Você certamente acompanha, ou pelo menos conhece, algum influenciador com esse perfil. Enquanto a maioria das personalidades do mundo digital adora se exibir, há outras figuras de destaque que encontraram um meio de entretenimento diferente, e que vão totalmente na contramão de uma grande exposição. Eles optaram em não mostrar o rosto nas redes sociais, contudo, fazem sucesso e têm milhões de seguidores. E quem são eles?
São influenciadores que produzem conteúdo sobre diversos assuntos, divertem e interagem com os seguidores em situações cotidianas que levam as pessoas a se identificarem com a temática de humor que abordam. Um, faz sucesso com um fantoche simples, feito de meia, que tem expressões faciais que vão da neutralidade ao desconforto, em situações que criam conexões no cotidiano de quem acompanha, principalmente para quem é introvertido. Outro, traduz expressões e ditados tipicamente brasileiros para o inglês, como uma espécie de manual informal do jeitinho brasileiro pra gringo nenhum ficar de fora da nossa cultura, e por fim, o último perfil diverte e recria situações típicas do mundo corporativo, com um toque de acidez e muito bom humor, que abraça desde o estagiário até o CEO em tiradas em sua maioria passadas no condado mais conhecido do Brasil, a Avenida Brigadeiro Faria Lima, principal centro empresarial de São Paulo. São eles: o Senhor Alguém, Greengo Dictionary e o Festa da Firma.
A ideia de criar um fantoche de meia, ou o Senhor Alguém, nasceu da mente de Victor Nogueira, que trabalha com criação de conteúdo na internet desde 2009. Com a descoberta do mundo dos blogs, ele viu a possibilidade de trabalhar escrevendo e desenhando, chegou a criar tirinhas no Facebook em 2012, mas foi com o Senhor Alguém que alcançou 1 milhão de seguidores no Instagram, apostando em recriar situações hilárias que faz com que seus seguidores se identifiquem. “Como a internet foi mudando e o vídeo se tornou a principal ferramenta de propagação de conteúdo, eu tive a intenção de produzir algo em vídeo mas, ao mesmo tempo, eu nunca tive interesse e nem aptidão para aparecer”, confessa Victor. O influenciador continua dizendo que a timidez não o inibiu de querer criar conteúdo, o encanto pelo mundo digital que fez com que o protagonista de suas histórias fosse um fantoche.
A ideia de criar um personagem minimalista com expressões faciais neutras aconteceu pela vantagem de Victor não precisar se mostrar. “Eu posso ir a qualquer lugar e continuar sendo eu mesmo, sem aparecer. Umas das principais coisas que eu gosto no meu projeto é que por mais que eu tenha mais de um milhão de seguidores, eu posso guardar ele (o fantoche) e mostrar quando eu quiser”, confessa Victor. A inspiração para recriar situações do cotidiano, segundo o influenciador, vem de acontecimentos relacionados à timidez e à introversão. “Tem um vídeo que alguém deu uma carona pra ele (O Senhor Alguém). Ele entra no carro e essa pessoa simplesmente esquece que ele está lá e vai embora. Ele fica com vergonha de dizer que passou do ponto que ia descer. Essa é uma situação que aconteceu comigo e quando eu recriei no vídeo, eu vi que muita gente já passou por algo parecido”, relembra Victor. O influenciador continua dizendo que muitas das inspirações que tem para fazer o conteúdo do Senhor Alguém, vem das respostas dos próprios seguidores, que interagem contando histórias nos comentários das postagens ou respondendo aos stories nas redes sociais. “As mais variadas ideias vêm do público também”, relata.
A interação com o público também deu o pontapé inicial para o goiano Matheus Diniz criar o perfil Greengo Dictionary. Foram postagens no Twitter, convidando o público para traduzir expressões, na intenção de praticar o idioma, que iniciou o perfil. “Eu fiz um tuíte bem simples dizendo algo assim: ‘traduza expressões do português para o inglês’ e assim nasceu, depois de muitas interações”, relembra Matheus, que por meses ficou planejando o conteúdo.
“No início as ideias vieram muito dessa trend que eu tinha feito no Twitter, eu vi quais tinham sido as sugestões mais engraçadas e construí o conteúdo em cima disso. Depois, num segundo momento que eu já tinha a página, as pessoas começaram a me mandar mensagens diretas com sugestões que não eram mais de expressões, mas de toda a cultura brasileira, então é muito importante que essa inspiração venha do público no Brasil e até do exterior, porque tem muitos brasileiros que seguem a página, mas moram fora do País”, relata Matheus, que enfatiza que o conteúdo é bem participativo com o público da página, que envia imagens de palavras em outros idiomas, que na tradução para o português são expressões com duplo sentido ou têm um significado diferente na nossa língua.
