Em nome do amor protegemos excessivamente os nossos filhos, e ainda frisamos que o nosso comportamento, o nosso excesso de cuidado é por amor. É tão delicado separar o amor saudável do amor controlador, pode ser bem desafiador perceber qual movimento estamos fazendo. Eu como mãe entendo que vivemos em um momento onde está tudo muito perigoso, também preciso cuidar dessa parte controladora que há em mim para não invalidar as iniciativas de meus filhos por medo.
Algo importante que precisamos entender é que a partir do momento em que nascemos já estamos correndo o risco de morrermos, não sabemos o que irá nos acontecer e isso gera uma grande angústia. Essa angústia na maioria das vezes fica escondida no nosso inconsciente, levamos a vida sem pensar muito sobre esse assunto, mas na verdade nós a deixamos aparecer cada vez que nos sentimos vulneráveis. Quando constituímos uma família esse medo e essa angústia afloram e passamos a querer controlar os filhos na tentativa de protegê-los do mundo, e é claro que isso é perfeitamente natural.
Mas quando esse cuidar extrapola os limites adequados para a saúde emocional de nossos filhos acabamos podando as suas iniciativas, atravessamos na frente e fazemos por eles. Privamos nossas crianças de muitas experiências que teriam um impacto importante para o crescimento delas, inclusive que as ajudariam a amadurecer e a se defenderem futuramente.
Ouço muitos pais reclamando da falta de iniciativa dos filhos, ou mesmo adultos que me procuram por não conseguirem alavancar em suas carreiras, não se lançam para a vida, ou mesmo não conseguem estabelecer um relacionamento com um parceiro. Quando olhamos para a história dessas pessoas identificamos o mesmo padrão de comportamento dos pais, que por amor cercearam muitas iniciativas ou mesmo não permitiram que os filhos realizassem simples conquistas.
Pode até parecer exagero, mas ainda hoje vemos pais querendo dominar até o processo de terapia dos filhos adultos, invadindo o espaço que é deles. Esses mesmos pais hoje reclamam que os filhos não param em nenhum trabalho, não ajudam em casa, ou mesmo ainda dependem deles financeiramente.
Quando olhamos para essas histórias vemos vários comportamentos como amarrar os tênis dos filhos quando eles já tinham condições de amarrar sozinhos, quando iam a médicos não deixavam os filhos falarem o que sentiam ou pensavam, os passeios da escola eram perigosos demais para deixarem ir, lembrando que tem pais que seguem os ônibus escolares em atividades extracurriculares ou dão um jeito de irem juntos.
Claro que entendo a insegurança que dá quando vão surgindo novas oportunidades na vida deles, porém é preciso controlar o medo e a própria insegurança. Os filhos precisam sentir essa segurança de seus pais para seguirem em frente, precisam ser validados em suas iniciativas e incentivados a explorar a vida.
Lembro a primeira vez que meu filho decidiu ir até Florianópolis com os amigos dirigindo, também me senti insegura, o medo também gritou dentro de mim, mas ele é adulto, sabe dirigir e preciso confiar que ele sabe fazer escolhas. Cabe aos pais orientarem, mas eles precisam seguir os próprios caminhos, explorar o mundo e se lançarem para a vida.
Quando decidimos por sermos pais não pensamos no quanto seria desafiador, quando os mesmos se tornam adultos vamos perdendo a nossa função primária, e nesse momento é preciso encontrar um caminho. É claro que uma vez que somos pais sempre seremos e estaremos ali para eles, mas em um lugar de acolhimento, de parceria, de orientação. Quando passamos a ser dispensáveis é porque eles estão no caminho certo, e ficamos ali admirando e vibrando por cada conquista, ou acolhendo a cada dificuldade, mas permitindo que eles caiam, se frustrem e cresçam, afinal esse é o processo de amadurecimento que a vida exige de nós.