Fim de ano letivo e mudança de escola exigem atenção para amenizar eventuais perdas da criança

Mãe compartilha sua experiência ao trocar filha de colégio; psicóloga alerta que não se deve menosprezar os sentimentos do aluno, nem zombar da sua saudade

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Foto do author Paula Bonelli

Neste período do ano, algo comum é que as crianças enfrentem a troca de escola. Esse desafio traz inúmeras sensações. Deixar um ambiente familiar, repleto de amigos e relações, para ingressar em um colégio a ser descoberto pode ser angustiante. No meio disso, as férias prolongam a incerteza. Alguns pais optam por rituais de despedida para marcar a transição com os amigos da antiga escola, enquanto outros acreditam que o melhor é “não enfatizar” o momento.

A psicóloga e professora da FMU, Rosana Zanella, explica que essa mudança envolve um processo de luto. “Quando a criança se despede de algo que era bom, sempre há um sentimento de nostalgia, dor de partida, tristeza e saudade... É importante prepará-la para a mudança. Levá-la para conhecer a nova escola, que será diferente da anterior, mostrar as vantagens e, quem sabe, tirar algumas fotos para rever nas férias e se habituar à ideia. Afinal, mudanças fazem parte da vida: mudar de casa, de emprego, ao crescer; mudar de amigos e até de parceiro amoroso ao longo da vida...”, destaca.

Para marcar a despedida da antiga escola, ela recomenda o uso de frases como: “Vamos dizer tchau a essa escola e a tudo que você viveu aqui com seus amigos, que sempre estarão no seu coração. Os amigos podem ser para sempre”.

Ao entrar numa escola nova, criança pode se sentir insegura e desamparada Foto: TommyStockProject/Adobe Stock

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No último dia de aula, a criança pode levar uma camiseta para que todos os colegas assinem com caneta, guardando essa lembrança. “Essa prática é bastante comum nas escolas e ajuda a lidar com os caminhos que vão mudando...”, afirma Rosana.

“É possível também fazer um cartão e deixar o telefone de um amigo próximo, mantendo a possibilidade de um encontro futuro. Hoje em dia, com celulares e WhatsApp, os contatos com amigos continuam. Há amizades que duram toda a vida.”

É fundamental que os pais não minimizem a dor da criança com frases como: “não é nada essa mudança; logo passa” ou “você é bobo, aquele amigo nem gostava tanto de você”. A psicóloga alerta que não se deve menosprezar os sentimentos da criança em relação à saída da escola, nem zombar da sua saudade. Em vez disso, recomenda diálogos como: “É verdade. É chato. Eu já me senti assim. Você gostaria de falar mais sobre o que está sentindo?”

No novo colégio, pode haver um período de adaptação até que a criança faça novos amigos. A especialista em saúde mental sugere validar as queixas da criança, que pode sentir dificuldade em estabelecer novas amizades. “Demora um pouco, mas vamos devagar; vamos conseguir”, diz ela, ressaltando que a professora e a escola devem auxiliar na inserção do aluno em um novo grupo.

Formar rede de amigos leva tempo e é preciso paciência  Foto: GR/peopleimages.com/Adobe.Stock

“A criança que ingressa em uma nova escola pode chegar insegura, pois os amigos dela ficaram no colégio anterior. Os pais devem conversar com a escola para que a instituição ofereça um acolhimento adequado,” complementa a psicóloga.

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Diante de tantas mudanças, pequenos detalhes podem fazer a diferença. “Na volta às aulas, preparar um material escolar bonito e uma mochila nova pode motivar a criança”, conclui.

Relato das dificuldades de uma mãe ao mudar a filha de escola

A médica Patrícia Bulcão, que reside na zona oeste de São Paulo, passou por esse processo com sua filha de dez anos no ano passado, mudando-a de escola por insatisfação com a proposta educacional do antigo colégio. A seguir, seu depoimento sobre a experiência:

“Foi difícil, inicialmente. O processo começou cerca de 45 dias antes do término das aulas. No início, cometi erros na condução do assunto, o que gerou mais revolta, pois não estava satisfeita com a escola e queria que ela também estivesse. O sentimento da minha filha era de desamparo e perda. Depois, tentei mostrar que a mudança era necessária para seu crescimento e que os amigos que ela fez continuariam ao seu lado.

Os primeiros quatro meses na escola nova também foram desafiadores. Ela sofreu muito, e precisei ser forte para demonstrar que essa mudança era essencial e que a nova escola abriria portas para seu desenvolvimento. Sempre que podia, deixava-a brincar com os amigos da escola anterior, para que percebesse que não havia perdido seus laços.

Também tentava mostrar como era bom conhecer novas pessoas. No entanto, o luto ainda não havia acabado. No segundo semestre, as coisas estavam um pouco mais leves e adaptadas. É um processo que ainda precisa ser trabalhado, para que no próximo ano ela se sinta melhor. Agora, finalmente, ela está com um grupo de novos amigos formado.”

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