O Met Gala é um dos eventos mais importantes para a moda há décadas. Seu início se deu em 1948 como uma forma de angariar fundos para o Metropolitan Museum of Art (MET), sediado em Nova Iorque. O baile marca o início da exposição anual do Costume Institute do MET, e segue seu tema.
Esse ano a exposição tem como tema a obra de Karl Lagerfeld, um dos estilistas mais renomados por seu trabalho em casas como Fendi, Chanel, além da grife com seu próprio nome. Difícil questionar o valor de sua obra, mas muito se discute sua postura como personalidade.
Além da figura icônica amplamente conhecida, Karl assumiu posições arriscadas em relação a temas delicados como religião, diversidade, uso de pele animal, entre tantos outros.
Sua carreira começou em meados do século passado. Seu primeiro desfile foi em 1958 e foi atuante até sua morte, em 2019, quando ocupava o posto de diretor criativo da Chanel.
Posturas questionáveis como a de Karl passavam desapercebidas em outros tempos. Mas a grande controvérsia do Baile do Met esse ano foi: é adequado homenagear Karl, considerando os novos tempos?
Dessa questão, se abrem muitas outras... Uma delas é a separação entre obra e artista. A própria organização destacou inúmeras vezes a ideia de que a homenagem se dá pela obra.
Mas a questão que eu gostaria de provocar aqui é sobre como é desafiador para as marcas lidarem com a complexidade dos temas da contemporaneidade.
Estar no Met Gala é um momento importantíssimo para qualquer marca, seja uma marca de moda ou uma marca pessoal, na figura de celebridades. A marca que vista uma celebridade para o evento terá foto e nome repetido em milhares de meios de comunicação para uma audiência global.
Algumas escolheram cuidadosamente seus looks e mensagens. Diversas celebridades usaram rosa, cor notoriamente reprovada pelo estilista, provavelmente como forma de mostrar suas opiniões sobre a escolha do homenageado da vez.
Em um mundo complexo, um dos eventos mais importantes do mundo da moda não escapa das polêmicas e expectativas sobre posicionamento das marcas. O tema do baile, os looks e suas marcas ainda são o assunto mais comentado, mas são levantadas cada vez mais camadas de interpretação.
Não basta ser uma grande marca de moda, conhecida por seus produtos impecáveis e originais. O mundo de hoje carrega consigo a expectativa de identificação em valores mais profundos.
Marília Carvalhinha é coordenadora da pós-graduação em Fashion Business do Centro Universitário FAAP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.