Amores, desamores, castigos, perdões, esses sentimentos todos (e às vezes tolos) que movem o homem e a mulher.
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SADOMASÔ
O amor então nos juntou
E chicotadas nos deu.
Alguém quer mais?, perguntou.
Nós gritamos: eu, eu, eu.
PRÓ-FORMA
Se o amor nos traz na coleira
É apenas para jactar-se.
Quem cometerá a asneira
De querer dele livrar-se?
VENENO
Estamos mortos, porém
O amor vem com seu jeitinho
E nos aponta o vidrinho:
Quer mais um pouco? Ainda tem.
PERDÃO
Pedir-te perdão por quê?
Pedir perdão por te amar
O mesmo seria que
Pedi-lo por respirar.
SEXO
Não mais o retinir de espadas, o fragor
Encarniçado da batalha pela nau.
Agora, só um vento leve, sem calor,
E uma bandeira esfarrapada, a meio pau.
BARGANHA
O quê? Dar pelo meu ouro
O teu saco de farinha?
Te pergunto, meu tesouro:
Na bundada não vai ninha?
LACUNA
Esta verdade absoluta
Não nos ensinam na escola:
O amor é um filho da puta
Que ou nos mata ou nos esfola.
CHEEK TO CHEEK
E lá pelas folhas tais
Uma romântica alface
Com seus volteios sensuais
Dança com outra, face a face.
JULIANNE MOORE
Hoje não me lembrava
do nome da atriz
que às vezes acho que tem
e às vezes acho que não
olhos como os teus
e igual nariz
Quando finalmente lembrei
me senti abençoado
como se tivesse
pecado contra ti
o pecado mais horrível
e tivesses me perdoado.
EVOÉ BACO
No tempo em que eu entornava
Copos, tonéis e barris,
Líquido nenhum poupava,
Nem mesmo os pingos dos is.
CARTOGRAFIA
Tocados pela artrite
boiam adernados os dedos
que em antigos dias
percorriam geografias
golfos umbigos
coxas baías
grutas segredos
envoltos em mornos mares
e maresias.
ASPIRADOR
Sentado aqui no sofá
Está alguém triste e só,
Alguém que veio do pó
E que ao pó retornará.