Todo homofóbico é um gay enrustido?

Omar Mateen, responsável pelo atentado no último domingo, 12, em Orlando, frequentava a boate que atacou

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Por Anita Efraim
Atualização:
O atirador, identificado como Omar Mateen, de 29 anos, é americano e filho de afegãos. Ele mantinha uma página com selfies na rede social MySpace Foto: MySpace/Reprodução

O atirador que matou 49 pessoas, e depois se suicidou, em uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos, roubou a atenção do mundo no último domingo, 12. No decorrer das investigações, descobriram que Omar Mateen frequentava a boate Pulse e tinha perfis em aplicativos de relacionamentos voltados ao público gay.

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Com base nesses fatos, é natural que surja a dúvida: todo homofóbico é um gay enrustido? De acordo com o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do InstituTo Paulista de Sexualidade, não se pode afirmar que as duas características sejam sempre correlacionadas. "Se ele frequentava boates gays e utilizava aplicativos de encontros gays não significa que ele fosse gay, até que se encontre alguém que afirme que teve relacionamentos homossexuais com ele", explica.

Por outro lado, Rodrigues afirma que "podemos pensar que existiram circunstâncias ao redor deste sujeito que produziram esta situação que associava ambas formas de expressão".

Daniel de Barros, psiquiatra e blogueiro do Estadão, diz que, apesar de parecer estranho, é quase uma regra para os homofóbicos questionar a própria sexualidade ao ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando.

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Em seu blog, o médico fez uma referência a um famoso estudo feito nos anos 1990, no qual os pesquisadores instalaram sensores nos pênis de homens que viam vídeos eróticos. O resultado foi surpreendente: os que declaravam maior aversão aos gays, apresentavam maior excitação ao ver cenas de sexo entre dois rapazes.

A relação de Omar com seu pai, que agrediu o filho quando este comemorou os atentados de 11 de setembro, também chamou atenção. Para Oswaldo, a educação dentro de casa pode ser um agravante para o preconceito de Omar se desenvolver, mas o processo é mais complexo que isso. 

"Todos nós recebemos repressão de comportamentos que pareçam homossexuais, mesmo que não sejam, a partir da família. Não é isso que impede de 3% a 5% dos homens de serem gays, e não é de modo simples que essa repressão se torna a homofobia", aponta o psicólogo.

Oswaldo reforça um fato de grande importância em relação a Omar e à homofobia: "Mesmo que fosse um gay, isto não o impediria de odiar homossexuais. O outro igual também pode ser destruído quando o indivíduo produziu e viveu sob regras destrutivas."  

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