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Festival de Parintins: saiba tudo sobre a festa azul e vermelho que faz até a Coca-Cola mudar de cor

Até domingo, 30, o público poderá acompanhar, em Parintins ou online, o evento que vem encantando o público desde 1965 com a disputa entre os bois Caprichoso e Garantido

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Foto do author Soraia Joffely
Atualização:

Há 59 anos, surge no fim do mês de junho o Festival Folclórico de Parintins, a maior festa folclórica a céu aberto do País, reunindo uma disputa tradicional entre o Boi Caprichoso, que realça o azul, e o Boi Garantido, de cor vermelha, na cidade de Parintins, conhecida como a ‘ilha da magia’. De raízes nordestinas e com integração de elementos amazonenses, o festejo tornou-se parte da cultura popular e é considerado patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Com apresentações marcadas para esta sexta, 28, sábado, 29, e domingo, 30 junho, o Festival de Parintins promete, em mais uma edição, trazer a batalha entre os dois bumbás para o centro do Bumbódromo, local onde acontece o espetáculo. Dividida em azul e vermelho, a arena, com formato de boi, tem capacidade para 35 mil pessoas, que acompanham, durante as três noites, a execução dos temas. Este ano, as temáticas são “Triunfo do Povo”, do Caprichoso, e “Segredos do Coração e Cultura”, do Garantido.

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A rivalidade histórica dos bois é refletida até mesmo na mudança de cor do logotipo de grandes marcas. Desde 1995, a Coca-Cola já é uma figurinha repetida no patrocínio do evento. Para se adequar à festa, a marca repensa suas embalagens e também colore de azul as famosas latinhas de refrigerante.

Lançada pela primeira vez em 2007, a lata de refrigerante da cor azul foi justificada pelo vice-presidente da marca no Brasil, Marco Simões, como uma necessidade para melhor atender à população local, já que essa se recusava a consumir o produto. “Quem é azul não compra nada vermelho. Obviamente teríamos que nos adequar às cores dos bois“, definiu.

Lata da coca-cola na cor azul Foto: Patricia Assayag

De forma exclusiva, a empresa precisou até pedir uma autorização especial da rede internacional para lançar a embalagem azulada. Sendo assim, Parintins é o único local no Brasil onde isso acontece.

Somado a ela, outras marcas também se destacam na adaptação à cor do boi Caprichoso. O banco Bradesco, por exemplo, segue a mesma tendência e acrescenta uma nova fonte à marca, que é vermelha, para a cor azul.

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Na entrada da agência, em Parintins, o banco é dividido: metade em vermelho, e outra metade em azul, dando um toque de ‘Garanchoso’. A empresa de cerveja Brahma também lançou uma edição especial de latas personalizadas com os bois Garantido e Caprichoso.

Banco Bradesco azul e vermelho Parintins Foto: Soraia Joffely

Baseada em uma rivalidade centenária, que cresceu nas ruas de um pequeno município a 369 km de distância da capital Manaus, a festa é contemplada por grandes alegorias e cores místicas, que retratam, no embalar de uma cultura, a história de um povo negro, indígena e ribeirinho.

Para o professor de Sociedade e Cultura, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Allan Rodrigues, a festa tem um impacto na cultura local ao promover e valorizar as tradições.

“Cenários com essa magnitude, que são montados e desmontados em cinco minutos, que entram de uma forma e se transformam de uma arena para outra, é um teatro. Por isso, quem assiste, enxerga um Brasil indígena, porque hoje quase 80% da apresentação remete aos povos indígenas, aos seus rituais, às suas danças, aos seus costumes”, destacou Rodrigues.

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A execução de cada performance é como um teatro, já que é possível se dar conta de uma história sendo contada por meio das encenações e alegorias usadas.


Os três dias de festival

Embora ocorra sempre nos três últimos dias de junho, o festival é uma experiência que se antecede semanas antes. Barcos, o meio mais comum para se chegar à cidade, ficam de prontidão para receber os torcedores de cada bumbá. Acessórios, sejam eles artesanatos vermelhos ou azuis, já entram como item obrigatório na mala dos entusiastas do festejo.

