Transtornos de Personalidade: quais são os tipos, sintomas e tratamentos

Histriônica, paranóide e antissocial são algumas das patologias classificadas no CID-10; saiba mais

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Tendência a guardar rancores, interpretar como hostis as manifestações amistosas de outras pessoas, frieza emocional e baixa tolerância à frustração são sintomas de alguns Transtornos de Personalidade. Foto: Unsplash/ Annie Spratt

A Associação Americana de Psiquiatria estima que 9,1% das pessoas no planeta tenham algum tipo de Transtorno de Personalidade. A Organização Mundial da Saúde alterou a forma como essas patologias são elencadas na 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11). A CID é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo. Na nova versão do manual psiquiátrico, o capítulo voltado para Transtornos de Personalidade sofreu alterações significativas no conceito e classificação das doenças. “As mudanças têm impacto direto e os profissionais precisarão se adaptar. Os transtornos de personalidade são um assunto diário na psiquiatria forense, por exemplo. A identificação de sua presença, bem como o seu nível de severidade afetarão as conclusões periciais”, analisa o pós-doutor pela University of London Elias Abdalla-Filho, que lança o livro Personality Disorders in the 10th and 11th Editions of the Internacional Classification of Diseases. O psiquiatra e psicanalista deu uma entrevista ao Estadão sobre os sinais, sintomas e tipos de tratamento para as patologias. 

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O que é o Transtorno de Personalidade?

O TP são traços de personalidade que afetam negativamente a relação de uma pessoa com ela mesma (sentimentos de menos-valia; sentimentos crônicos de vazio; dúvidas excessivas, etc.) e com as outras pessoas (comportamento sedutor; indiferença insensível pelos sentimentos alheios; tendência a guardar rancores persistentemente, etc.) a ponto de provocar uma disfuncionalidade em sua vida, de forma parcial ou geral e de grau desde leve até grave.

O que caracteriza um Transtorno de Personalidade? 

O Transtorno de Personalidade é caracterizado pela longa duração dos traços disfuncionais descritos acima. Não se pode diagnosticar um TP baseado em um comportamento isolado de uma pessoa, mas, ao contrário, é necessário um exame longitudinal de sua vida. Se basearmos na CID-10, entenderemos que esse transtorno é permanente, mas a CID-11 muda esse entendimento, afirmando que ele é de “longa duração”, de dois anos ou mais. A nossa experiência mostra que a sua duração é bem maior do que esse período de dois anos que, no nosso entendimento, é curto. 

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Quais são os sintomas dos Transtornos de Personalidade?

Os sintomas apresentados serão os mais variados e estarão na dependência direta do tipo específico de TP, segundo as categorias da CID-10. Dessa forma, é possível perceber, por exemplo: tendência a guardar rancores e a interpretar como hostis as manifestações amistosas de outras pessoas, presentes no Transtorno de Personalidade Paranoide; frieza emocional, afetividade embotada, indiferença a elogios ou críticas no Transtorno de Personalidade Esquizóide; insensibilidade aos sentimentos alheios, baixa tolerância à frustração e incapacidade de experimentar arrependimento no Transtorno de Personalidade Antissocial, e assim por diante.

O psiquiatra Elias Abdalla-Filho lança livro sobre as atualizações dos Transtornos de Personalidade no CID-11. Foto: Amanda Santos

Quais são os tipos de transtorno de personalidade?

A diferença básica entre a classificação dos TPs na CID-10 e na CID-11 é que, enquanto na CID-10 a classificação é categorial, na CID-11 ela é dimensional. Isso significa que a CID-10 classifica os transtornos de personalidade em 10 tipos, nas seguintes categorias: paranoide, esquizoide, antissocial, emocionalmente instável (que se subdivide em impulsivo e borderline), histriônico, anancástica, ansiosa (ou de evitação), dependente, outros transtornos específicos de personalidade e transtorno de personalidade não especificado. Para que uma pessoa receba um diagnóstico de transtorno específico de personalidade, é necessário preencher alguns dos critérios diagnósticos elencados.  Por outro lado, a CID-11 classifica os TPs de forma dimensional nos graus leve, moderado e grave, na dependência da abrangência dos sintomas na vida do paciente ou da intensidade da manifestação patológica. O profissional descreve os traços proeminentes do transtorno, mas não há a obrigatoriedade de se ter um número mínimo de critérios como ocorre na classificação categorial da CID-10. 

Existe diferença entre transtorno mental e transtorno de personalidade?

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O transtorno de personalidade é um dos tipos de transtorno mental (TM), assim como a doença mental é outro tipo de TM diferente do TP. 

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Quais são os tratamentos para Transtornos de Personalidade? Têm cura ou somente uma manutenção dos sintomas?

“Cura” é um termo que não se usa em psiquiatria por dar uma ideia de uma “garantia” contra uma possível recaída do transtorno. O tratamento dos TPs é essencialmente psicoterápico, sendo a terapia cognitivo-comportamental uma das mais valorizadas na literatura específica. No entanto, em alguns momentos mais agudos e na dependência dos sintomas apresentados, os medicamentos podem ser úteis. Exemplos podem ser dados pelo uso de estabilizadores de humor ou antidepressivo em pacientes borderline. Considerando que estes últimos podem chegar a apresentar flashes psicóticos, não se descarta a possibilidade de uso de medicamentos antipsicóticos em baixas doses, o que também pode ser usado em TPs com sintomas fortemente paranoides.  Uma consideração importante a ser feita quando se aborda esse tema de personalidades transtornadas, refere-se à psicopatia. O psicopata não está preso a nenhum tipo específico de TP, embora durante muito tempo vários psiquiatras associavam-no ao TP antissocial. Hoje se sabe que pessoas narcísicas, por exemplo, podem adotar um comportamento psicopático bastante preocupante. Essa população representa um verdadeiro desafio para a Psiquiatria, tanto clínica quanto forense. Assim, não existe um tratamento reconhecido como eficaz para os psicopatas e a avaliação de sua imputabilidade penal é tema de bastante polêmica na esfera forense. Porém, esse é um capítulo à parte. 

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