José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, lançou nesta terça-feira, 20, seu livro de memórias O Lado B de Boni, em São Paulo. O evento ocorreu na Livraria da Travessa, no Shopping Iguatemi, zona sul da capital, e contou com uma longa sessão de autógrafos do ex-diretor da Globo. Uma legião de famosos abrilhantou a ocasião e muitos deles falaram rapidamente com a reportagem do Estadão sobre o momento de celebração, em contraste ao luto da nação pela morte de Silvio Santos, outro pai fundador da TV brasileira.
“Eu acho que é sempre um sopro de vida, como diria Clarice [Lispector]. São homens que são pilares da nossa cultura audiovisual. Então a gente vem aqui dizer ‘muito obrigado, meu amigo, por você não ter desistido, estar fazendo o livro e contando a nossa história’. No momento em que a nossa história corre o risco de ser apagada, ele pode contar a história”, disse a atriz Cristiane Torloni.
Os irmãos atores Cássio e Tato Gabus Mendes também destacaram o valor dos dois mestres. “Às vezes quando a gente vai ficando um pouco mais velho, lamentamos porque as pessoas estão indo embora, né? E é assim a vida. E o Boni, sem dúvida, talvez seja a pessoa mais importante da nossa televisão”, falou Cássio. “O Boni era muito amigo do meu pai [Cassiano Gabus Mendes]. Não tem o que falar em relação à qualidade que ele implantou na TV Globo, em todos os sentidos, direção, produção, direção de arte, modernidade. Um gênio”, acrescentou Tato.
O apresentador Amaury Jr chegou a relembrar uma história inusitada entre os dois símbolos da TV. “O Boni foi sócio do Silvio Santos por 24 horas. Ele ia assumir 50% do SBT e o Silvio ficaria com os seus 50%, só que havia uma cláusula no contrato de que o Silvio não poderia interferir na programação. O contrato durou 24 horas, o Silvio refletiu e falou: ‘eu não posso manter essa minha assinatura, porque eu não vou saber viver longe da programação do SBT’. O que aconteceu? O contrato foi rompido, sem nenhuma mágoa, com muitas risadas”.
“O Silvio foi uma das pessoas mais importantes, não só na comunicação brasileira, mas também de caráter, de humildade, de perseverança. E o Boni é responsável por tudo que há de qualidade na televisão brasileira. Eu sou muito grato por tudo que ele fez por mim”, afirmou Eri Johnson.
Afastado das novelas desde 2017, Juca de Oliveira, aos 89 anos, também marcou presença para enaltecer o homenageado da noite. “Nós temos consciência de que a cultura brasileira depende muito do Boni. Ele foi um grande criador, aquilo que nós fazíamos era semanalmente modificado no sentido de você aprimorar culturalmente os escritos, de que a montagem do espetáculo fosse cada vez mais refinada, avançando sobre a cinematografia, como uma coisa brilhante e nova, e tudo você tinha a presença do Boni como o grande artífice”, explicou.
“Quis vir aqui privilegiar porque eu acho que esse tipo de cara nunca mais vai ter”, falou o ator Thiago Fragoso, corroborado pela colega Leona Cavalli. “É uma homenagem muito justa, porque ele fez a diferença realmente na história da televisão brasileira”.
Os gigantes da atuação Glória Pires e Antônio Fagundes foram os mais requisitados pelos fãs que estavam no local. “Boni é a nossa pedra fundamental. Estou louca pra ler o livro, porque eu tenho certeza que é uma bíblia pra quem faz audiovisual”, disse Glória. “É sempre bom rever um grande amigo e o livro deve ser delicioso”, complementou Fagundes.
Fúlvio Stefanini, aos 84 anos, disse que era “impossível” não ter ido. “Boni colocou a televisão num patamar internacional de grande qualidade, é uma pessoa especialíssima. O Boni ainda está presente e ainda é influente demais”, comentou.
A dupla que imortalizou o programa Sai de Baixo, Miguel Falabella e Marisa Orth, também passou para prestigiar o antigo chefe. “Boni foi um grande facilitador e propiciador do programa. E desde a minha primeira novela, foi um cara que controlou a Globo toda de um jeito humano, legal”, disse Marisa. “É o homem que fez a carreira de todos nós”, pontuou Falabella.
Moacyr Franco, de 87 anos, foi saudosista. “A sensação de vir aqui é a de encontrar o começo. O Boni é muito mais importante na minha vida do que tudo. Porque nós começamos juntos na TV Excelsior. Caminhamos juntos por muitos anos. Estou vindo aqui, querer saber dele por que mais um ‘encerramento’. Ele é assim: mais um livro, mais um ‘encerramento’”, disse o cantor de Soleado.
O maestro João Carlos Martins ficou feliz de saber que foi citado no livro. “O Boni é realmente a pessoa que estruturou a palavra televisão em nosso país. Ele é um símbolo de perfeccionismo e o vejo aos 80 anos sempre com ideias. Ele acabou de me contar que estou no livro dele. Meu Deus do céu, que orgulho que eu fiquei”.
Por fim, Boni falou sobre a sensação especial de receber e reunir tantos astros no local. “É sempre um prazer porque o objetivo do livro foi realmente agradecer todas essas pessoas. Uma homenagem aos artistas brasileiros de todos os aspectos que me ajudaram a realizar o sonho. Mas acima de tudo eu não me sinto lisonjeado. Pelo contrário, sinto que eu tive a oportunidade de fazer um ato de gratidão por todos os artistas brasileiros”.
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