O Natal costuma ser um convite à reflexão e união - e, muitas vezes, um momento de tensão. Com a proximidade do evento, quando as famílias vão se reunir, é recomendável preparar-se emocionalmente para lidar com parentes com quem se aceitou passar o festejo junto, mas com quem se tem diferença, guarda consigo alguma dor, ou ressentimento.
Em primeiro lugar, o psicólogo clínico e professor da FMU Daniel Soares recomenda não tentar resolver conflitos antigos, que vêm se acumulando ao longo de muito tempo, durante a confraternização de Natal. Não é o momento para isso.
“A convivência com familiares difíceis não precisa ser um campo de batalha, mas ao mesmo tempo também não pode ser uma arena de submissão”, diz. “Se o problema for um parente que adora trazer à tona aquele assunto, que a pessoa prefere evitar – como críticas, comparações com o irmão –, prepare respostas curtas e neutras: ‘Olha, eu entendo o que você está dizendo, mas vamos fazer o seguinte; prefiro não falar disso. Hoje é um dia de comemorar e de falar de assuntos mais leves’”, afirma. É interessante mudar o assunto em um tom calmo e gradativamente trocar o foco da conversa.
A noite de Natal pode ser um caldeirão de emoções. Parentes próximos e mais distantes reunidos, gente com quem se tem afinidade e com quem não se tem. Há famílias que fazem ritual completo com ceia, presépio, reza, troca de presentes. São muitas decisões a serem tomadas para que a festa corra dentro da normalidade. E uma pergunta sempre quica em muitas famílias: é melhor repetir a tradição ou inovar?
“Repetir pode trazer um senso de pertencimento de continuidade, só que inovar muitas vezes pode ser necessário. Principalmente quando a tradição começa a pesar ou não fazer mais sentido para o momento da família”. Ele exemplifica contando de uma paciente que chegou mais ou menos em outubro e estava muito desanimada com o Natal, porque os seus filhos pequenos não aguentavam ficar acordados até a hora tradicional da ceia e a família dela era aquelas que realmente só meia-noite ia começar a comer e só depois que teria a entrega de presentes.
“Essa situação transformava a noite de Natal desta minha cliente em um momento de bastante desconforto e de estresse. Os filhos dela ficavam chateados, com fome e ela tinha que dar um jeitinho para passar por isso. E ela não conseguia se posicionar com esses parentes. Então, nós refletimos bastante na terapia e, de certo modo, eu orientei a expressar o que estava acontecendo e quais eram as necessidades dela e dos filhos para tornar a noite de Natal agradável para todos. Ela decidiu conversar com a família e propôs de antecipar a ceia e fazer a entrega dos presentes primeiro. O que importa de certa forma é que a festa esteja alinhada às necessidades e ao sentido que a família dá nesse momento.”
Sobre os principais riscos das festividades de final de ano, principalmente Natal, ele aponta os excessos de concessões e falta de limites. Para evitar um conflito, a pessoa acaba aceitando tudo; comentários maldosos, piadas de mau gosto, algumas imposições… “Infelizmente nós temos hierarquias dentro das famílias, distribuições de poder, que acabam gerando esse tipo de conflito, isso sem contar também alguns parentes que podem ter traços de personalidade narcisista e que, muitas vezes, acabam literalmente estragando as festividades.”
Humor na internet retrata tretas no Natal
Festas de Natal agitadas com situações bizarras também estão em alta nas redes sociais. O criador de conteúdo Gilson Gomes tem feito sucesso ao postar vídeos e montagens com as tretas nas confraternizações de Natal.
“Nos vídeos mostro situações da vida real, tal como desabafos, revelações bombásticas, brigas no meio da festa, além de danças de um jeito exagerado. Fica divertido porque parece aquela nossa bagunça nas nossas festas de fim de ano. E o sucesso dos vídeos vem disso, das situações que os brasileiros se identificam como discussões com a família reunida na mesa da ceia, as pérolas que as pessoas soltam”, conta.
Ele diz que pega as ideias e dicas dos seus seguidores, que pedem para incluir alguma cena, já que a sua família é pequena e o Natal costuma ser discreto. “Eu acho que todos temos momentos que nos identificamos nos meus vídeos, momentos bons e ruins, o importante é a interação e esse encontro, pois muitas pessoas não podem comemorar com suas famílias por vários motivos, então, o melhor é se divertir com esse momento e comemorar outro ano de união e festas.”
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Lista de recomendações para driblar confusões no Natal
- Se você não tiver como evitar a participação em um desses encontros familiares ou às vezes no ambiente profissional também, que pode ser opressor, vá, mas vá falando o mínimo, apenas o necessário, seja educado. E não crie uma expectativa de que será uma noite incrível.
- Defina as suas expectativas. Tenha clareza do que você quer nessa festa. Foque em passar uma noite agradável e não em resolver um conflito.
- Estabeleça limites respeitosos. Esteja preparado para redirecionar a conversa de uma forma educada em casos de temas que despertem conflitos, por exemplo, política, religião, críticas pessoais e ao estilo de vida.
- Use frases simples, mas que são muito poderosas como: prefiro não entrar nesse assunto hoje; Vamos falar daquela lembrança da infância ou daquela viagem. Até jogos e atividades podem ajudar a levar todos para o mesmo espírito festivo e conciliador.
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