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Cris Berguer indica bons lugares para conhecer com seu melhor amigo: o cachorro

Opinião|Tatuagem de pets

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Por Cris Berger

A carioca Beatriz Rezende trocou a cidade maravilhosa pela capital paulista, em 2022 abriu seu estúdio de tatuagem na zona sul de São Paulo e tornou-se uma das tatuadoras mais procuradas pelos amantes de cães e gatos, que querem as carinhas dos seus pets marcadas para sempre em alguma parte dos seus corpos. E é aqui eu entro.

A pet Ella sendo tatuada no braço de Cris Berger. Foto: Arquivo pessoal

Lembro que um dia depois da Ella partir, tive vontade de a tatuar no meu antebraço. Levaram oito semanas para eu conseguir um lugar na concorrida agenda da Bia. Por sorte, uma amiga indicou seu nome e tive o bom senso de esperar, afinal, tatuagem é assunto sério e a escolha de um bom profissional é fundamental. 

A tatuadora Beatriz Rezende em seu estúdio na capital paulista. Foto: Cris Berger

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O dia em que tatuei a Ella

Meu horário estava marcado para às 13 horas e fui pontual. No e-mail, que ela enviou com as indicações de preparo estava a informação: não atrasar mais do que 20 minutos. Logo, observei o cuidado, limpeza, organização e profissionalismo dessa moça de 31 anos, que já foi jogadora de vôlei profissional e por ser uma exímia desenhadora desde criança, virou tatuadora. "Eu sempre rabisquei a parede da minha casa. Tudo que eu olhava, queria desenhar", relembra enquanto começa a desenhar as bochechas da Ella no meu braço.

Entre um campeonato e outro e a troca de times de vôlei, a Bia fez um curso de realismo e seus desenhos passaram a ter o status de fotografia. Em 2017, um amigo depois de ver seu portfólio, sugeriu: porque você não começa a tatuar? O próximo passo foi levá-la para conhecer um estúdio e assim o esporte deu lugar à arte.

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Com a pasta de desenhos realistas embaixo do braço, foi procurar trabalho no Rio de Janeiro. Não demorou para o pequeno estúdio, que conseguiu emprego,  ser substituído por um maior, onde trouxe uma importante bagagem de biossegurança e atendimento ao cliente. 

Após a pandemia e com experiência em três diferentes locais em São Paulo, Bia percebeu que era hora de ter seu próprio negócio. Em uma sala de 70 metros quadrados, ensolarada, com bonequinhos no formato de cachorros vestidos de super-hérois, um sofá preto onde ela acomoda seus clientes para preencher o formulário com perguntas sobre saúde e alergias, começa a sessão. 

A decoração do estúdio da tatuagem. Foto: Cris Berger

Antes deste momento presencial, a imagem a ser tatuada já deve ter sido escolhida, assim como, o local do corpo. No estúdio, já na frente de um espelho de corpo inteiro, você deve definir o tamanho final da tatuagem, que tem uma versão impressa. Eu escolhi a menor, que ainda assim, ocupou todo o meu braço. 

Versão impressa do desenho para teste do tamanho. Foto: Cris Berger

O próximo passo é aplicar o decalque para se certificar de que a posição está correta. 

Decalque usado para marcar a posição e referência. Foto: Cris Berger

Então, deitei na maca. Minha cabeça ficou apoiada em dois travesseiros. O ar condicionado me faz esquecer do calor indecente que fazia na rua. Na televisão estava passando um jogo de vôlei, que logo foi colocado no mudo, pois eu queria gravar essa entrevista e não perder nada da história da Bia e nem das curiosidades deste mundo das tatuagens. 

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Quando eu perguntei para a Bia como ela entrou no segmento de tatuagens de pets, ela já havia contornado as patinhas da Ella. "Eu não escolhi, aconteceu na minha vida e abracei. Eu trabalhava em um estúdio com tatuadores muito renomados. Os pedidos de realismo entravam para eles. Eu pegava trabalhos menores: mandalas e florzinhas. Um belo dia, uma moça que queria apenas fazer o contorno do seu pet disse que havia visto no meu Instagram alguns desenhos e perguntou se eu não poderia fazer do cachorro dela. Fiz e ela adorou". 

Dali para frente, os pedidos de realismo de pets passaram a crescer e quando ela se deu conta, sua agenda estava lotada. Pelo que pude concluir, tatuador é um pouco terapeuta também, afinal, serão algumas horas lado a lado e, fatalmente, uma conversa vai acontecer e nela estará uma emocionante história sobre o cão ou gato, que são os animais que mais tatua. "Nunca é só a tatuagem de um cachorro. É o Nino, é a Paçoca, é a Ella. É um vínculo muito grande que só quem tem um pet entende a conexão", explica Bia. 

Durante a sessão de tatuagem. Foto: Arquivo pessoal

Realismo

O realismo é identificar o tom de cinza e reproduzir, por isso, a Bia tatua com a foto no tablet e também impressa e vai marcando a pele pedacinho por pedacinho usando as linhas do decalque como base. Uma sessão pode demorar de quatro a 12 horas, dependendo do tamanho da tatuagem, o local do corpo, o número de paradas e se a prosa estiver boa. 

A foto principal guiando o desenho no braço. Foto: Cris Berger

Nós quase conseguimos terminar no mesmo dia em uma sessão de cerca de cinco horas e um pequeno intervalo, mas a minha pele estava bem sensível no final e pedi para o acabamento ser feito em outro dia. Na minha opinião a tatuagem está perfeita, mas a Bia garantiu que ela ficará ainda mais bonita. 

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Resultado da primeira sessão. Foto: Cris Berger

Fiquei pensando nos motivos que fazem uma pessoa querer fazer uma tatuagem, que é um ato de coragem, pois é uma imagem que ficará para sempre no corpo, sem a possibilidade de ser removida. No meu caso, era mais uma forma de estar conectada à Ella, mesmo sem a sua presença física. 

Cada vez mais, não vejo sentido em termos de cortar radicalmente os laços com quem adoeceu e partiu e ignorar tantos anos de convivência e amor. O que nos resta são memórias e a tatuagem é uma forma de nos lembrar para sempre de quem amamos. 

Como explica a psicóloga especializada em luto Juliana Sato: "Em momentos de intensa angústia e dor pessoal, a tatuagem pode se transformar em um escape, um símbolo registrado no corpo. Esse fenômeno envolve diversas camadas, tanto físicas, como a própria pele que carrega a tinta, quanto psicológicas, ligadas aos significados conscientes e inconscientes dessa escolha. Para alguns, tatuar-se é como criar um álbum de memórias visível ao mundo, preservando experiências e momentos que não querem esquecer."

Opinião por Cris Berger
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