Imagina estar em um cargo de gerência em uma multinacional e se aventurar na criação de conteúdo. Para alguns, pode até ser uma decisão difícil, mas para Leonardo Bagarolo, de 34 anos, pai da Madalena e da Bica, cachorrinhas responsáveis por fazer com que ele já some mais de 18 milhões de seguidores nas redes sociais.
Natural de Campinas, município do interior de São Paulo com pouco mais de 1 milhão de habitantes, Léo faz sucesso na internet como pet influencer e também pelos seus vídeos de humor. Casado com a economista Evelin Camargo, que também é influenciadora, ele é graduado em comunicação com habilitação em cinema. O casal adora viajar. Os dois também são pais da Lola, uma gatinha com mais de 350 mil seguidores no Instagram.
Questionado sobre o que fez desistir da carreira administrativa para ser influencer, Léo alega que isso não aconteceu de forma repentina.
“Eu nem diria que larguei tudo, só larguei o CLT. Na verdade, foi um processo, não foi de uma hora para a outra, até porque eu sou muito cauteloso e medroso. Então, demorei um tempo para tomar essa decisão. Tudo começou na pandemia, fiquei em casa trabalhando em home office, eu trabalhava em uma multinacional. Estava como gerente, eu tinha um cargo legal, uma expectativa de crescimento interessante e oportunidade de trabalhar fora do País. Enfim, eu tinha uma situação confortável, porém, era um pouco estagnada”, disse ele em entrevista ao Estadão.
Bagarolo revela que, no início, o objetivo de mostrar a rotina de suas pets era apenas ganhar os chamados “mimos” das empresas do setor. “A gente criou o perfil da Mada e Bica, que são as nossas cachorrinhas. Eu ficava muito tempo com elas, observando a rotina delas. Como sou formado em cinema, eu tenho um lado artístico bastante aflorado, o que facilita a criação dos conteúdos. Eu era bem low profile, não tinha nem o meu perfil. Então, criei o perfil delas para a gente conseguir algumas coisas de graça, brinquedos, ração, coleira. Só que isso tomou uma proporção muito grande”.
O influencer destaca que, a partir deste momento, chegou em uma situação de escolha. “Eu tive que tomar uma decisão: de seguir com minha carreira em construção na empresa ou seguir para um caminho no qual eu não sabia qual seria meu próximo passo”.
Mada, Bica e Lola
Léo conta como cada uma de suas pets chegou para mudar a sua vida. Bica é uma pinscher de oito anos e foi escolhida para fazer companhia ao influencer quando se mudou para a capital paulista. “A Bica é a mais velha. Ela já era minha quando eu vim pra São Paulo para trabalhar na multinacional. Eu comprei uma pinscher porque, na época, estava sozinho e solteiro, precisando de uma companhia em casa. A minha outra cachorra, uma beagle, ficou com a minha mãe”, disse.
A próxima a chegar foi a felina Lola, gata sem raça definida, com sete anos de vida, e que não gosta muito da irmã pet. “Futuramente, conheci a minha esposa, a Evelin, e ela já tinha a Lola, uma vira-lata adotada. A gente se juntou, mas a Bica e a Lola não se davam muito bem, até hoje se detestam”, brinca.
Madalena, ou somente Mada, é a caçula da família. Com quatro anos, ela foi a sortuda entre os filhotes de um canil localizado no interior de SP. “A gente falou: ‘Por que não pegar mais um cachorro?’. A Evelin sempre gostou de buldogue, sempre foi o sonho da vida dela. No meio da pandemia, fomos conhecer um canil, em Jaboticabal, especializado em buldogues. Eu sou apaixonado por cachorro e a gente viu alguns filhotinhos, aí ela falou: ‘vamos, depois a gente decide se pega ou não’. Eu falei que não sairia dali sem um filhote. Aí, saímos com a Madalena”, contou Léo.
Perfis de sucesso
Bagarolo afirma que a criação de conteúdo começou com o foco em Madalena, mas Bica acabou roubando a cena. O perfil @madaebica soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e quase 9 milhões no Tik Tok.
Definida na biografia do Instagram como “gata intrigada”, Lola tem uma conta separada das irmãs. “A Lola é um pouco mais complicada, ela é mais nervosa e na dela. Então, posteriormente, criei um perfil separado pra ela”, justifica Léo.
Entretanto, o influencer sempre foi um personagem bastante presente nos vídeos das pets. “Eu sempre fui o personagem ali, foi a forma que encontrei de sentir menos vergonha e dar o primeiro passo na internet, porque eu não precisava ser eu. Você pode ser julgado na internet, tenho esse problema até hoje, mas atualmente lido melhor com isso. A forma que eu encontrei foi ser o pai delas, nem nome eu tinha ali”, frisou.
