No Estado de São Paulo, 123 dos 731 cursos avaliados pelo Ministério da Educação (MEC) vão ser vistoriados por causa do baixo desempenho. Destes, 28 são da capital. A avaliação trouxe surpresas em relação a instituições tradicionais, que tiveram queda no desempenho do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). O maior exemplo foi a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que teve notas mais baixas nos cursos de Medicina, Enfermagem e Biomedicina, áreas nas quais é reconhecida. Em 2004, o curso de Medicina, ligado ao Hospital São Paulo, havia ficado com 5, a nota máxima. Em 2007, caiu para 3. "Foi boicote. Uma parte dos estudantes decidiu não fazer a prova em protesto e entregou os exames em branco", afirma Luiz Eugênio Mello, pró-reitor de Graduação da Unifesp. "Não percebem que, assim, prejudicam a própria instituição em que estudam", diz ele. De acordo com Mello, a instituição pretende discutir com os coordenadores de curso e com os alunos a relevância da participação em avaliações internas e externas, para tentar diminuir a rejeição dos alunos e aprimorar o processo. Com isso, no entanto, nenhuma instituição superior que oferece cursos de Medicina no Estado conseguiu obter nota 5. A Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e a Faculdade de Medicina de Marília, ambas com notas 5 no Enade de 2004, caíram para 4 na última edição. A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ambas com cursos de Medicina, não aderiram a nenhuma edição do exame. Entre os cursos com melhor desempenho, destacaram-se o de Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e o Curso de Odontologia da Unesp de Araquara, que obtiveram nota máxima nos três conceitos avaliados pelo MEC. "A grande maioria dos nossos professores são doutores. A ênfase na pós-graduação tem tido impacto direto na qualidade do ensino", destaca José Claudio Martins Segalla, diretor da faculdade. O curso de farmácia da Faculdade Oswaldo Cruz, oferecido na cidade de São Paulo desde 1981, foi o mais bem avaliado entre as instituições de ensino privadas do Estado. Teve nota máxima 5 em dois dos conceitos avaliados pelo MEC. Com cerca de 500 alunos e mensalidade média de R$ 1,3 mil, o diferencial do curso de Farmácia, segundo o diretor-geral da instituição, Carlos Eduardo Quirino, é o alto nível dos alunos e professores. A disputa por uma vaga gira em torno de 13 candidatos e mais de 90% dos professores são mestres, doutores e pós-doutores. "Acredito que a valorização e autonomia do profissional é fundamental para a boa qualidade", afirma. Um professor em fim de carreira ganha R$ 98 por hora/aula dada na universidade. Sobre os alunos, Carlos Eduardo afirma que a faculdade se esforça em criar um ambiente consistente para que os alunos entrem com a convicção de que vão aprender. A alta empregabilidade é destacada pelo diretor-geral, que afirma que já no 3º ano de curso a instituição não tem mais estagiários para indicar às empresas que procuram. "Fico frustrado quando ouço a palavra cliente. Universidade tem que tratar estudante com respeito, mas com exigência. Conceito de educação tem de ser bem sólido." A Faculdade de Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, teve 5 em dois dos conceitos avaliados pelo MEC, e aparece no topo do ranking das instituições de autarquia municipal. Na outra ponta, o curso de Educação Física da Escola Superior de Educação Física da Alta Paulista (Esefap), em Tupã, foi um dos piores, com nota 1. O diretor-geral da faculdade, Robinson Ricci, afirmou estar surpreso. "Os números simplificam demais. Tupã é a terceira região mais pobre do Estado. A prova não valoriza as pequenas entidades. Não temos, como outras, condições de investimento." Na capital, o curso de Nutrição da Universidade Bandeirante (Uniban), em Osasco, está na lanterna do ranking, com nota 1, numa escala de 1 a 5. Em comunicado, a instituição afirmou que os alunos tiveram desempenho acima do esperado, o que pode ser constatado comparando-se as notas do Enade com as do IDD, que mostram a evolução do perfil de conhecimento entre os alunos ingressantes e concluintes.
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