“Costumo dizer que não mudei, continuo perseverando os meus sonhos”, diz Jullie Dutra. No último domingo, 2, ela completou uma promessa feita seis meses antes, em rede nacional, quando tornou-se a primeira pessoa a acertar a última pergunta de Quem Quer Ser Um Milionário, quadro do Domingão com Huck, e ganhar o prêmio máximo da atração.
Lembre
No programa, exibido em dezembro de 2023, Jullie afirmou que, caso vencesse o quadro, iria a pé até a Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Neste feriado de Corpus Christi, ela percorreu 135km, em quatro dias, com um grupo de peregrinos que saíram da cidade de Paraisópolis, Minas Gerais, no dia 30 de maio, e chegaram em Aparecida, no interior de São Paulo, no dia 2 de junho.
“É a conclusão de um ciclo”, afirma Jullie ao Estadão. “Essa promessa para mim tem um significado muito grande, porque eu me comprometi em rede nacional. Muitas pessoas vinham me perguntar quando eu faria. Sou uma pessoa discreta. Eu precisava me preparar para isso”, completa.
Natural de João Alfredo, em Pernambuco, Jullie tem 39 anos, é jornalista de formação e CEO de uma agência de comunicação. Há alguns anos, ela se prepara para realizar o concurso para diplomata do Itamaraty. Ela já havia participado do quadro Pensa Rápido, do Domingão, mas o sucesso veio no Quem Quer Ser Um Milionário.
Ela foi a primeira brasileira a chegar até o fim do questionário e ganhar o prêmio completo. Acertou todas as perguntas, passou pela maioria com facilidade e, na pergunta do milhão, ainda tinha duas ajudas disponíveis para usar: perguntar à plateia ou ligar para alguém. O seu ‘porto seguro’ já havia lhe garantido R$ 500 mil em caso de erro.
A pergunta final foi: “Com apenas 17 anos, Pelé foi campeão mundial de futebol na Copa de 1958 usando a camisa número:”. As opções eram: A) 10; B) 11; C) 17; D) 18. Jullie usou a opção de “Ligar para um amigo”, e pediu ajuda para sua amiga Nefertite Amanajás, de Belém, no Pará. Veja todas as perguntas aqui.
Percurso até Aparecida
O percurso de Paraisópolis até Aparecida é semelhante ao feito pelo apresentador Marcos Mion em 2021, quando realizou a peregrinação para agradecer por seu contrato com a Globo, a realização de um sonho profissional. O trajeto é tradicional aos devotos da Santa e é conhecido como Caminho da Fé.
Jullie estava se preparando desde janeiro para realizar a viagem, que ocorreria em abril. No entanto, um empecilho surgiu: em março, ela precisou passar por uma cirurgia de retirada de nódulo na mama e de duas próteses mamarias que estavam invertidas. A operação atrasou a preparação para o percurso.
“Já foi feita a biópsia e está tudo bem, graças a Deus. Vida que segue. Mas fui operada para a caminhada, ainda estava com os pontos”, explica. “Toda a equipe estava do meu lado, sempre preocupada. Mas eu dizia que estava ótima. O que doía era a panturrilha, as pernas, o pé”.
Além da distância, ela destaca que a temperatura e mudança de revelo foram grandes desafios. O percurso entre Serra da Luminosa e Campos do Jordão foi o mais difícil: “A medida que você vai caminhando, você vai ficando mais desgastado. Eu subi mais de 1800 metros, e para descer também é muito difícil.”
Para quem deseja realizar a peregrinação, ela diz que a principal dica que pode compartilhar é ter um profissional confiável para te acompanhar. A jornalista recebeu uma mensagem, logo após o programa, de Aurea Bisan, a mesma guia que fez o Caminho da Fé com Marcos Mion. “Imagina a loucura que estava o meu Instagram. Tenho mensagens de atores, atrizes, políticos, que até hoje não consegui responder. Tive uma equipe e nós não conseguíamos dar conta. Mas a dela, miraculosamente, eu vi e respondi”, lembra.
Para Jullie, ter o apoio de uma pessoa experiente e realizar o percurso com um grupo fez toda a diferença: “Entendi que a gente precisa de um carro de apoio, pernoitar em locais seguros. Para quem não tem tanto condicionamento físico - e aí depende do que cada um deseja para si - talvez o ideal seja andar em grupo, porque as histórias de cada pessoa fortalecem a caminhada. Nós criamos um ciclo de amizade.”
A vida após o milhão
Jullie não esconde que a vida mudou após vencer o programa. “Sou muito grata. Tudo isso me proporcionou portas para fazer comerciais, palestras, publicidades. Me ajudou, por exemplo, a dar entrada no meu apartamento sem tocar no meu prêmio e comprar um carro muito melhor”, revela.
Ela afirma que a mudança, contudo, é só do ponto de vista patrimonial e profissional. O objetivo ainda é ingressar no curso do Itamaty para se tornar diplomata. “Mas tento, dentro do meu foco, abraçar as coisas que me convém, as pautas que me são caras: educação, autismo, empoderamento feminino.”
O amor pela educação veio da mãe, que era professora e a criou sozinha - o pai de Jullie morreu assassinado quando ela tinha apenas cinco anos de idade. Ela tem uma filha de três anos, Maria Helena, que foi diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista.
“Tenho enviado muito esforço para ajudar pessoas por meio da educação, sobretudo mulheres pretas, para que possam se posicionar na sociedade. Quero que, assim como eu, elas consigam superar traumas, dar a volta por cima e serem donas do seu destino. A vida realmente mudou, mas Jullie Dutra continua a mesma”, afirma.
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