Léo acrescenta que sentiu a necessidade de expandir o conteúdo, visto que o tempo de vida dos animais é menor do que o dos humanos. A partir disso, começou a investir em si mesmo também.
“Eu era low profile. Há um ano e meio eu tinha pouco mais de 300 seguidores. Realmente, eu não postava, o meu perfil existia só fisicamente. Aí, comecei a criar um conteúdo autêntico, onde a gente aborda humor do cotidiano, humor de casais, humor entre mãe e filho. Ao mesmo tempo, pude ser eu, emitir opiniões e falar das coisas que acontecem no mundo, já que o perfil das pets não costuma ter nenhum posicionamento político, crítico ou algo do tipo”, revelou.
Família e casamento
Leonardo conta como é a relação com a família e como reagiram com a decisão dele apostar na carreira de criador de conteúdo. Filho único e de pais separados, ele afirma ter uma ligação muito forte com a mãe e sempre visita os familiares quando pode.
“As pessoas da família já estão com a gente, então para eles é muito natural, incluindo a minha mudança de carreira. A minha família mora no interior, visito regularmente, sou filho único, de pais separados, mas bastante próximo da minha mãe. Quando vou para Artur Nogueira [município da região metropolitana de Campinas] é o evento da cidade, né?! Minha mãe diz: ‘Venham conhecer o meu filho aqui na minha casa, ele está aqui, fala para tal pessoa’. Ela tem orgulho de mim”, pontua.
Juntos há cinco anos, Léo detalha como conheceu Evelin, que também cria conteúdos em seu perfil. “Nos conhecemos na nossa antiga empresa, éramos trainee. Eu estava solteiro, super feliz e aproveitando após um namoro de nove anos, a minha adolescência inteira foi namorando. Aí, ela apareceu, foram meses de insistência, porque eu realmente não queria um novo relacionamento. Mas, ela já tinha flechado meu coração”.
O influencer explica que eles namoraram à distancia por um tempo antes de se mudarem para São Paulo e que gosta de estar casado. “É muito bom casar, ainda mais se as duas pessoas têm o mesmo objetivo. A gente se completa muito, mesmo com as diferenças comportamentais de cada um”.
O artista e o sonho
Bagarolo se define como um amante do cinema, um cinéfilo, ressaltando durante toda a entrevista ao Estadão a sua paixão pela área. Desde criança sonha em fazer parte de um filme. Ele já fez teatro e participou de algumas peças comerciais. Na época da faculdade, se aventurou em um intercâmbio em Los Angeles, vislumbrado com Hollywood, mas conta que acabou se frustrando.
“No Brasil, é bastante complicado porque é uma área muito fechada. Eu achava que nos Estados Unidos era diferente, por isso, na época da faculdade fui fazer um intercâmbio em Los Angeles. Entretanto, voltei frustrado, pensando: ‘caraca, é pior que no Brasil, pois é quase impossível conseguir uma entrada aqui’”, disse.
Apesar da experiência, Léo destaca que o cinema ainda é seu grande sonho.
“A internet foi que me deu um vislumbre um pouco maior de que ainda é possível. Vemos essa migração natural entre a internet e o audiovisual, e vice-versa. Continua sendo meu sonho máximo de vida atuar em um filme, receber um prêmio de melhor ator e discursar em inglês fora do meu país. Eu sei que algo muito longe, só que hoje eu entendo muito melhor esse caminho. Eu não tenho pressa, pois, atualmente, já vivo um sonho. Não posso ser hipócrita, é maravilhoso, eu adoro e quero continuar fazendo por muito tempo, mas é ali que eu quero chegar”, completa.
Questionado sobre qual é o seu filme favorito, apesar de ressaltar que gosta de terror, ele escolhe um vencedor do Oscar. “Perguntar para um cinéfilo qual seu filme favorito é muito cruel, é maldoso [risos]. A gente fica muito triste em descartar outras produções cinematográficas, mas tenho uma que considero top 1 e sempre vou indicar: Parasita. Acho que não é um filme só da cultura asiática, da Coréia, ele fala muito da nossa realidade aqui no Brasil. É um filme muito sensível, bem gravado e com boas atuações. É o que mais me impactou, pois me identifiquei como o enredo e é um filme atemporal”.
Entretanto, ele fez questão de dizer também qual é o seu longa de terror preferido. “Atualmente, o melhor filme de terror é Midsommar. Amo, é sensacional”
Futuro
Para 2023, Léo Bagarolo pontua que o foco será no investimento nos perfis pessoais e em parcerias. “O desenvolvimento dos perfis pessoais é o nosso foco esse ano, trazendo o Léo e a Evelin para o centro dos holofotes. Para a Mada e Bica, vamos trabalhar no licenciamento de marcas, criando produtos, a gente já registrou cada categoria de produtos que queremos lançar. Além disso, queremos buscar boas parcerias rentáveis com outras marcas”, finaliza.
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