Quem nunca sentiu inveja daquela tia no churrasco, desfilando de Crocs?

Não, eu não me envergonho de usar Crocs. E, ainda por cima, gosto deles. Para quem não está familiarizado, os Crocs são criaturas híbridas entre sandália, tamanco e queijo suíço, feitas de uma borracha leve e fofa. Com seu design que desafia as leis da estética e sua paleta de cores que parece saída de uma prateleira de jujubas, os Crocs foram de piada a ícone. Eu, logo de cara, embarquei de corpo, alma e calcanhar nesse barco furado, mas superconfortável. A moda pode me julgar, aquele barista do café hipster pode levantar suas sobrancelhas tatuadas, mas sigo firme no meu Crocismo.
Primeiramente, é preciso louvar o conforto. Usar Crocs é como pisar em travesseiros de nuvem. Enquanto os outros estão ali, torturando seus metatarsos em sapatos sociais, eu caminho como um deus romano da ergonomia. Quem precisa de dignidade quando se pode ter conforto ortopédico?
Tudo bem, o visual não é dos melhores. Eles têm o charme de uma torradeira. Mas, veja bem, isso os torna invisíveis para o julgamento estético alheio. As pessoas olham e pensam: "Isso não pode ser sério." E é aí que está a graça da coisa.
Outro motivo pelo qual não me envergonho é a praticidade. Choveu? Crocs. Vai ao supermercado? Crocs. Precisa fugir de um apocalipse zumbi? Crocs. E eles têm furos. Sim, são sapatos ventilados. Ar-condicionado para os pés.
E ainda vêm com o modo "esporte", aquele momento mágico em que você gira a tirinha para trás do calcanhar e se sente pronto para correr uma maratona ou, no meu caso, subir as escadas sem tropeçar. Essa versatilidade deveria ser considerada patrimônio cultural da humanidade.
Certa vez, fui a um casamento no campo usando Crocs. Era aquele estilo rústico-chique, onde você deve parecer que saiu direto de um catálogo da Zara Agro. Como eu havia aposentado meu sapato social, optei pelos Crocs pretos: bem discretos.
Tudo ia bem até começar a chuva. Em pouco tempo, o gramado virou pântano. Saltos afundavam, a noiva caiu. E eu? Deslizava com graça de patinador. Resgatei até uma senhora atolada que gritou: "Mas como você consegue andar nessa lama?" -- e eu: "Crocs, minha senhora, Crocs."
Agora, sejamos honestos: quem nunca sentiu inveja daquela tia no churrasco, desfilando de Crocs e sem nenhuma preocupação com o mundo? Aquela aura de "eu já vi demais pra me importar com sua opinião"? Um dia, todos seremos ela.
Então sim, eu me ufano dos Crocs. E os celebro. Porque, num mundo onde tudo precisa ser bonito, ajustado, planejado, o Crocs é a prova de que, às vezes, o feio é tão livre que dá até vontade de dançar. Mas, de preferência, com meia.