O tribunal de Oslo, na Noruega, proibiu a criação do Buldogue Inglês e do Cavalier King Charles Spaniel. A decisão, aplaudida por defensores dos animais e criticada por criadores, foi tomada para evitar o sofrimento dos pets. Certas peculiaridades presentes nesses cães, como o crânio pequeno ou o focinho muito achatado, podem parecer fofas para os donos, mas diminuem a qualidade de vida deles. Além disso, essas raças costumam ter doenças hereditárias. “Isso acontece pela cruza feita de forma indiscriminada, sem realmente fazer uma seleção genética adequada. Muitas vezes cruzam animais que são de uma mesma linha genética ou até parentes muito próximos”, explica Jade Petronilho, médica veterinária e coordenadora de conteúdos da Petlove&Co. A especialista explica que esses problemas podem acontecer com outras raças. “Quando a gente pensa em criação caseira ou até mesmo criadores de fundo de quintal, normalmente não há cuidado nenhum. Muitos só querem lucrar com a reprodução e vendas de filhotes.” Segundo ela, quando existe uma criação indevida, as chances de doenças hereditárias aumentam. Jade conta que o bulldog “original” era um cão mais alto e com um focinho longo. “Hoje a gente vê cães muito baixinhos, bastante pesados e que desenvolvem uma série de problemas de pele por conta das dobras que eles têm.” Agora com um nariz achatado, essa raça acaba tendo dificuldade para respirar. “Além disso, eles têm as articulações comprometidas por conta do corpo muito robusto, então isso acaba também afetando a questão da locomoção.”
Já no caso do cavalier, o crânio pequeno e a orelha comprida fazem com que ele tenha tendência a sofrer com dores de cabeça e problemas de ouvido. A especialista aponta que essa raça também pode ter a respiração comprometida por conta do focinho achatado. “Praticamente todos os cavaliers possuem também problemas cardíacos que comprometem muito, inclusive, a expectativa de vida desses animais”.
Bem-estar antes da estética
Esses animais costumam ser vendidos por um preço alto e, por conta dessas doenças, os donos acabam gastando ainda mais em tratamentos. Sem contar todo o sofrimento que os bichinhos passam. Jade diz que o veredicto da Noruega deve acontecer em outros países. “Muita gente vai passar a olhar com mais atenção”. Ela reforça que bem-estar e qualidade de vida precisam ser priorizados e levados em consideração antes de pensar na estética do cão. Para Raphael Clímaco, diretor médico veterinário da Plamev Pet, a proibição total pode resultar na extinção dessas raças. “Cuidar melhor dessa reprodução, que hoje não tem nenhum controle, pode ser um caminho”. Como houve pedido de recurso, a decisão, que foi divulgada pelo tribunal de Oslo no último dia 31, ainda não tem força de lei.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.