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Rihanna traz à tona reflexão sobre o futuro da moda para gestantes

A cantora, grávida de seu primeiro filho, tem atraído a atenção por manter seu estilo ousado na gravidez

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Por Rafael Nascimento
A cantora Rihanna está grávida do seu primeiro filho, fruto da relação com o rapperA$AP Rocky. Foto: Instagram/@badgalriri

“Eu espero que nós possamos redefinir o que é considerado ‘decente’ para mulheres grávidas. Meu corpo está fazendo coisas incríveis agora e eu não vou sentir vergonha por isso. O momento tem que ser de celebração. Por que você deveria esconder sua gravidez?”.

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Essas são palavras de Rihanna, concedidas em entrevista à revista Vogue USA, divulgada nesta terça-feira, 12.

A cantora tem atraído a atenção durante sua primeira gestação, fruto da relação com o rapper A$AP Rocky, pelo vestuário que tem usado durante o período.

Em direção oposta ao convencional, Rihanna não deixou de lado o seu estilo ousado, fashionista e sexy durante a gestação - o que tem rendido discussões e reflexões sobre a moda para gestantes.

Estaria Rihanna estabelecendo um novo conceito de como grávidas podem se vestir? O Estadão consultou especialistas em moda para responder a esta pergunta.

Para a Doutora em Belas Artes, da Universidade de Virgo, na Espanha, pesquisadora sobre temas como arte, moda, corpo e identidade, Maya Marx, a artista está apenas sendo "contemporânea" à moda do seu tempo.

"Sinceramente eu não acho que seja nada excepcional. Ela tem o estilo dela, ela se veste de uma forma determinada, ela só está fazendo questão de deixar à mostra a barriga [...] A Rihanna não mudou a forma dela de se vestir enquanto grávida, como as mulheres hoje em dia não fazem isso. As mulheres nos anos 1980 não faziam isso. Existem mulheres e mulheres, é claro, mas se você é adulta e tem o seu estilo, por que você mudaria estando grávida?", questionou a pesquisadora e também professora do Istituto Europeo di Design.

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A pesquisadora atribui à tecnologia utilizada na confecção das roupas atualmente, o fato das mulheres não precisarem abrir mão de seus estilos quando grávidas.

"As roupas hoje em dia possibilitam você estar grávida e não ter a necessidade [de mudar de estilo]. É claro, você vai adaptar uma roupa ou outra. Eu acho que a Rihanna, simplesmente, é uma contemporânea do seu tempo. Ela não está fazendo nada diferente do que ela faria pelo fato de estar grávida. Ela está celebrando essa gravidez botando a barriga dela em destaque", afirmou a professora.

"Hoje nós temos materiais como algodão com lycra, jeans com lycra, ou seja, você tem um tecido plano misturado com as malhas e lycras, com os elásticos, digamos assim, você tem muita opção no mercado. É uma roupa tecnológica, que tem a qualidade de ser elástica. Acho que é interessante pensar que esses avanços tecnológicos permitem uma roupa que acompanha mais o formato da mulher", finaliza a pesquisadora.

As roupas para grávidas ao longo da história

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Para sustentar seu argumento, Maya faz um panorama histórico sobre como as roupas para gestantes foram estabelecidas conforme a moda de cada tempo.

"Se a gente pegar lá atrás, no Renascimento, no Barroco, Rococó, no Período Romântico - o século 19 - estamos falando da indumentária feminina muito ligada ao espartilho, essa peça que afunilava a cintura. Nesse período, por exemplo, a gravidez, era considerada um tabu, mesmo dentro de um casamento [...] A gravidez era algo delicado, era algo para se viver em privacidade, muitas vezes não se comunicava que a mulher estava grávida. Se a gente for pensar na nossa sociedade ocidental, a questão da Igreja, o ato sexual, o ato da gravidez, traz toda uma questão de lascívia, de pudor, de pecado", contextualiza a pesquisadora.

Para a professora há dois momentos importantes que tornam pública a mulher grávida: Hollywood, nos anos de 1950, e o movimento pop dos anos de 1960.

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"A cultura da celebridade, a cultura da fotografia, a cultura do paparazzi, que vem muito com a cultura pop dos anos de 1960, estão ligadas às revistas comportamentais [...] A gente pode falar que Hollywood também foi o primeiro movimento a ter um significado globalizado. Você via o filme de Hollywood lá nos Estados Unidos, vi no interior da Bahia, via na China, via no Japão... Podemos dizer que Hollywood foi um grande lançador de tendências nessa época. As revistas que estavam concectadas a esta dinâmica, dos atores de Hollywood, são, até hoje, dissipadoras de comportamento e de moda", explica Maya.

"Essas atrizes que eram conhecidas, tinham o casamento fotografado, a gravidez fotografada, o nascimento do bebê, a primeira comunhão... O momento que a mulher grávida 'saiu um pouco do armário' foi com o boom das revistas de celebridades dos anos de 1950", continua a professora. 

Outro momento histórico que a pesquisadora atribuiu a modificação da forma como a sociedade enxerga mulheres grávidas é o advento da pílula anticoncepcional, nos anos 1960, que trouxe mais liberdade sexual, e por consequência, o desejo de uma gravidez programada.

