Transtornos mentais e suas diferenças entre homens e mulheres

Opinião | Depressão Pós-Parto em perguntas e respostas

PUBLICIDADE

Foto do author Dr. Joel Rennó
 

Introdução

PUBLICIDADE

A gestação e o puerpério são períodos da vida da mulher que envolvem inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e de inserção social, as quais podem refletir diretamente em sua saúde mental. As mudanças provocadas pela vinda do bebê também envolvem fatores socioeconômicos, principalmente nas sociedades em que a mulher está inserida no mercado de trabalho, participando do orçamento familiar e cultivando interesses profissionais e sociais diversos. Não há dúvida de que os primeiros 6 meses -ou mais- após o parto podem ser exaustivos, com ansiedade elevada e insegurança das mães com a nova responsabilidade.

O que a mulher com depressão pós-parto sente?

A depressão pós-parto propriamente dita é uma condição comum que afeta 15% a 30% das mulheres no puerpério e pode persistir, se não tratada corretamente, até por cerca de 1 ano em 40% das mulheres. Entretanto, a maioria dos casos apresenta melhora espontânea em um período de 3 a 6 meses. caracterizando-se por humor deprimido, cansaço, ansiedade excessiva, insônia, irritabilidade, alterações do apetite e do peso além de dificuldades e perda de prazer nos cuidados com o bebê o que costuma resultar em sentimento de culpa. Tais sintomas afetam portanto a relação mãe-filho ou toda a estrutura familiar e devem ser diagnosticados precocemente para minimização de tais prejuízos.

Na depressão pós-parto, há sugestão de haver um componente ansioso mais proeminente, além de pensamentos recorrentes de causar danos à assistência e aos cuidados com o bebê que geram grande sofrimento à mulher. Além disso, é freqüente o relato de sentimentos ambivalentes acerca do bebê e de opressão pela responsabilidade de cuidar dos filhos. Esses dados apresentam-se em favor da possibilidade de especificidade do conceito de depressão pós-parto- algo ainda não totalmente definido na medicina.

Publicidade

O diagnóstico é feito no ciclo gravídico-puerperal?

Apenas 18% das mulheres diagnosticadas com depressão na gestação e no pós-parto procuram tratamento, em parte porque alguns sintomas confundem-se com a gestação normal ou pós-parto imediato (alterações de sono, apetite, cansaço, preocupações excessivas) e em parte em razão da crença de que esses devem ser períodos de satisfação e não de tristeza na vida da mulher.

Muitos quadros de depressão pós-parto acabam não sendo diagnosticados pelos profissionais de saúde porque tais estados de exaustão da depressão são considerados "normais". Durante as avaliações de pré-natal costuma-se dar pouca importância à saúde mental.

O único fator ambiental que parece ser significativo é a percepção da mulher a respeito do suporte afetivo do parceiro. Não há dúvida de que os primeiros 6 meses -ou mais- após o parto podem ser exaustivos, com ansiedade elevada e insegurança das mães com a nova responsabilidade. Parece haver papel hormonal relevante, a queda hormonal abrupta de estrogênio e progesterona que ocorre logo após o parto são fatores importantes do início do quadro em mulheres vulneráveis, com antecedentes pessoais ou familiares de depressão e sujeitas a gatilhos estressores típicos desse período perinatal.

Qual a diferença de depressão pós parto e baby blues?

Publicidade

O blues puerperal que ocorre em cerca de 60% das mulheres é uma condição de ajustamento das mulheres às mudanças estressoras que podem ocorrer após o nascimento do bebê, não é uma doença, ocorre nos primeiros dias do puerpério e tem uma duração máxima de duas semanas remitindo espontaneamente, sem a necessidade de medicação, apenas com suporte e assistência a essa mulher. Importante familiares e médicos ficarem atentos porque cerca de 20% desses quadros podem evoluir para um episódio de depressão pós-parto que daí sim é uma doença mental que precisa ser diagnosticada e tratada o mais breve possível. Na depressão pós-parto, os sintomas precisam ser persistentes por mais de duas semanas, causarem sofrimento, mudanças de humor e comportamento significativos que prejudicam o funcionamento e interação dessa mulher puérpera.

A Depressão Pós-Parto (DPP) deve ser tratada mesmo com a mulher amamentando?

A depressão pós-parto não tratada pode oferecer consequências negativas tanto para a mãe quanto para o bebê e também para o estabelecimento do vínculo entre ambos. Pode também impactar no relacionamento conjugal.

Ao se prescrever um antidepressivo para uma lactante, deve-se levar em conta que há dois pacientes a considerar: a mãe que precisa de tratamento; e o bebê que não carece de medicações, mas necessita da mãe sadia e em condições de lhe prestar cuidados indispensáveis. Não tratar essas mulheres pode oferecer, além dos riscos à saúde dos bebês, um prejuízo na formação do vínculo que se estabelece entre eles, atrasando o desenvolvimento psicomotor, cognitivo e de linguagem do bebê.

De modo geral, as lactantes não devem ser aconselhadas a interromper a amamentação mediante a necessidade de usar um antidepressivo em quadros de depressão moderada e severa. A psicoterapia interpessoal e cognitivo-comportamental isoladamente são eficazes em quadros leves. Mas isso só pode ser avaliado pelo especialista.

Publicidade

Os antidepressivos mais prescritos, conhecidos como antidepressivos serotoninérgicos (que regulam a concentração do mensageiro químico cerebral serotonina) são considerados o grupo de escolha para mulheres amamentando porque são bem tolerados, têm eficácia em sintomas ansiosos e maior número de casos estudados quanto à segurança para o recém nascido. A paroxetina, a sertralina e o escitalopram têm sido as medicações mais escolhidase cabe ao psiquiatra escolher o mais adequado após avaliação clínica individual.

A Depressão Pós-Parto prejudica a amamentação?

A DPP pode ser mais grave e mais prolongada (se não tratada corretamente) em mulheres que estão amamentando segundo alguns estudos. Outro aspecto relevante e estudado na atualidade é a associação entre depressão pós-parto e a concentração do leite materno. Embora não totalmente estabelecido, alguns estudos mostraram que a resposta endócrina à lactação pode ser diferente nas mulheres deprimidas com níveis mais baixos de ocitocina e hormônio tireoidiano (T4) levando-as a secretar menos leite com possibilidade de interrupção precoce da amamentação.

Conclusões

O pós-parto imediato é um período de vulnerabilidade aumentada à DPP em mulheres com fatores ambientais estressantes ou naquelas com episódios prévios de depressão.

Publicidade

Mulheres de risco para DPP devem ser acompanhadas desde o início da gestação durante suas consultas de rotina do pré-natal. Aquelas que já utilizam antidepressivos e com histórico importante de DPP devem ser desaconselhadas quanto à parada dos medicamentos e incentivadas a procurar a ajuda de um psiquiatra com especialização nesta área de atuação.

A DPP não tratada corretamente pode levar a prejuízos importantes na amamentação, no estabelecimento precoce do vínculo mãe-bebê e no desenvolvimento cognitivo, afetivo, psicomotor e de linguagem do bebê.

O tratamento pode envolver psicoterapia nos casos leves e medicação antidepressiva com psicoterapia nos casos moderados a graves.

REFERÊNCIA

Tratado de Saúde Mental da Mulher, Editora Manole, 2024. Editor: Joel Rennó Jr

Publicidade

 

 

Opinião por Dr. Joel Rennó

Professor Colaborador da FMUSP. Diretor do Programa Saúde Mental da Mulher do IPq-HCFMUSP. Coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP. Instagram @profdrjoelrennojr

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.