Acredito que muitos de vocês já tenham passado por esse momento e não tenham sido tão impactados justamente por terem mantido uma vida bem corrida e cheia de compromissos além da maternidade, mas nem sempre é assim que o processo de dá, principalmente quando focamos na maternidade. É importante lembrar que a maioria das meninas sonham desde pequenas com a chegada dos filhos, brincamos de boneca, trocamos as fraldinhas, damos leite, mas nem sequer imaginamos o desafio que teremos que enfrentar. O mundo da maternidade é realmente cor-de-rosa, e quando meninas o sonho é alimentado através dos brinquedos e de todo o contexto que criam em torno desse momento.
Quando engravidei do meu primeiro filho eu liguei para minha psicóloga para contar a novidade e ela com muita gentileza me puxou para a realidade, e isso sem dúvida foi muito importante para mim. Até porque eu quando criança brincava com minhas bonecas e adorava, mas a partir da adolescência isso já não era algo desejado, eu simplesmente não queria ter filhos. O desejo surgiu após dois anos de casada, e quando chegou foi rápido, duas semanas depois estava grávida do meu primogênito. Nós mulheres sabemos que voltamos à infância nessa fase, pois a cada loja que visitamos, cada roupinha fofa que compramos nos remete aos sonhos cor-de-rosa da infância.
Porém, a realidade nem sempre é fácil para um grande número de mães, o dia a dia de um bebê dentro de casa, uma demanda constante de atenção nos leva a um estado de exaustão. Nem sempre o que sentimos é tão bonito assim, podemos nos sentir invadidas, limitadas, feias, desajeitadas, ficamos ressentidas dos enjoos, vômitos, e está tudo bem não dar conta de ser a mãe perfeita das brincadeiras de infância. Essa situação piora quando compartilhamos com alguém despreparado e não somos acolhidas, e sim julgadas pelo o que sentimos.
Passamos anos lidando com diversos desafios, cada mamãe terá uma experiência intransferível, e isso torna cada história única. A experiência da maternidade sendo leve ou desafiadora exige uma dedicação de corpo e alma, impactando a nossa vida quando os filhos não dependerem mais de nossos cuidados. Este momento pode ser experimentado com muita alegria ou com muito sofrimento, e durante o processo muitas mães perderão a identidade. Muitas delas não saberão mais o que gostam e querem fazer das suas vidas, se sentirão perdidas, sentindo dificuldades até de fazerem pequenas escolhas.
O desafio chega e ao invés de olharmos para ele com tristeza podemos enxergá-lo como um lindo momento de reconexão, pois agora já podemos ir em busca de novos caminhos. O momento exige outro olhar, agora de uma mãe madura, que após ter criado os filhos pode se dedicar a realizar outros projetos. É o momento de arriscar a fazer coisas novas, sair do papel de mãe para o de uma pessoa desejante. Esse momento pode ser muito difícil realmente para muitas mulheres, mas é fundamental para a sua felicidade e realização pessoal, assim como para a alegria de seus filhos que seguirão as suas vidas certos de que as suas mães estão felizes e os liberam para serem felizes também.
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