O nome do vício agora é "Risos no hospício".
Eu sei, muito pouca gente lê nos dias de hoje. Eu sei; dentro dos poucos que leem, pouquíssimos dão valor a textos de humor. Sim, eu sei, o autor sofrer de incontinência verbal e ficar lançando livros como quem cospe sementes de melancia na terra não é nada positivo para sua carreira.
Eu sei disso tudo e mais: sou um sujeito que produz material "perigoso". Ou seja, não concorro a prêmios, não sou congregado de nenhuma academia ou igrejinha, e tenho uma enorme preguiça de dar entrevistas. Pior: não tenho TikTok e nem faço ideia de como usar o celular para gravar vídeos promocionais.
Em outras palavras, eu sei que meu 18º livro, se vender alguma coisa, não vai dar para pagar nem o revisor, quanto mais meu aluguel.
Então, por que ficar insistindo no erro desde 1996, quando estreei no mundão das letras com "Aqui jaz - o livro dos epitáfios"?
Masoquismo é a primeira palavra que vem à cabeça. Obsessão é a segunda. Vaidade, a terceira. Não creio, entretanto, que elas expliquem claramente o que acontece comigo - o buraco na camada de teimosia é mais embaixo.
Você, leitor viciado em drogas, talvez me entenda melhor do que os outros. Literatura é uma espécie de crack sem cachimbo. Uma vez que o indivíduo pegou a brisa, um abraço, não tem mais volta ao coro dos contentes. O seu material pode ocupar o último lugar da lista da Quatro Cinco Um, você pode ser esnobado pela FLIP, pelos editores do Suplemento Pernambuco, sua pessoa nunca será mencionada nos papos da turma da Ria Livraria, mas não tem nada: como um autômato, você vai voltar aqui e anunciar, com a boca cheia de dentes, que está com mais uma brochura na praça.
Doença ou não, sem mágoas, estamos aí. O nome do vício agora é "Risos no hospício". Está em pré-venda e fica pronto para ser despachado ao seu lar em um mês. O título é uma alusão ao livro do grande (e, infelizmente, desconhecido) frasista Dom Rossé Cavaca, pai do clássico "Um riso em decúbito".
A minha nova mania tem 53 crônicas e 104 aforismos. Separei uma das postagens que mais gostava por semana e duas frases selecionadas do mesmo período, e antologizei. A maioria dos textos saiu aqui no Estadão, os epigramas estavam principalmente no meu perfil Casteladas.
Para uma crônica tão desencantada sobre um lançamento, acho que já escrevi demais. Deixo então um autor falar por mim no final:
"Otto Lara Resende contava do dia em que, diante das alarmantes notícias sobre uma greve geral, o amigo Rubem Braga lhe telefonou e convidou-o a ir ao Bar Luiz. 'Vamos ver a crise de perto', propôs. O episódio ilustra a peculiar lógica do cronista. A ele interessam as miudezas, que quase sempre, num aparente paradoxo, têm o poder de iluminar o quadro geral. Pois Carlos Castelo é um dos mais brilhantes em atividade. Seja nas máximas cheias de verve e ironia, seja nos textos mais longos, papeia com o leitor como se estivesse à mesa do bar, de bermuda e chinelos, sob a brisa fresca da tarde. Se há forma melhor de se conversar, desconheço."
(Marcelo Moutinho)
Só um último detalhe: apesar de tudo, compre o "Risos no hospício" lá no site da Urutau - preciso manter meu vício.
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