Jullie Dutra não dormiu após a exibição do Quem Quer Ser Um Milionário, quadro do Domingão com Huck, no último domingo, 10. Ela tornou-se a primeira pessoa a acertar a “pergunta do milhão” e ganhar o prêmio máximo da atração - e, consequentemente, ganhar a atenção do público e da mídia. Em conversa com o Estadão, ela contou os bastidores da vitória e deu dicas de estudo que podem ser úteis ao leitores - veja abaixo.
Após a exibição do programa de Luciano Huck, pedidos de entrevistas chegaram imediatamente, foram mais de 200 mil seguidores ganhos no Instagram em menos de 24 horas. O perfil dela cresceu tanto que a plataforma achou que havia algum erro e “expulsou” toda a equipe que estava logada na conta para ajudá-la.
Ela passou a noite resolvendo o problema. Quando conseguiu, já eram 4h30 da madrugada. A próxima entrevista era às 6h - de que adiantava dormir? Tinha um longo dia pela frente. Foi assim que ela conversou com a reportagem do Estadão, já cansada e ainda impressionada pela repercussão.
Eu sabia que, por nunca ter tido vencedor, teria [essa mobilização], mas uma coisa é você saber. Outra coisa é estar lidando com tudo isso. É muito cansativo.
Jullie Dutra
Natural de João Alfredo, em Pernambuco, Jullie tem 38 anos, é jornalista de formação e CEO de uma agência de comunicação. Há alguns anos, ela se prepara para realizar o concurso para diplomata do Itamaraty.
“Eu precisava muito - preciso, porque o dinheiro ainda não caiu - de ‘grana’ para investir nos meus estudos. E aí eu disse: ‘eu vou me inscrever, vai que?’. Só que eu me inscrevi em 2021 e levou um ano para a minha história ser selecionada”, lembra.
Ela apareceu pela primeira vez no Domingão com Huck em 11 de dezembro de 2022, quando participou do quadro Pensa Rápido, em que seis participantes respondem a uma pergunta e o mais veloz participa do Quem Quer Ser Um Milionário. Ela errou a questão sobre fases da lua e não conseguiu ir em frente à época.
A produção decidiu “reaproveitar” Jullie nesta temporada. Desta vez, no entanto, ela fez o que ninguém tinha conseguido: acertou todas as perguntas, passou pela maioria com facilidade e, na pergunta do milhão, ainda tinha duas ajudas disponíveis para usar: perguntar à plateia ou ligar para alguém. O seu ‘porto seguro’ já havia lhe garantido R$ 500 mil em caso de erro.
A pergunta final foi: “Com apenas 17 anos, Pelé foi campeão mundial de futebol na Copa de 1958 usando a camisa número:”. As opções eram: A) 10; B) 11; C) 17; D) 18. Jullie usou a opção de “Ligar para um amigo”, e pediu ajuda para sua amiga Nefertite Amanajás, de Belém, no Pará. Veja todas as perguntas aqui.
Como Jullie Dutra ganhou o ‘Quem Quer Ser Um Milionário?’
A resposta, para ela, é clara: estudando. Não para o quadro em si, mas ao longo de sua vida.
“Eu não estudei para o jogo. Eu estudo para ser diplomata. Não dá nem tempo. A diplomacia suga. Tive sorte de ter conteúdos que fazem parte da minha grade de conteúdo do CACD (Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata.”
O pai de Jullie morreu assassinado quando ela tinha apenas cinco anos de idade. Sua mãe era professora e a criou sozinha, mas morreu em 2013, após sofrer um AVC. “Ela me ajudou muito a seguir o caminho dos estudos e acreditar que ele iria me levar em um lugar potente”, lembra.
[Minha mãe] dizia assim: ‘Se eu te der uma casa ou um carro, isso pode acabar. A única coisa que eu posso dar é a educação, e com ela você pode comprar casa e o carro. Você pode ir até o Japão e ainda vai levá-la com você, então eu vou investir na sua educação.
Jullie Dutra
Jullie tem uma filha de três anos, Maria Helena, que foi diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista. “[Minha mãe] foi uma das primeiras mulheres da vida da família a ter um curso de graduação e isso é motivo de orgulho para mim, porque como se ela tivesse sabe rompendo um grilhão. E aí eu rompo dois e a Maria Helena provavelmente vai romper três. A gente vai se empoderando”, diz.
A jornalista conta que, desde cedo, estudava muito e era uma pessoa “isolada”, que chegou a ser motivo de chacota entre os colegas da escola. Mas, segundo ela, todo o esforço valeu a pena. “Eu vinha de muitas curvas sinuosas e eu tinha que habilidosamente tentar sair ilesa, às vezes me arranhava, mas agora como é se um portal tivesse aberto, com uma reta linda me esperando para eu poder caminhar”, comenta.
Quando olho o meu passado, eu me sinto muito merecedora dessa conquista. Não é um pedantismo de minha parte não. É porque realmente eu lutei muito para estar onde eu estou.
Jullie Dutra
Quais são as dicas práticas de estudo de Jullie Dutra?
Jullie conta que quer ser diplomata porque tinha o sonho de ser correspondente internacional, que acabou ficando para trás para buscar maior estabilidade financeira. Ela quer aliar algo que ela gosta e tem aptidão com a oportunidade de dar conforto para a família.
Para isso, no entanto, ela precisa passar pelo Concurso de Admissão do Instituto Rio Branco (IRBr), que engloba questões de português, história, geografia, política internacional, direito, economia, inglês, francês e espanhol. Quais são, então, as melhores formas de estudar?
Ela descreveu suas três principais estratégias que usa para seus estudos e que podem ser úteis no dia a dia. Confira:
- Fichamento (anotar citações ou principais ideias de um determinado texto): “Eu gosto muito de fazer fichamento dos capítulos. Eu acho que ele vai me orientando. Quando estou lendo um livro, eu não tenho pressa de ler. Pego o texto, vou fichando e aquilo vai sendo absorvido”.
- Memorização: “Gosto de colocar tags [ou posts-its/adesivos] nas paredes. Faço o palacete da memória na minha casa, cada ponto tem alguma coisa. Por exemplo, no quarto, vamos falar das COPs (Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) na parede 1. Na parede 2, vai estar falando sobre a Independência do Brasil, datas importantes ou relevantes. Isso é um dos pontos de memorização que eu faço”.
- Música clássica: “Gosto muito de estudar com música clássica porque acho que me acalma. Eu fico muito mais tranquila e eu preciso porque eu estudo em ambiente de pressão psicológica, literalmente, porque eu levo Maria Helena para fazer terapias. Não é confortável, a cadeira é dura, a cabeça está baixa escrevendo um texto. Nada melhor do que usar uma música relaxante. Isso me concentra e eu consigo focar”.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais
Colaboração de André Carlos Zorzi
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.