"Acho que tem um momento muito interessante, para além disso, que é o movimento pop e a cultura hippie dos anos de 1960, que está muito conectada com o advento e a democratização da pílula [anticoncepcional]. Ou seja, o fato da mulher poder exercer livremente a sexualidade, libertou também de um fardo que estava muito conectado à maternindade, ao casamento", explica Maya. 

"Esses movimentos fizeram com que, na verdade, essa gravidez fosse também desejada e celebrada pela mulher, pela primeira vez, fora dessa estrutura rígida do casamento, da religião e do catolicismo. A mulher pôde, pela primeira vez, exercer a sua liberdade sexual e exercer o seu poder de escolha. A gravidez é desejada finalmente", afirma a professora.

Nos anos 1970 Leila Diniz já trazia a discussão à tona

A atriz Leila Diniz grávida de seis meses em 1971. A foto chamou muito a atenção na época e foi problematizada porque mulheres não mostravam a barriga de grávida em público. Foto: Joel Maia

Maya também traz um resgate importante para a figura da mulher grávida no Brasil. Ela relembra a atriz Leila Diniz, que nos anos 1970 ousou em posar, ao final de sua gravidez, de biquíni, o que causou muita reação na época.

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"Tem uma figura emblemática, que é a Leila Diniz, aqui no Brasil. Linda e maravilhosa, se deixando fotografar de bíquini, mostrando a barriga e super grávida de seis meses, em 1971. Eu acho que ela faz parte dessa leva, dessa mulher que é consciente da sua sexualidade, e ela era consciente", reflete a doutora.

Depois desse boom de inovação e questionamento de uma padronização da moda, não só para grávidas, durante as décadas de 1960 e 1970, a pesquisodora explica que na década de 1980 há um retrocesso nessas mudanças.

"Nos anos de 1980 a gente volta a usar uma moda muito comportada. Um bom exemplo é a Lady Di. E teve uma moda nesta década que a gente considera feia hoje em dia que são estampados de bolinhas, estampados meio inocentes, golas enormes de bebê, mangas bufantes... E é claro que essa moda influenciou as roupas de grávidas", afirma a porfessora.

A Princesa Diana com o filho,Príncipe de Gales, WilliamArthur Louis, em julho de 1982. Foto: UPI

Maya afirma que foi nesta década que surgiram as lojas de moda para gestantes.

"Começaram a surgir umas lojas só dedicadas para grávidas. Começou a surgir uma estética para gestante e se popularizou. Essa moda, nos anos 1980 e 1990, propunha uma estética que tinha muito a ver com esses vestidões mais largos. Tem uma foto da Lady Di, saindo da maternidade, com o Príncipe William, que representa bastante isso", conta a pesquisadora.

Rihanna: uma nova moda para grávidas

Diferente da pesquisadora Maya Marx, para a consultora de estilo, que tem um podcast sobre moda chamado Estilo Possível, além de participar também do podcast Um Milkshake Chamado WandaMarina Maués de Santa Helena, o vestuário de grávida que a Rihanna tem mostrado impacta, sim, de forma significativa na maneira como enxergamos este estilo de moda.

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"A gente vê hoje na sociedade a mulher grávida como quase aquele símbolo virginal, uma coisa imaculada, quando justamente a mulher está no auge da beleza, no auge da sensualidade. As mulheres grávidas ficam mais bonitas e isso acaba não sendo percebido. Esse moda materna é uma moda que não contempla a modelagem das curvas de um corpo feminino e que é quase boba, é uma coisa meio ingênua. É como se a mulher retrocedesse e voltasse a uma coisa quase infantil", afirma Marina.

Para a influenciadora essa moda tradicional direcionada às grávidas "não tem impacto", o que faz com que o vestuário da Rihanna chame muito a atenção.

"Quando a gente olha para a Rihanna, a gente se assusta, a gente fala 'nossa, uau!, que coisa incrível, nunca tinha visto isso', porque até na cultura pop é muito raro que as mulheres se expressem dessa forma. Quando ela veste as roupas de vinil, deixa a barriga de fora, usa mini saia, usa uma roupa parecida com lingerie, ela está se mostrando como uma mulher no auge da sua sensualidade, e mostrando para as outras mulheres que elas também podem ser sexy e se permitir, elas podem mostrar a barriga à vontade", defende a consultora de estilo.

"Quando ela traz todas essas possibilidades é uma alegria, é um refresco para os olhos e para alma de muitas mulheres que não se permitiam isso antes", finaliza Marina.

A professora e pesquisadora Maya Marx traz um contraponto e fala também sobre a importância de combater uma ditadura que estabelece corpos perfeitos a mulheres grávidas, principalmente após o nascimento dos bebês.

"É importante lembrar ainda que sempre falamos dessa grávida ideal, como a Rihanna por exemplo, que é uma mulher super cuidada e que malha. A gente também vive essa cultura, esse facismo e essa ditadura que nos faz acreditar que a mulher sai da maternidade super magra e já não tem barriga no dia seguinte. Essas pessoas que são super fotografadas passam a ser a relidade de um período, mas não são a realidade de todas as grávidas. Têm gestantes que ficam super inchadas, com a perna inchada, e que vão precisar dessas lojas específicas para grávidas".

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