Quando Desiree Frederickson, 40 anos, começou a assistir à terceira temporada de The White Lotus, a série logo virou algo pessoal para ela. “Fiquei imediatamente fisgada”, ela disse.
A série da HBO acompanha hóspedes e funcionários da White Lotus, uma rede de resorts fictícia, com esta temporada se passando em Koh Samui, uma ilha na Tailândia.
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Entre os hóspedes milionários estão três mulheres na faixa dos 40 anos que são amigas desde a escola, mas agora vivem vidas diferentes. Jaclyn (interpretada por Michelle Monaghan) é atriz e mora em Los Angeles; Laurie (Carrie Coon) é uma advogada divorciada em Nova York; e Kate (Leslie Bibb) é dona de casa no Texas.

(Alerta de spoilers adiante)
Na frente umas das outras, elas são solidárias e elogiosas. Pelas costas, são mesquinhas, fofoqueiras e competitivas. Em combinações variadas, duas delas se juntam para falar da terceira, uma dinâmica que ressoa com as espectadoras.

“Já estive nesse cenário muitas vezes ao longo da vida”, disse Frederickson, que mora em Fontana, Califórnia. “Já estive em grupos de três, e sinto que às vezes fiquei mais perto de uma do que da outra. Ou fui a pessoa de quem elas falavam, e eu só descobri depois.”
No ano passado, ela enfrentou novas complexidades dos triângulos de amizade. Dez meses atrás, quando teve bebê, uma amiga ficou brava porque outra conseguiu ver a criança pelo FaceTime primeiro. Ela também está tentando fazer as pazes com uma amiga que se sente excluída porque Frederickson e outra amiga passam mais tempo juntas.
“Vamos dizer que a série valida nossos sentimentos”, ela acrescentou, rindo.
Lisa Morse, psicóloga em Manhattan, disse que “na nossa sociedade, muitas coisas da amizade são muito higienizadas. Você vê o Instagram das pessoas e elas estão sempre viajando juntas, todo mundo parece feliz e tudo é muito perfeito”.
No entanto, ela acrescentou, “esse trio de White Lotus mostra algo real das amizades femininas. Vemos tensão e desequilíbrios entre elas, e acho que suas interações e dinâmicas são algo com que quase toda mulher pode se identificar.”
É claro que a dinâmica a três já virou um lugar-comum da televisão. Em Southern Charm, da Bravo, os melhores amigos (ou será que não?) Shep Rose, Austen Kroll e Craig Conover muitas vezes falam pelas costas uns dos outros. Em The Real Housewives of Orange County, vemos a amizade de Tamra Judge, Vicki Gunvalson e Shannon Beador – que se autodenominam “as três amigas” – se desintegrar depois que elas fofocam e falam com crueldade umas das outras.
Morse disse que os triângulos de amizade têm benefícios. “Quando há três pessoas, há mais de tudo”, ela disse. “Mais diversão, mais energia, mais apoio, mais variedade, além do benefício de sentir que você faz parte de um grupo.”
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“Se uma pessoa não está atendendo às suas necessidades, você pode conseguir o que precisa de outra pessoa”, ela continuou. “As opiniões são mais variadas, então pode ser mais interessante.”
Mas, ela acrescentou, três também pode ser algo complicado. “Tem mais drama, mais jogos de poder, mais competição”, ela disse. “Além da sensação de estar sobrando.”
Uma cena de White Lotus que realmente ressoou com Emmeline, florista de 33 anos em Nova York que pediu que seu sobrenome não fosse usado por questões privacidade, foi quando, logo no primeiro episódio, Laurie foi dormir mais cedo e aí começou a chorar quando as amigas continuaram a noite sem ela.
“Sou alguém que a certa altura fica sem bateria social e precisa ir para o quarto”, ela disse. “Mas aí, muito parecido com a personagem, fico me sentindo de fora – uma coisa quase irracional. Já chorei várias vezes por isso.”
Algumas pessoas estão usando a série como catalizador para fazer escolhas de amizade mais saudáveis. “Estou cortando a gordura”, disse Stuart Brazell, 43 anos, repórter de entretenimento e criadora de conteúdo que mora em Los Angeles.
Ela postou um vídeo no TikTok sobre seus sentimentos e ficou impressionada com os comentários dizendo que as pessoas também estavam tentando sair de amizades que lhes faziam mal. “Ver esses relacionamentos na tela é benéfico para todo mundo”, ela disse, “porque talvez seja benéfico dar o fora desses relacionamentos”.
Emmeline também passou pela dor de ser falada pelas costas. Ela ainda se lembra de uma viagem de fim de semana que fez com uma amiga: Emmeline achou que elas tinham “se divertido muito”, mas acabou descobrindo que a amiga sentia o contrário. “No voo de volta, eu estava ótima, aí vi a Amiga B mandando mensagem para a Amiga A, ‘Como foi o fim de semana?’, e a Amiga A respondeu, ‘Bem, pelo menos consegui não matar nossa amiga’. Isso realmente me machucou na época.”
“Foi o começo do fim da minha amizade dentro do trio”, ela disse. “Os trios são difíceis”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.