A torcedora do caprichoso e aluna de psicologia, Aldrya Beatriz, de 21 anos, descreve a sensação de estar indo pela primeira vez ao festival. Ela, assim como muitos torcedores, está preparando a bagagem desde o início deste mês.

No entanto, por conta da alta procura por estadia, a estudante precisará se hospedar no mesmo barco em que viajará até Parintins. Durante o evento, é comum que as embarcações se tornem morada dos torcedores.

“Eu já comprei a minha passagem, mas como não consegui alugar uma casa na cidade, então terei que ficar no barco. Outra coisa também é que estou muito ansiosa para voltar à cidade. A última vez que estive lá foi em 2014. E poder voltar em um dos melhores dias do ano é mágico, porque eu gosto muito de boi. Acompanho desde criança, quando minha mãe me apresentou o Caprichoso”, declarou.

Para que o espetáculo ocorra dentro da arena, cada boi se apresenta por um período que varia de duas horas a 2h30. É nesse momento que a ‘galera’, termo usado para fazer referência à torcida de cada boi bumbá, permanece em silêncio, enquanto assiste a apresentação do adversário. A manifestação da torcida contrária pode significar penalidade no momento da avaliação.

O combate artístico é embalado pelas famosas toadas, tanto atuais quanto antigas, que a cada ano surgem em diferentes álbuns lançados por Caprichoso e Garantido, gerando uma nova roupagem para o número folclórico.

Além das músicas, o Festival de Parintins é composto por outros 21 itens. Para a execução de cada um, os itens pertencem a três blocos. O “Bloco A” engloba elementos gerais e musicais; o “Bloco B” abrange aspectos ligados à cenografia e à coreografia; enquanto o “Bloco C” concentra-se nos componentes artísticos do evento.

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Bumbódromo em Parintins. Foto: Marcely Gomes/Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa

O fenômeno Isabelle Nogueira

Com a chegada da cunhã-poranga do Garantido, Isabelle Nogueira, ao Big Brother Brasil 24, a notoriedade sobre o Festival de Parintins alcançou máxima repercussão no território brasileiro, ao atingir visibilidade televisiva no centro do maior reality show do País.

Após o sucesso da sua participação no BBB, a Rede Globo chegou a confirmar transmissão nacional do evento por meio do canal pago Multishow e do serviço de streaming Globoplay, que teria sinal aberto para não assinantes.

Ao todo, haveria exibição na íntegra dos três dias de festival, além de uma exibição especial na grade da TV Globo, no dia 7 de julho. No entanto, a emissora voltou atrás e cancelou a transmissão, depois de não conseguir estabelecer um acordo com a TV A Crítica, responsável pela transmissão do festival e detentora dos direitos.

Além do holofote em nível nacional gerado pela dançarina do boi vermelho no programa, a cunhã-poranga reuniu os bois, em meio a uma rivalidade histórica, para fortalecer ainda mais a campanha a favor de sua permanência na casa.

O fenômeno em torno da artista foi tão grande que em maio deste ano, Isabelle Nogueira se tornou Embaixadora do Festival Folclórico de Parintins. Com o título, ela poderá representar o município de Parintins e o festival em eventos nacionais e internacionais, conforme um decreto da Prefeitura de Parintins.

Festival de Parintins vai ser transmitido pela TV Globo pela primeira vez Foto: Reprodução/Instagram via @isabellenogueiraoficial

A importância do Boi

Fundados na década de 1910, a história dos bois Caprichoso e Garantido perpassa pelas ruas de Parintins, quando acontecia uma disputa informal nas ruas da cidade, em defesa das cores azul e branco e vermelho e branco.

O boi é o símbolo central do festival, inspirado no Bumbá Meu Boi do Maranhão, mas com elementos únicos da cultura amazônica. Introduzidos no Amazonas por imigrantes nordestinos no final do século 19 e início do século 20, período do auge da economia da borracha.

