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Cris Berguer indica bons lugares para conhecer com seu melhor amigo: o cachorro

Opinião|Vamos dar nossa opinião sobre cães em locais que servem comidas

Por Cris Berger

Quantas vezes você escutou a desculpa: "a vigilância não permite animais dentro do restaurante, por isso, vocês só podem sentar nas mesas da calçada?" E lá íamos nós para o calor, o frio, uma possibilidade de chuva porque não tínhamos outra opção. 

Ella no restaurante Jacarandá. Foto: Cris Berger

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No município de São Paulo cães acompanhados de seus tutores podem sim entrar na parte interna de uma local que sirva comida, contanto que a mesa esteja distante da manipulação de alimentos.  

O que temos de novo: a vigilância sanitária do Estado de São Paulo, que até então não permitia animais de estimação, vai permitir. E o mais louvável: abriu uma consulta pública.

Vamos, então, entender o que a oportunidade, que nos foi dada de opinar, acarretará em nossas vidas. Para quem vive em São Paulo capital, nada, mas para os demais municípios pode ser muito.

É importante entendermos que cada cidade é regulada pela vigilância municipal e que a do Estado não pode interferir nela, como explica o advogado de causa animal Dr. Leandro Petraglia: "Muito embora a saúde seja competência concorrente de todos os entes públicos, o estado não pode intervir no município para questões locais, como a fiscalização sanitária, pois as competências legislativas do estado e do município tratam de situações diversas." 

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Porém se um município ainda não permite animais nos seus estabelecimentos, a regra estadual pode ser um "modelo" para que isso venha a acontecer. Portanto, toda mudança de regras que não são inclusivas aos nossos cães merecem consideração. Ainda mais quando temos direito de participar. 

A gerente de assuntos públicos da Mars Brasil ,Katia Souza, expõe muito bem: "A abertura de uma consulta pública pela Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo é importante e mostra que o órgão está atento às necessidades dos tutores e disposto a ouvi-los. É apenas um primeiro passo, mas não deixa de ser fundamental para melhorarmos as políticas públicas para os pets."

Quem decide é o estabelecimento

Assim como as companhias aéreas decidem sobre o transporte de animais, o local que serve comidas pode aceitar ou não o seu cachorro. Ou seja: a cia aérea decide quem pode voar a bordo da cabine e o restaurante se você e seu pet terão acesso ao salão principal. Escolha quem valoriza seu filho pet. 

Sabemos que muitos locais aceitam por modismo, pressão do público e oportunismo. Ninguém quer perder um cliente e seu dinheiro. E até aí, tudo bem, afinal, vivemos em uma sociedade capitalista e temos contas a pagar. O problema é quando estes estabelecimentos não se preparam para nos receber corretamente e reservam para nós o pior espaço, além de oferecem um péssimo serviço. E vou mais longe: ruim mesmo é quando as companhias aéreas e restaurantes não cobram que os tutores promovam um bom comportamento dos seus cães e preferem proibir o acesso deles. Nem temos a chance de provar que estão preparados para viver em sociedade sem prejuízo a ninguém. 

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Derrube o mito 

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Não existe nenhum artigo na regulamentação da vigilância sanitária do Estado de São Paulo, que está por vigorar, ou na do município que já vigora, que diga ser proibido cães na parte interna. Nem uma única linha. Apenas é ordenado que os animais não estejam perto da área de manipulação dos alimentos, ou seja, cozinha ou buffet. E, veja só, a vigilância orienta que o espaço pet friendly seja protegido da chuva e do sol. Irônico, né? Os locais afirmam categóricos que a vigilância não permite cães no salão principal, quando ela diz exatamente o contrário. O que ela não aceita é cães ao relento. 

Veja o que o artigo 4 indica: "Art. 4º Os estabelecimentos comerciais e serviços de alimentação com área de consumo devem possuir espaço identificado e destinado para os consumidores e seus animais, revestido de piso liso, impermeável e lavável, protegido contra sol e chuva, provido de ponto de água para higienização frequente."

Itens novos

O que tem de diferente entre a vigilância municipal e a estadual? O Estado cita os potes de água e o cardápio pet e exige que a higienização seja feita separada dos utensílios usados para servir as pessoas. O mesmo deve ocorrer com o preparo dos alimentos oferecidos aos pets. Através da assessoria da Universidade Pet Friendly, isso já é orientado aos estabelecimentos associados, portanto, não vejo nada de errado com este artigo.

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Ella com pote de água, colchonete e gancho para prender a guia. Foto: Cris Berger

Grupo de debate

Levei este debate para o Instagram e fiquei surpresa como as pessoas manifestaram o desejo de falar sobre o tema, por isso, criei um grupo de WhatsApp para conversarmos e fiz uma pesquisa para entender o consumidor, neste caso os pais de pets. 

