Comportamento, saúde e obesidade

Opinião | A reatividade como forma de expressão das dores emocionais

É importante buscarmos compreender a responsabilidade que temos em curar as feridas que ainda estão vivas dentro de nós

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Foto do author Luciana  Kotaka
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Não precisamos fazer muito esforço para lembrarmos de alguma cena em que uma pessoa reagiu prontamente a um comentário ou a uma situação sem necessidade, chamando a atenção pela agressividade. Acredito que até você que está lendo esse texto também poderá se identificar com essa questão, pois naturalmente reagiremos reativamente em algum momento da nossa vida.

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Iremos nos deparar com diversas situações que nos sentiremos ameaçados, seja quando passamos em uma rua conhecida por ser perigosa, ou quando ficamos sabendo que um vizinho teve a casa roubada. Nesses momentos é esperado que os nossos sentimentos fiquem mais acentuados, ficamos com medo, tensos, com raiva, pois são situações pontuais que ameaçam a nossa integridade física e emocional.

Mas quando me refiro à reatividade como uma situação tóxica, estou chamando a atenção para situações em que reagimos prontamente a qualquer coisa que nos falem. Levantamos as defesas, saímos atirando pedras, nem ouvimos ou buscamos compreender o que a situação quer nos dizer. Sentimos a necessidade urgente de nos defender, é como se estivéssemos sendo vítimas de um ataque e já saímos bombardeando o alvo. Nem sempre percebemos a nossa responsabilidade nos conflitos, e nesse processo afastamos do nosso convívio pessoas muito importantes, pois ninguém quer ser alvo constante desses ataques e conflitos.

Se você não havia lembrado de alguma situação até este momento creio que agora já você já deve ter puxado na memória algum momento em que se viu dentro dessa situação, não é verdade? E está tudo certo, afinal todos nós estamos aprendendo a lidar com os nossos sentimentos e comportamentos o tempo todo. Ninguém nasce perfeito, todos nós erramos uma vez ou outra. E esse é um ponto importante, pois caímos facilmente na idealização de precisarmos estar sempre certos, e mesmo que ninguém nos aponte os nossos erros, nós mesmos estamos ali agindo como nossos próprios carrascos, não nos perdoamos por nenhum deslize.

O fato é que dificilmente paramos para acolher as nossas dores internas, e muito menos buscamos ajuda para nos entendermos, ou entendermos o outro, pois o contrário também acontece. Toda pessoa reativa tem um histórico de dor, pois viveram muitas situações de humilhações, de acusações, onde faltou acolhimento, amor e respeito. Desta forma ficamos tão machucados que não toleramos mais entrar em contato com a dor, e a menor possibilidade de sentirmos novamente a dor, saímos atacando o outro na tentativa de nos defender.

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Percebem como isso é complexo e como na maioria das vezes tudo isso está somente na nossa cabeça? É importante estar claro que na maioria das vezes ninguém quis nos atingir, mas por estarmos em posição de ataque o tempo todo pelo nosso histórico de vida, acionamos automaticamente as nossas armas e as disparamos.

A reatividade normalmente é um mecanismo de defesa, cabe a nós olharmos para como estamos nos comportando, como tem se dado as nossas interações com outras pessoas para então buscarmos ajuda para curar as feridas que ainda não estão cicatrizadas. Muitas vezes falamos que o que passou está morto, mas infelizmente não é verdade, o passado está vivo na nossa cabeça, principalmente experiências que envolvem muita dor e descaso.

 

 

 

 

Opinião por Luciana Kotaka
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