Você já percebeu que todos os dias nos deparamos com algum artigo sobre emagrecimento? Não importa qual o veículo, esse é um assunto que serve de combustível para matérias, blogueiros, empresas farmacêuticas, mundo da moda, entre tantos outros profissionais e produtos.
O que mais me espanta é que ainda hoje em que temos tantas informações acerca do assunto, muitas pessoas ainda acreditam que podem mudar o peso apresentado na balança com algum produto milagroso, ou mesmo com técnicas que prometem o sonho do corpo magro.
Claro que é real a necessidade de mantermos o peso dentro de um patamar saudável, necessitamos dele funcionando em harmonia para termos melhor qualidade de vida e saúde. Mas e quando essa busca pelo corpo magro vira uma obsessão na vida de uma pessoa? E se essa pessoa já apresentar um peso adequado e mesmo assim não se sente satisfeita?
Após trabalhar por tantos anos com o público feminino, vejo que quanto mais informações temos a respeito da necessidade de mudança da postura com relação à alimentação, à atividade física, mais nos deparamos com a insatisfação e o adoecimento emocional dessas mulheres.
Há algum tempo atrás, recebi em meu consultório uma jovem muito bonita, com o peso adequado, porém apresentando um quadro de sofrimento muito grande por não ter o corpo que idealizava como perfeito. Apesar de racionalmente saber que não fazia sentido a sua dor, emocionalmente a mesma se encontrava presa às crenças, ideais, e sofrendo a pressão da família para ser magra. Entenda-se aqui como magérrima, pois somente assim ela estaria dentro do que a família considera bonito para uma mulher.
Casos como esse são cada vez mais frequentes na clínica de obesidade e transtornos alimentares, e percebemos que estamos andando na contramão. Por um lado, nós como profissionais tentando ajudar essas pessoas a mudarem a relação com o corpo, por outro lado, somos bombardeados incessantemente com diversos estímulos que adoecem ainda mais.
Mas talvez a grande questão a se pensar seja a que serviço está essa neurose com o corpo? Quando focamos em uma questão de forma tão obsessiva, estamos querendo tirar o foco do quê? O que em sua vida não está legal que precisa desviar-se da realidade por não suportar a dor?
Parece que não vai conseguir fugir a vida toda, em algum momento terá que se confrontar com esse eu interno que está te escravizando, e quando isso acontecer espero que dê tempo de recuperar sua energia, seu brilho, pois com certeza você os perdeu no meio do caminho.
Mas a questão continua pulsando e trazendo dor, não é mesmo? Então a pergunta é: O que está por trás desse desejo obsessivo de emagrecer?
Voltamos ao ponto de partida.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.