Neste mês de agosto, faz um ano que o rap nacional passou por um grande marco. Diretamente do Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo, as gêmeas Tasha e Tracie lançavam o EP Diretoria. Com letras sobre autoestima, independência financeira e sexo, as artistas trouxeram para cena do hip hop a perspectiva femina.
O sucesso continua após um ano, garantindo a presença das gêmeas na segunda edição do Festival Ecoando, realizado nesta segunda-feira, 22, pela Amazon Music. Além das MCs, o evento, que visa destacar artistas emergentes na música, contou com shows de Gilsons, Bala Desejo, Clarissa e Jotta.
Em entrevista ao Estadão, as rappers lembram que não esperavam tamanha repercussão em torno do lançamento, porém reconhecem a importância do trabalho pra cena do rap nacional.
“Esse EP foi lançado sem muita pretensão, fizemos sem grandes expectativas ou amarras. Na verdade, foi uma coisa para cobrir um ‘gap’ que a gente ia ter de trabalho. Mas, é um marco na história do rap e da nossa carreira também. Foi incrível ver outras pessoas da cena, mais velhas, reconhecendo a importância desse nosso som que tem essa pegada mais brasileira”, explica Tasha.
No entanto, o principal destaque segue sendo a rima das paulistanas: “Meu maior dom é ficar forte enquanto me acham fraca (...) Na pedra que atiraram, nem me viam e eu passava. Subestimaram e eu virei ameaça”, “(..) Esses cara é emocionado. Dos desejo é refém e escravo”.
Sempre reivindicando autonomia, com toques de acidez e ironias sobre relações com homens, as artistas avaliam que é justamente essa originalidade que lhes abriu portas dentro e fora do gênero musical.
“Em Diretoria, a gente queria falar sobre diversão. Nas nossas rimas, queremos humanizar as meninas pretas da periferia. É um momento de falar: ‘Também gosto de curtir a vida e me sinto bem com a minha aparência’. A importância de humanizar as meninas pretas é que ajudamos na autoestima delas”, afirma Tracie.
E é justamente através da representatividade que as gêmeas vão trazer o EP para o palco do Coala Festival. No dia 16 de setembro, as duas irão dividir o palco em São Paulo com nomes como Gilberto Gil, Djavan e Liniker.
“A gente focou nas pessoas da favela e nos rolês de quebrada. Então, a nossa mistura que garantiu a nossa originalidade. E é uma responsabilidade muito grande representar o rap em festivais como esse. Temos que ser dez vezes mais profissionais. Estamos em um momento em que as mulheres estão lutando para ser reconhecidas independente do gênero e a gente tem a responsabilidade de impor respeito nesse cenário”, conclui Tasha.
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