PUBLICIDADE

Rapper preso: A ascensão, as controvérsias e as disputas legais de Puff Daddy; veja linha do tempo

Sean Combs, o astro de 54 anos, foi preso nos Estados Unidos após novas acusações de agressão sexual

PUBLICIDADE

Por Jonathan Abrams, Elena Bergeron e Matt Stevens (The New York Times)

Sean Combs, o magnata do hip-hop também conhecido como Puff Daddy ou Diddy, está enfrentando várias acusações de agressão sexual. No final de 2023, ele chegou a um acordo em um processo explosivo com Casandra Ventura, que alegou que Combs, 54 anos, a estuprou e abusou fisicamente dela por cerca de uma década. Combs foi preso na segunda-feira em um hotel em Manhattan por novas acusações federais. Um dos maiores responsáveis pela ascensão do hip-hop ao mainstream, Combs tem mais de trinta anos de carreira na música, na moda e na TV, com problemas constantes com a lei.

1991: A ascensão de um estagiário ambicioso

PUBLICIDADE

Combs, estagiário de rádio de 22 anos relativamente desconhecido, foi mestre de cerimônia de um jogo de basquete de celebridades com o rapper Heavy D. Uma debandada irrompeu entre a multidão que superlotava o ginásio do City College de Nova York, matando nove pessoas.

Um relatório encomendado pelo prefeito David Dinkins criticou Combs por permitir que subordinados inexperientes planejassem o evento e por enganar as pessoas que compraram ingressos quanto às intenções de caridade do evento.

O rapper Sean Combs enfrenta várias acusações de agressão sexual Foto: Richard Shotwell/Richard Shotwell/Invision/AP

“O City College é algo que enfrento todos os dias da minha vida”, disse Combs em 1998. “Mas as coisas que enfrento não podem de jeito nenhum se comparar à dor que as famílias enfrentam. Eu só rezo pelas famílias e rezo pelos jovens que perderam a vida, todos os dias”.

Um ano depois, já na Uptown Records, a produção de Combs no remix de ‘Come and Talk to Me’, de Jodeci, ajudou o single a vender 3 milhões de cópias, anunciando-o como um talento em ascensão. Ele passou a ajudar a produzir remixes para Heavy D, o artista de reggae Super Cat, e ‘Real Love’, da cantora de R&B Mary J. Blige, que apresentou o rapper Notorious B.I.G.

1994: Começando a Bad Boy Records

A Bad Boy Records, fundada após a demissão de Combs da Uptown, teve seu primeiro grande sucesso com o álbum Ready to Die, de Notorious B.I.G., que chegou ao 15º lugar na Billboard 200. A estreia recebeu aclamação da crítica por seu retrato “tanto da euforia do tráfico de drogas quanto do estresse causado por ameaças de outros traficantes, ladrões, policiais e pais”, como o New York Times escreveu na época, e gerou os sucessos ‘Juicy’, ‘One More Chance’ e ‘Big Poppa’. Até o momento, o álbum foi certificado seis vezes como platina.

Naquele ano, seu trabalho no álbum My Life, de Blige, lhe rendeu sua primeira indicação ao Grammy (de melhor álbum de R&B).

Publicidade

1997: Saudades de Notorious B.I.G.

Combs alcançou alguns dos feitos mais notáveis de sua carreira antes e depois da morte de B.I.G., nascido Christopher Wallace, que foi morto a tiros em 9 de março, seis meses após o assassinato de seu rival Tupac Shakur.

Abrindo o ano com o lançamento de Can’t Nobody Hold Me Down, o primeiro single de Combs como o artista Puff Daddy, a música passou seis semanas em primeiro lugar antes do lançamento antecipado do álbum completo. Quatro meses após a morte de Wallace, No Way Out, com Puff Daddy & the Family, estreou em primeiro lugar na Billboard 200, vendendo 561 mil cópias na primeira semana e colocando vários singles no topo das paradas. O maior deles, I’ll Be Missing You, contou com a participação da viúva de Wallace, Faith Evans, e do grupo de R&B 112. O réquiem, que sampleia Every Breath You Take, do Police, passou 11 semanas no topo da parada Hot 100 da Billboard. O LP rendeu a Combs prêmios Grammy de melhor álbum de rap e melhor performance de rap por dupla ou grupo.

Naquele ano, 4 das 10 músicas que alcançaram o primeiro lugar na Hot 100 pertenciam à Bad Boy Records.

1999: Prisões por alegações de violência pública

Depois de uma discussão sobre o uso de filmagens em um videoclipe, o produtor musical Steve Stoute alegou que Combs e seus guarda-costas o espancaram com uma garrafa de champanhe, um telefone, uma cadeira e os punhos durante um incidente em abril.