Praticamente 100% dos entrevistados reclamam do local pet friendly que não permite que seu cão tenha acesso ao salão principal. A necessidade do treinamento dos garçons aparece como o segundo item mais votado na pesquisa, quando é feita a pergunta sobre o que é fundamental ter em um local que aceita pets. A existência de uma regra pet e o gancho para prender a guia vêm empatados com 60% dos votos.

Apenas 28% considera o pote de água como um item fundamental a ser oferecido pelo estabelecimento e 70% vê valor em um colchonete e concorda que o cão não pode ficar na passagem entre as mesas. Quando questiono se o local pet friendly em questão deve intervir caso um cachorro lata de forma excessiva, 68%  opinam que sim. O número sobe para 91% quando se trata de um cachorro agressivo que ameace morder. E 79% fica incomodado com cães fora da guia.

Educação: sempre esquecida! 

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Não acho correto o artigo nove da vigilância estadual, que deixa os estabelecimentos decidirem o porte aceito. Isso vai completamente contra os nossos conceitos pet friendly. Os cães não podem ser categorizados por tamanho, mas sim por comportamento. 

Inclusive, eu fico chocada por nada ser dito sobre educação nas regras das duas vigilâncias. Uma pena porque  isso é o mais importante e o grande divisor de águas. Afinal, um cão equilibrado é sempre bem-vindo em qualquer local. Provei isso com a Ella durante 10 anos e não apenas em restaurantes e hotéis como também em aviões e hospitais. 

"Seria interessante que o Estado também se posicionasse como um balizador de instrumentos para os municípios, desenvolvendo, por exemplo, um guia de boas práticas, com treinamentos e regras para estabelecimentos, entre outras iniciativas", sugere Souza da Mars Brasil. 

O que os tutores pensam

Alguns cães nascem quase prontos e com uma condução básica dos tutores, podem frequentar tranquilamente qualquer espaço público, porém, há pets que precisam de um treino mais elaborado. Esse ponto de vista também é compartilhado pela adestradora Lilian Carneiro, tutora de onze cães, que argumenta de forma muito assertiva: "A questão é que estamos engatinhando, pois tanto tutores como estabelecimentos estão despreparados. Adestramento não é um consenso e leva um tempo para criar esse cenário como vemos em outros países. Até lá, a gente vai ver muitos problemas."

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E não é só Carneiro que defende a importância do bom comportamento por parte dos cães corretamente instruído pelos tutores, o criador de cães e adestrador, Marcelo Ravagnani opina: "O meu sonho é ver as pessoas fazendo as suas partes e formando cães educados. Dessa forma, os locais irão ver com outros olhos o ato de aceitar pets". 

Outra visão absolutamente correta é da bancária Daniela Okuma, tutora do Leo e da Jujuba: "Não fica claro o que os restaurantes podem exigir dos tutores que descumprem as boas práticas. Sem esse respaldo, eles preferem não aceitar do que ter problemas". 

Regra pet do Jacarandá orientando os pais de pets. Foto: Cris Berger

Falta de conhecimento

A administradora Andréa Yamazaki, tutora da Suri, desabafa: "Tive uma experiência ruim no shopping Morumbi, que permite cachorros no corredor dos restaurantes, porém amarrados do lado de fora". Eu já estive com a Ella nessa área e podemos ficar na varanda da Frutaria São Paulo. Na verdade, não é uma regra do shopping, mas de cada estabelecimento. Durante a nossa assessoria para a rede Andiamo, precisei entrar em contato com a administração do shopping Eldorado e Bourbon Pompéia para pleitear o acesso dos cães, pois eu sabia que não infringiria as regras da vigilância sanitária municipal de São Paulo. Consegui em todos. 

Andréa Yamazaki e Suri em um restaurante pet friendly. Foto: Arquivo pessoal

Mesas próximas

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A agente de viagens Rayana Mata acha que deveria ter mais espaço entre as mesas e relata sua experiência: "A Nala vai comigo para vários lugares e fica aos pés da mesa, porém ela é grande, os corredores são estreitos e os garçons quase pisam nela. Acho válido estabelecer um maior espaçamento das mesas nas áreas pet friendly".

Faz todo o sentido o seu pedido pelo ponto de vista do cliente acompanhado de um cão, porém isso não encaixa com o espaço físico de grande parte dos restaurantes que tem mesas bem próximas umas das outras. 

