Parece óbvio: para vender, tem que ter!
A questão é que os desdobramentos dessa frase são bem complicados para os negócios de moda. Esse é provavelmente o setor mais complexo em termos de gestão de estoque: são muitos modelos, desdobrados em cores e tamanhos. Para complicar um pouco mais, parte ou a totalidade dessas variações de produtos são substituídos a cada coleção.
As marcas ou varejistas de moda precisam tomar decisões antecipadas em relação a quais e quantos produtos oferecerão aos seus clientes.
Quando muito, as empresas têm, a seu favor, informações de vendas das coleções anteriores, organizadas por categorias, estilos, cores, tamanhos. São muitos dados e uma enorme complexidade de análise - mas é fundamental para tornar mais assertiva a decisão sobre estoque da próxima estação.
Além de "olhar para dentro e para trás", a empresa também deve olhar para fora e para frente. O que está acontecendo com o mundo, no que se refere a tendências de consumo? Como o ambiente concorrencial do meu nicho está se comportando?
E ainda é fundamental definir um cronograma para recebimento de produtos, pensando na coerência do mix de cada entrada e na cobertura de estoque. Não é pouca coisa, certo?
Mas ainda não acabou. Depois que a "bola começa a rolar", ou seja, que os produtos são lançados e começam a vender, vale uma análise constante da evolução desse estoque. O que está vendendo mais rápido? Quais produtos já estão com grades desfalcadas? Quais produtos não estão com bom desempenho?
O varejista de carteirinha tem quase que uma compulsão por olhar esses números. Alguns checam mais de uma vez por dia. Eu diria que uma boa base seriam análises semanais... Isso com o objetivo de ajustar ações de marketing e vendas para favorecer produtos com estoque adequado. E, sempre que possível, avaliar reposições dos produtos cuja venda foi rápida demais.
Vale lembrar que, em moda, o tema "reposição" é delicado, já que os prazos de produção não são tão rápidos, que materiais e cores são descontinuados, que um produto desejado hoje pode ser totalmente ultrapassado em breve.
Considerando todos esses fatores, fica claro que, em muitos casos, a dificuldade de aumentar vendas está mais ligada a abastecimento do que a outros aspectos comerciais. E o diagnóstico certo só vem quando sabemos exatamente qual o giro e qual a situação de desfalque de estoque de cada produto.
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