PUBLICIDADE

Combs enfrentaria até sete anos de prisão se tivesse sido condenado por agressão criminosa. Em vez disso, Stoute pediu ao promotor público de Manhattan para retirar as acusações depois que Combs se desculpou publicamente. Combs disse que estava chateado por Stoute, executivo da Interscope Records, ter usado uma imagem dele sendo crucificado no clipe de Hate Me Now, do rapper Nas.

“Puff encharcou os escritórios da Interscope com garrafas de champanhe / E Steve achou que o problema era comigo”, escreveu Nas em uma música de 2002 que imortalizou a altercação.

Em dezembro daquele ano, uma confusão começou em uma boate de Manhattan onde Combs estava com a atriz e cantora Jennifer Lopez, sua namorada na época.

Publicidade

Pelo menos duas pessoas ficaram feridas a tiros. Os detalhes e a linha do tempo da interação continuaram confusos durante o julgamento. O famoso advogado Johnnie Cochran defendeu Combs, e várias testemunhas relataram que o executivo musical estava armado. Combs foi acusado de porte de arma e suborno, mas foi considerado inocente. Seu antigo protegido, o rapper Shyne, nascido Jamal Barrow, recebeu uma sentença de 10 anos de prisão por agressão, porte de arma e conduta imprudente.

2002: Making the Band

Em 2002, Combs assumiu o Making the Band, da MTV, um reality show que visava reunir e lançar rappers e cantores iniciantes. As temporadas produziram os artistas Da Band e Danity Kane – e retrataram Combs como um chefe exigente, que fazia os participantes caminharem de Manhattan até o Brooklyn para buscar cheesecake para ele.

Nos últimos anos, vários participantes se manifestaram contra o que descreveram como maus-tratos de Combs e contratos ruins. Freddy P, do Da Band, descreveu Combs como a razão pela qual ele “odeia” a vida em uma postagem do Instagram no ano passado.

Naquele verão, Combs encerrou a joint venture da gravadora com a Arista, deixando o acordo com a propriedade total da Bad Boy Records e seu catálogo. Apesar da sequência de sucessos de R&B da gravadora e das tentativas de encontrar um rapper da magnitude do Notorious B.I.G., Puff Daddy continuou sendo sua estrela mais confiável.

2003: De volta ao nº 1

Shake Ya Tailfeather, single da trilha sonora de Bad Boys II interpretado por Nelly, Murphy Lee e P. Diddy, como Combs era conhecido na época, alcançou o nº 1 na Billboard 100 e rendeu a Combs o segundo prêmio Grammy de melhor performance de rap por dupla ou grupo (e o terceiro no geral).

2004-13: Construindo um império além da música

Combs expandiu seu império de negócios além da indústria fonográfica, ganhando honrarias de designer de moda masculina do Council of Fashion Designers of America por sua marca de roupas Sean John (2004), forjando uma parceria para lançar a vodca Ciroc (2009) e fundando a Revolt TV (2013). Em 2022, seu portfólio foi estimado pela Forbes em US$ 1 bilhão.

2015: Outra prisão por acusações de agressão

Em 2015, Combs foi preso e acusado de agressão com arma letal, ameaças terroristas e agressão após uma altercação com um treinador de futebol americano da UCLA. Em comunicado à imprensa, a universidade descreveu a arma como um kettlebell. Justin Combs, filho de Combs, começara a jogar futebol americano na universidade em 2012.

Publicidade

O gabinete do promotor público do Condado de Los Angeles disse que os promotores decidiram não prosseguir com as acusações criminais após o incidente, de acordo com o Washington Post.

O astro do rap Sean Combs foi preso nos Estados Unidos após acusações de agressão sexual Foto: Chris Pizzello/Chris Pizzello/Invision/AP

Novembro de 2023: Um processo explosivo interrompe a celebração do hip-hop

Em meio às comemorações do 50º aniversário do hip-hop, Combs foi homenageado por seu papel pioneiro na expansão do gênero no MTV Video Music Awards em setembro, logo após ser reconhecido com uma homenagem pelo conjunto da obra no BET Awards em 2022.

Em novembro, The Love Album: Off the Grid foi indicado ao Grammy de melhor álbum de R&B progressivo.

Mais tarde naquele mês, a cantora de R&B Cassie, que já foi contratada da Bad Boy e que teve um longo relacionamento romântico com Combs, entrou com uma ação no tribunal federal, acusando-o de estupro e de abusos físicos ao longo de cerca de uma década.

Cassie, cujo nome completo é Casandra Ventura, disse no processo que não muito depois de conhecer Combs, em 2005, quando ela tinha 19 anos, ele começou um padrão de controle e abuso que incluía lhe dar drogas, espancá-la e forçá-la a fazer sexo com uma sucessão de profissionais do sexo homens, enquanto ele filmava os atos. Em 2018, o processo disse que, perto do fim do relacionamento, Combs forçou a entrada em sua casa e a estuprou.

Por meio de um advogado, Combs disse que ele “nega veementemente essas alegações ofensivas e ultrajantes”.