Uma das formas que Matheus interage com o público é com críticas ao governo sobre a atual situação do Brasil, o que o influenciador considera parte fundamental do seu trabalho. Ter o anonimato torna-se uma forma de se manter seguro. “Eu vejo críticas políticas como válidas independente do tempo que estamos. O importante é criticar quem precisa ser criticado, independente de quem estiver no governo. A própria página reflete o Brasil. Vai ter coisa engraçada, vai ter coisa leve e ao mesmo tempo vai refletir coisas desagradáveis. Para mim é uma válvula de escape para poder me expressar. Eu busco deixar isso da maneira mais leve e debochada possível.”, pontua o influenciador.
Matheus relembra que a postagem com mais engajamento da página que administra foi sobre o Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS), que compara as despesas para tratamentos médicos nos Estados Unidos e no Brasil. “Esse é um assunto muito sensível tanto para quem é de direita, quanto para quem não é. Esse post gerou muita polêmica, muito debate, foi aclamado e odiado na mesma proporção”. Apesar da polêmica, Matheus confessa gostar dessa interação com o público, seja de quais espectros políticos forem.
Outro perfil que também causa burburinho nas redes sociais e é o mais amado do mundo corporativo é o Festa da Firma. O fundador da página, que prefere não ser identificado, trabalha numa multinacional em consultoria e lidera projetos no mercado financeiro, entre outros nichos. Ele conta que a ideia surgiu num grupo de amigos no WhatsApp.
"A gente percebeu que em alguma hora do dia alguém reclamava dos perregues que tinha passado no trabalho, não importava se fosse no mercado financeiro, num escritório de advocacia, numa multinacional ou consultoria. Todo mundo passava por um problema e se queixava no nosso grupo de amigos”, relembra.
Foi, então, que surgiu a ideia de criar uma página para ironizar situações no mundo corporativo, deixar o dia mais descontraído e o trabalho mais leve. O influenciador, que tem dois amigos que ajudam a administrar a página, conta que recebe de 300 a 350 marcações por dia, de situações de dificuldade, gente trabalhando nas férias, desabafos, entre outras.
“A inspiração vem das situações que vivemos todos os dias, no nosso trabalho. Tem aquele cliente que aparece de última hora pedindo um trabalho urgente, tem aquele chefe que não para de cobrar, então todas essas situações a gente usa como fonte para trabalhar nos nossos memes”, conta.
O influenciador, que é bem discreto na empresa em que trabalha, relata que já viu pessoas comentando o conteúdo do Festa na Firma nos arredores da Avenida Brigadeiro Faria Lima. “Às vezes você pega o elevador, para em outro andar, com pessoas completamente desconhecidas e elas comentam na hora do almoço: ‘vocês viram o post do Festa da Firma de ontem?’ E eu to lá, quietinho no elevador, só ouvindo. Eu sinto que eu sou o desconhecido mais conhecido do mundo corporativo”, brinca ele.
O fundador ressalta que uma das preocupações da página é compartilhar temas que possam ajudar na saúde mental dos firmandos, nome que é dado aos seguidores do Festa da Firma. “Nossa preocupação é sempre pela saúde mental da pessoa, então, quando tem uma notícia ou postagem interessante sobre o tema, a gente gosta de compartilhar com os nossos seguidores também”.
Ele continua dizendo que não imaginava o sucesso que o perfil faria e conta como surgiram alguns dos termos mais usados na página, como a Super Terça, que nasceu de um áudio num grupo de WhatsApp. “Segunda-feira a pessoa ainda está meio baqueada do final de semana, tocando as coisas meio de lado, a terça é o dia que não tem pra onde fugir, na quarta já tem o futebol, quinta é dia de happy hour, sexta-feira é o sextou, então quem não fez, só semana que vem”.
O fundador do Festa da Firma finaliza dizendo que as sátiras feitas com figuras específicas tem o intuito de divertir. “O farialimer virou um estereótipo. É só passar pelo miolo financeiro que você vai ver todo mundo de colete, cabelo jogado pra trás, de patinete, então é mais uma forma de brincar que acabou virando meme. Não agrada todo mundo, mas a intenção é ser descontraído”, finalizou ele.
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