Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o especial Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Paolla Oliveira, que apresenta o programa com Taís Araújo. A Rainha de Bateria da Grande Rio explica como ela vê a tal “loucura feminina” e em quais situações, mesmo ela – uma das mulheres mais admiradas do Brasil – já se sentiu desmoralizada perante o olhar do outro.
Paolla Oliveira é pauta por escancarar seu posicionamento sobre o corpo – como quando se negou a usar filtros nas fotos em redes sociais –, a maternidade – ao falar que, por ora, não pretende ter filhos, entre outras questões que permeiam a vivência da mulher. Tal posicionamento pode explicar o convite para apresentar o especial de Dia das Mulheres da Globo, ao lado de Taís Araújo. “Ter a Paolla, – que é uma amiga querida, uma pessoa que eu admiro muito e que tenho acompanhado a jornada muito de perto – ao meu lado nesse projeto, foi muito especial”, declara Taís.
Na entrevista ao Estadão, Paolla reflete sobre o estigma da “loucura feminina” – quando a palavra da mulher é posta em xeque –, e as situações que a tiram do sério. “Nós mesmas caímos na armadilha de nos chamarmos de loucas”, conclui.
A “loucura feminina” seria um estereótipo pejorativo que camufla um problema maior - a estafa da mulher que precisa lidar com múltiplas responsabilidades?
Com certeza. É algo forjado de muitos anos e que, culturalmente, entrou nas nossas mentes. Inclusive na nossa, porque às vezes acabamos caindo nessa armadilha, de nos chamarmos de loucas, mesmo que por brincadeira. Mas essa camuflagem não me serve mais. Ela foi criada para abafar o fato de termos tantas responsabilidades, além da nossa sensibilidade aguçada, o fato de dominarmos várias áreas e de não podermos nos expressar ou sentir o peso dessas responsabilidades. Ser chamada de louca era mais fácil.
É mais fácil tirar a mulher do circuito assim. Sem dúvida nenhuma, isso ainda existe para camuflar outras questões femininas, com certeza.
Em qual momento da vida você se sentiu mais louca?
Em qual momento me puseram mais louca, né? Que me fizeram questionar se estaria louca ou não… mas os momentos em que mais me senti assim foi quando assumi várias responsabilidades. Como toda mulher, multifuncional que somos, temos demandas em todos os aspectos da vida. Mesmo sabendo que a gente dá conta. E, por “dar conta” não significa que não vamos nos estressar, que não vamos nos desgastar, que não vamos nos exceder em algum momento… Nós éramos subjugadas.
E isso aconteceu várias vezes. Sinto que, hoje, se fosse em uma outra situação, ou se fossem homens, esse estresse seria considerado mais “plausível”, do tipo: “é totalmente normal ficar assim porque o trabalho é desgastante”. E eles jamais teriam sido chamados de loucos! [risos].
A gente precisa se dar conta que essa estafa feminina existe. Além da maternidade, tem várias outras questões que estão em um escopo de trabalho para a mulher. Não acho que isso vai mudar do dia para a noite.
Como toda mulher, multifuncional que somos, temos demandas em todos os aspectos da vida. Mesmo sabendo que a gente dá conta. E, por “dar conta”, não significa que não vamos nos estressar, que não vamos nos desgastar, que não vamos nos exceder em algum momento
Entre o gaslighting e o excesso de responsabilidades que a mulher tem, ao cuidar da casa, do trabalho e dos filhos, qual tema é o mais urgente a ser debatido?
Todas essas pautas que o programa levanta são super importantes. O assédio, ou a estafa... O gaslighting [forma de manipulação em que o agressor tenta acusar a mulher de estar louca], por exemplo, pode ser a primeira vez que muitas mulheres vão ter acesso ao significado dessa agressão psicológica. Todas as pautas do programa também levam a algo muito maior, que é o problema do feminicídio. Essa pauta, que é muito urgente no Brasil, começa com todas essas que o programa aborda.
Você é considerada uma voz para mulheres de todo o Brasil. Essa responsabilidade, é também, um peso? E qual a melhor parte de estar nessa posição?
A melhor parte, por exemplo, é estar à frente de um programa como o Falas Femininas, que é pioneiro, educativo. Sim, porque a gente precisa de programas educativos que falem com o grande público, pra aumentar e reverberar discussões como essas, pra ir além das nossas pequenas bolhas, pequenos mundos... É poder usar essa influência, conquistada com o trabalho, com muita dedicação, para ampliar e reverberar esses assuntos que, para mim, são muito importantes e devem ser debatidos cada vez mais. É uma responsabilidade grande, sim. Mas não é um peso. De maneira nenhuma.
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