Um dia após Ventura ter entrado com o processo, as duas partes chegaram a um acordo para resolver o caso, embora não tenham divulgado detalhes sobre os termos. “Decidi resolver esse assunto amigavelmente, em termos nos quais eu tenha algum nível de controle”, disse Ventura em declaração. Combs disse em declaração: “Decidimos resolver esse assunto amigavelmente. Desejo a Cassie e a sua família tudo de melhor. Com amor”.

Publicidade

Novembro a dezembro de 2023: Mais acusações de má conduta sexual

Uma semana depois de resolver o processo com Ventura, Combs foi acusado em um segundo processo de agressão sexual a outra mulher, Joi Dickerson-Neal, em 1991.

Em seu processo, Dickerson-Neal acusou Combs de drogá-la durante uma noite em Nova York, quando ela era estudante da Universidade de Syracuse. Ela acabou sendo levada para o lugar onde Combs estava hospedado, no qual, de acordo com a acusação do processo, ele a estuprou e gravou o ato em vídeo.

Um porta-voz de Combs disse que ele “negou e rejeitou completamente” as acusações.

O processo foi aberto na Suprema Corte do Estado de Nova York, em Manhattan, pouco antes do prazo final para o Adult Survivors Act, uma lei estadual que permitia que pessoas que alegavam ter sofrido abuso sexual apresentassem queixas, mesmo após o prazo de prescrição ter expirado.

Menos de duas semanas depois, uma terceira mulher acusou Combs em um processo que disse que ele e outros dois homens a estupraram dentro de um estúdio de gravação em Nova York quando ela tinha 17 anos.

A mulher, que não é nomeada nos documentos do tribunal, disse que conheceu dois conhecidos de Combs em um lounge na região de Detroit em 2003, quando ela estava no ensino médio. Na queixa, ela alegou que eles a levaram em um avião particular para Nova York, onde os três homens lhe deram grandes quantidades de drogas e álcool e se revezaram para estuprá-la no banheiro do estúdio enquanto ela estava semiconsciente.

Quando terminaram, disse o processo, a mulher caiu no chão de tanta dor, em posição fetal. Ela disse que pouco depois foi levada para um aeroporto e colocada em um avião de volta para Michigan.

Publicidade

Combs negou qualquer irregularidade: “Vou ser absolutamente claro: eu não fiz nenhuma das coisas horríveis que estão sendo alegadas”, ele disse em declaração. “Eu lutarei pelo meu nome, pela minha família e pela verdade”.

Fevereiro de 2024: O produtor musical Lil Rod entra com um processo de US$ 30 milhões por má conduta sexual

O produtor Rodney Jones Jr., conhecido como Lil Rod, acusou Combs de fazer contato sexual indesejado e de forçá-lo a contratar prostitutas e participar de atos sexuais enquanto trabalhavam no álbum The Love Album: Off the Grid, de 2023.

Em sua queixa, apresentada no Tribunal Distrital dos Estados Unidos em Manhattan, Jones disse que Combs agarrou seus genitais sem consentimento e que também tentou “preparar” Jones para fazer sexo com outro homem, dizendo a ele que era “uma prática normal na indústria musical”.

Combs, por meio de seu advogado, negou as acusações. Em declaração, Shawn Holley chamou o processo de “uma clara tentativa de ganhar manchetes”. Ele acrescentou: “Temos provas contundentes e indiscutíveis de que suas alegações são mentiras absolutas”.

Promotor americano Damian Williams mostra evidências contra Sean Combs em coletiva de imprensa Foto: Pamela Smith/AP

Março de 2024: Agentes federais cumprem mandados de busca em duas casas ligadas a Combs

Agentes federais do Departamento de Segurança Interna cumpriram mandados de busca em casas nas regiões de Los Angeles e Miami conectadas a Combs em 25 de março. Respondendo a perguntas sobre notícias do fato, o departamento disse em uma declaração: “Hoje mais cedo, o Departamento de Segurança Interna de Nova York executou ações de aplicação da lei como parte de uma investigação em andamento, com a assistência dos departamentos de Los Angeles e de Miami e de forças policiais locais. Forneceremos mais informações assim que estiverem disponíveis”.

Um porta-voz de Combs não respondeu a um pedido de comentário.

O inquérito criminal está sendo conduzido por promotores federais do Distrito Sul de Nova York e agentes federais, disse uma autoridade.

Publicidade

Setembro de 2024: Autoridades prendem Combs por acusações federais

Combs foi preso em um hotel em Manhattan na segunda-feira. Marc Agnifilo, um de seus advogados, disse que Combs havia retornado a Nova York na semana passada voluntariamente antes de uma acusação já esperada. A acusação era sigilosa, mas Agnifilo disse que acreditava que incluía extorsão e tráfico sexual. Os promotores federais disseram em declaração que provavelmente revelarão a acusação dentro de um dia.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.