pelas bênçãos que têm na vida.

Um exemplo: você tem o emprego que conquistou. Quando você estava desempregado, ele era uma bênção para você. Outro caso: 'minha companheira mora comigo e me aborrece muito, não tem nada a ver comigo'. Eu digo: 'quando você a conheceu, você estava apaixonado. Então, do mesmo jeito que ela faz concessões para os seus pontos fracos, você também deve dar concessões para os pontos fracos dela'.

O que eu quero dizer é que se a gente não colocar a gratidão no coração, e não fizer disso um hábito diário, a gente perde a graça, a alegria e o prazer da vida. E quando você deixa que isso aconteça, você caminha facilmente para a depressão. Alguns dos pontos fracos da depressão são a tristeza, a falta de esperança e ser uma pessoa que deixou de ter prazer em viver. Mas quando você monta e fortalece a gratidão por estar vivo, por ter pessoas que te amem, por você ter um emprego e saúde, as coisas começam a mudar. Você sente uma outra disposição diante da vida.

Repito: a gratidão é a palavra para ter mais ânimo, disposição, coragem e voltar a ter alegria de viver.

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P: Esses assuntos também exigem apoio de psicólogos ao seu ver?

R: Sim. Eu acho que tudo que envolve os sentimentos e os pensamentos pode ser trabalhado em terapia psicológica. Mas mesmo se a pessoa em depressão tomar remédios, ela não consegue nada se não tiver iniciativa. Se ela não tiver a vontade de mudar, de crescer ou se ela não tiver a atitude de fazer algo para que as sensações, os pensamentos e o jeito que ela se sente mudem, nada vai acontecer. Esses profissionais são incríveis, e eu não tenho nenhuma crítica a eles. A minha única preocupação é com alguns coaches que se dizem especialistas nisso, naquilo, e não têm a bagagem que um psicólogo tem para trabalhar com assuntos mais pesados.

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais

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