Pedir para um estabelecimento aumentar o espaçamento entre as mesas significará perder lugares e, consequentemente, faturamento. Creio que isso não será acatado pelo comércio. Ainda assim, sugiro que um estudo seja feito para identificar a mesa que tem condições de acomodar melhor cães de porte médio e grande. 

Treino das equipes

"As equipes deveriam ser treinadas pensando no bem-estar dos animais: em como agir no caso de brigas e também de forma preventiva", opina Carneiro. Considero a sua colocação sobre como evitar atritos extremamente válida e, por isso, no curso da Universidade Pet Friendly, orientamos como o garçom deve chegar à mesa. Agora, ele saber como apartar uma briga seria uma expertise para um adestrador. 

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Mais um caso que demonstra a falta do treino das equipes foi relatada por Yamazaki: "Liguei uma vez no Bar do Juarez da unidade da Joaquim Nabuco para saber se eles eram pet friendly e quem me atendeu respondeu: - Claro que não, isso é um restaurante e desligou na minha cara. No Juarez de Moema, eles só deixam você ficar nas mesas do parklet. Sem saber disso, sentei em uma mesa da calçada. Por sorte, uma família gentilmente se dispôs a trocar de mesa conosco". 

Mesas na calçada

A vendedora Bianca Brisa, tutora da Betina e da Mocinha, relata: "Tenho medo dos cães que andam pela rua sem guia e podem avançar nas minhas cachorras quando sentamos na calçada." A Bianca tem toda a razão de ter essa preocupação. As mesas na calçada deixam os cães à deriva. Toda vez que eu me sentava em uma mesa assim, ficava tensa e precisava estar ainda mais atenta ao ambiente externo. 

Veja bem, não sou contra as mesas na calçada ou no parklet. Em um dia ou noite de tempo bom ou em um local mais tranquilo, elas são ótimas, porém a questão da violência urbana, barulho dos carros, cães sem guia e intempéries de tempo fazem que os pais de pets não gostem de elas serem a única opção viável.

A advogada Renata Belmonte, tutora do Jorge, também reclama das mesas na calçada e salienta o despreparo dos garçons: "Te deixam na calçada sem um tapetinho para o pet e com garçons despreparados. Teve uma garçonete que tirou meu pedido a quase um metro de distância por ter medo de cachorro". 

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Eu tenho pena dos garçons que são obrigados, sem nenhum treino, a terem de atender as mesas com cachorros. Escuto diversos casos de mordidas, portanto, essa garçonete deve ter tido uma má experiência anterior e a cliente, que não tem consciência disso, sente-se; com razão; discriminada. 

E o que dizer quando a área dos fumantes é a mesma dos cães? A analista de comércio exterior Cynthia Sant'Anna, tutora da Nina Maria e Pipa Sofia, sente-se revoltada: "Outro absurdo é fazer da área pet friendly a mesma área de fumantes. Se já faz mal cigarro pra gente, imagina para os animais." desabafa.  

É possível, basta treinar

A educadora canina Manu Moraes explica o que significa para um cachorro ir a um estabelecimento que serve comida:  "Ele terá que sentir o cheiro de comidas diferentes, ver uma pessoa estranha se aproximando, pegar algo e levar embora". Para um cão, estes são estímulos desafiadores. 

Moraes também comenta como o cão deve se comportar: "Durante a sua permanência ele deverá ficar calmo e deitado por um bom período de tempo sem interagir com outros cães e pessoas". 

Ella (sentada tranquilamente) e Cris no Jacarandá. Foto: Arquivo pessoal

Para que o cão consiga vivenciar essa situação sem se agitar, latir ou morder outro animal ou o garçom, deve ser treinado em casa. "Há pontos chaves de treinamento, que ele precisa receber em casa antes de chegar em um restaurante, entre eles, estão não pedir comida na mesa e ficar deitado no tapete de forma tranquila. 

Segundo a educadora, na maioria das vezes, qualquer cão pode aprender a frequentar um local pet friendly e gostar. "Se envolver reatividade é outro patamar, pois no momento que existir o gatilho, ele pode se sentir excitado e com medo". 

Moraes conta como a boa educação dos seus cães abrem portas nos estabelecimentos: "Eu estava em um café, em uma pequena cidade, com meus dois pastores belgas malinois, que ficaram deitados quietos ao meu lado. Este exemplo faz com que o lugar pense que realmente não vai ter problema." Este relato me faz lembrar da minha vida com a Ella, por 10 anos, pois seu comportamento fabuloso sempre nos fez bem-vindas em todos os locais. 

Quem quiser participar da consulta pública deve enviar um e-mail para cp_cvspet@cvs.saude.sp.gov.br até o dia 12 de dezembro. 

Opinião por Cris Berger
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