Paul McCartney relembrou o processo de luto pelo qual passou após o assassinato de John Lennon, seu amigo e ex-companheiro de Beatles, em 1980.
“Foi difícil para todos no mundo, porque ele era uma pessoa tão amada e um cara tão louco. Ele era muito especial”, disse o cantor durante uma entrevista recente ao The Beatles Channel, canal de música da rádio norte-americana SiriusXM.
“Me afetou de maneira muito forte, eu não conseguia falar sobre isso”, continuou McCartney, explicando que ele não se sentia confortável em se juntar às homenagens ao redor do mundo e ao luto coletivo que se seguiu.
“Eu lembro de chegar em casa do estúdio no dia em que ouvimos a notícia de que ele morreu, ligar a TV e ver as pessoas dizendo: ‘bem, John Lennon era isso’ e ‘o que ele era, era isso’ e , ‘lembro de conhecê-lo em tal época.’”, disse.
“Foi tipo: ‘não sei, não posso ser uma dessas pessoas. Não posso simplesmente ir à TV e dizer o que John significava para mim’. Era profundo demais. Foi simplesmente demais. Eu não conseguia colocar em palavras”, explicou.
Lennon morreu assassinado por fã em dezembro de 1980. Na época, McCartney preparava o álbum solo Tug Of War, lançado em 1982.
De acordo com o artista, quando as emoções se acalmaram, ele conseguiu processar a perda do amigo escrevendo a canção Here Today, presente no disco. A música mostra respostas hipotéticas que Lennon daria para perguntas de McCartney.
“Eu estava em um prédio que se tornaria meu estúdio de gravação e havia apenas alguns quartinhos vazios no andar de cima”, lembrou. “Então, eu achei um quarto, apenas sentei no chão de madeira em um canto com meu violão e comecei a tocar os primeiros acordes de Here Today”.
O cantor ainda citou um trecho da música, que diz “E a noite em que choramos/Porque não havia mais razão para guardar tudo dentro?”.
Segundo ele, essa parte se refere a uma noite que passarem em Key West, na Florida, nos Estados Unidos, quando tiveram shows adiados por conta do clima local.
“Por alguma razão, acho que foi um furacão, algo atrasou e não pudemos tocar por alguns dias”, lembrou. “Nos escondemos em um pequeno motel. O que íamos fazer? Bem, nós bebíamos e ficávamos bêbados. Nós não tínhamos um jogo, então nós fizemos. Naquela noite, ficamos bêbados e começamos a ficar meio emotivos. Tudo saiu”.
“Dissemos um ao outro algumas verdades. ‘Bem, eu amo você. Eu te amo cara’, ‘Eu amo que você tenha dito isso. Eu amo isso’. E nós nos abrimos. Então, isso foi meio especial para mim. Eu acho que foi realmente uma das únicas vezes que isso aconteceu”, contou.
Escute a música com tradução e ouça a entrevista original, em inglês:
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais
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