Faltam 161 dias para o fim da próxima Conferência do Clima (COP), que acontece em dezembro, em Copenhague. Esse é o prazo para que o mundo conheça o regime político que guiará os governos para uma economia descarbonizada no século 21, a fim de evitar os piores aspectos do aquecimento global. Contudo, a sinalização que sai da reunião das 17 maiores economias é fraca. O que o G-8 propôs - corte global de 50% das emissões de gases-estufa até 2050, corte de 80% pelos industrializados e forte comprometimento dos emergentes - não traz novidade. Que os países ricos precisam fazer mais, e que os emergentes precisam fazer algo de fato, todos concordam - a questão é quando, como e quem paga. Além da meta para o meio do século, é preciso trabalhar com ações de médio prazo, como falou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, é esperado aquecimento de 0,2°C por década - 0,1°C se as emissões de gases-estufa fossem congeladas como eram em 2000, o que não acontecerá. NA PRÁTICA A disputa pela hegemonia tecnológica - e, portanto, econômica - regional e global emperra as negociações. Descarbonizar a economia significa mexer na base energética dos países, manter florestas intocadas e quebrar os padrões de consumo ocidentais ricos tão ambicionados pelos pobres do Ocidente e Oriente. Isso tem um custo alto - 2% do PIB mundial, segundo o economista Sir Nicholas Stern -, porém menor do que o da inação ( até 20% do PIB mundial). O que está em jogo é quem vai perder menos e quem pode ganhar mais. Os países industrializados são os mais responsáveis pelo problema, pois cresceram à custa do planeta. Pagam mais caro, com taxas de redução de emissão. Os emergentes e os pobres querem trilhar o caminho do desenvolvimento, porém manter o mesmo modelo não é viável. Para crescer, contemplar suas populações pobres e não poluir, querem ajuda. Os ricos concordam no discurso, mas não apresentaram propostas de financiamento e transferência de tecnologia. "É uma briga de cachorro grande, com muitos interesses por trás, pela mudança no paradigma de desenvolvimento", diz o diretor executivo do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado. A transferência de conhecimento é o item mais espinhoso. Novas formas de geração, armazenamento e transferência de energia têm o potencial de ser a base da economia de grandes nações em um mundo sem carbono - e os EUA, com sua lei da energia, em análise no Senado, caminha nesta direção, em um futuro com menor subsídio à agricultura e maior à indústria. A China também está de olho neste mercado para se tornar líder, pelo menos regionalmente. Mas está aquém da capacidade americana e com imenso passivo ambiental - é hoje o maior emissor de gases-estufa. Havia expectativa de que o cabo de guerra fosse afrouxado com a nova direção americana. Maior contribuidor histórico para o problema, os EUA mostram liderança (de Barack Obama), arcabouço (lei de energia) e base política para contribuir no debate. "O país mais poderoso do mundo está mudando radicalmente de lado, o que tem uma influência brutal nos demais", avalia o cientista político Sergio Abranches. "Os outros vetos ficarão mais visíveis."
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