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Na época, os nordestinos trouxeram para a Amazônia suas tradições juninas, incluindo quadrilhas, cirandas e, especialmente, os bois, além de uma forte devoção aos santos e mártires.

Para fora dos palcos, a rivalidade entre os dois bois permanece a mesma e perpassa até mesmo pela forma de se referir ao rival. Aderindo ao termo “contrário”, Caprichoso e Garantido não mencionam o nome um do outro, o que reforça ainda mais o confronto folclórico construído ao longo das últimas décadas.

Boi bumbá Caprichoso e Garantido Foto: Divulgação/Sec-AM

Somado ao intercâmbio multicultural, Allan Rodrigues explica que o boi é símbolo nacional, no qual aparece como elemento central em diversas manifestações folclóricas por todo o Brasil.

“O boi é o fenômeno nacional. Mário de Andrade, na sua obra, diz que o boi é o bicho do Brasil, porque ele aparece na cultura popular em todo o País. Você tem o Boi Calemba, o Boi de Orquestra, o Boi Bumbá, o Bumbá Meu Boi, então você tem diversas manifestações folclóricas no Brasil inteiro, cujo boi é o elemento central da festa”, destaca o jornalista.

Ao Estadão, o presidente do Garantido, Fred Góes, ressalta que o Festival de Parintins ocupa um importante espaço na representação cultural.

“Nós sabemos das contradições sociais do nosso País, mas nós não podemos também deixar de mostrar aquilo que afaga mais a nossa autoestima, a autoestima da comunidade de Parintins. O festival leva alegria, a sabedoria artística, a sabedoria da palavra que acrescenta e que não diminui, que eleva e não rebaixa. O fundamento do festejo é esse, é elevar a nossa cultura ao máximo patamar possível“, completou Góes.

Com estimativa de 120 mil turistas na ilha, em 2024, para o 57º Festival de Parintins, segundo o Governo do Amazonas, o presidente do boi Caprichoso, Rossy Amoedo, acredita em uma edição histórica na disputa entre o boi azul e vermelho.

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“Para cada ano que passa, a gente percebe um aumento significativo do Festival Folclórico de Parintins, mas esse ano, especificamente, nós estamos aguardando o maior Festival Folclórico de todos os tempos. Eu acho que essa divulgação nacional, a projeção que o Boi Bumbá teve nos últimos meses acabou, de certa forma, abrindo os olhos de muitos outros turistas que ainda não conheciam a festa”, destacou Amoedo.

Onde assistir?

Após o anúncio de cancelamento da transmissão pela Rede Globo, na última quinta-feira, 13, a dúvida por onde assistir o Festival de Parintins voltou a pairar sobre o público.

Com isso, é possível dizer que a exibição para todo o Brasil continuará sendo possível por meio da conta oficial no YouTube da TV A Crítica, pertencente à Rede Calderaro de Comunicações. Detentora dos direitos de exibição do festival desde 2017, o canal local tem contrato para o festejo até 2025.

As cidades de Belém (40.1), Belo Horizonte (31.1), Brasília (canal 16.1), Cuiabá (47.1), Porto Velho (5.1), Recife (48.1), Rio Branco (9.1) e Rondônia (17), que já possuem o sinal da TV A Crítica aberto, poderão acompanhar a transmissão pelos respectivos canais.

Manaus (canal 4.1), Parintins (12.1), Santarém-PA (canal 10.1), Porto Velho (canal 5.1), Rio Branco (canal 9.1), Araguaína-TO (canal 7.1), Sinop-MT (canal 10.1), Parauapebas-PA (canal 24.1), Belo Horizonte (canal 31.1), São Paulo (canal 17.1), Curitiba (canal 17.1), Campo Grande (canal 20.1), Boa Vista (canal 20.1) e Goiânia (canal 45.1) também poderão assistir a transmissão pelos demais canais.

No canal da A Crítica pelo Youtube, também é exibido os ensaios técnicos dos bois e a passagem de som.

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