Identificado inicialmente no segmento da moda como uma resposta ao período de isolamento e introspecção provocado pela pandemia entre 2019 e 2020, o quiet luxury vai além da definição de tendência e imprime relação direta com o comportamento do consumidor no que diz respeito ao seu estilo de vida. Se um dia o luxo esteve intimamente ligado à ostentação, o conceito de luxo discreto tem levado a sofisticação não só para o guarda-roupa, mas para dentro das casas sem alarde.
(ANELISA É JORNALISTA E DESIGNER DE INTERIORES. PERFIL NO INSTAGRAM: @anelisalopes)
Ainda que suas raízes se encontrem na moda, o quiet luxury é um hábito que esclarece novas diretrizes de compra, a partir da conscientização do uso de materiais sustentáveis e do não-acúmulo de objetos. "Ele reforça ainda mais a valorização do trabalho artesanal, das produções autênticas e autorais, o que eu chamo de triple A do luxo brasileiro", define Celina Bühler, professora e especialista no mercado de luxo formada pela École d'Art, Culture et Luxe (França). Débora Torquato, executiva de marketing do estudiobola, também aponta que a beleza do quiet luxury é a individualidade de cada um, da liberdade de poder escolher o que mais lhe parece certo, independentemente de qualquer movimento pré-anunciado/ditado, marca ou estampa.
Mais que um abrigo, a casa se tornou um templo que precisa estar conectado com os valores e propósitos de quem a habita, consequência da mudança das relações durante a pandemia. O anfitrião passou a valorizar momentos, experiências e memórias. "O quiet luxury se traduz em uma casa voltada para o morador, com design e uma elegância sutil moldados para este conforto. É a mesma relação que fazemos com o guarda-roupa: não é a quantidade, mas a qualidade: três bons ternos, cinco boas calças e cinco bons sapatos", avalia Guilherme Leite Ribeiro, fundador do estúdio Nada se Leva e diretor criativo da Lider.
Referências de design baseadas no minimalismo - no sentido da contenção e boas escolhas do consumo -, biofilia/sustentabilidade e identidade defendem este conceito, cujas escolhas vão além do armário e contemplam ambientes da casa. Especificamente no design de interiores, este movimento enfatiza materiais nobres e naturais e com foco em processos artesanais de produção tanto para mobiliário, artigos de decoração como também enxoval.
"Pedra, madeira, tecidos orgânicos como seda, algodão e linho, além de obras de arte que valorizam o senso estético desempenham um papel significativo não com intuito ostentatório, mas para compor e contar uma história conectada ao ambiente ou com a intenção de promover uma experiência, inclusive sensorial, aliada a elementos tecnológicos, como a automação. As peças são pensadas para atravessar gerações", explica Celina.
Falando em novas gerações, vale ressaltar queelas trazem uma abordagem mais consciente sobre consumo e, principalmente, relacionado a itens de luxo. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com impacto ambiental de suas escolhas: compram menos, porém, com mais consciência na qualidade e durabilidade.
Luxo pata todos? - apesar de estar fortemente ligado a bens de alto valor agregado em razão da origem das matérias-primas, processos de produção e exclusividade, vale destacar que o quiet luxury é um estilo de vida, portanto, a conscientização em torno do consumo que direciona esta postura. Sergio Lessa, arquiteto e coordenador do curso de pós-graduação de Design de Interiores do Centro Universitário Belas Artes, aponta que apropriar-se da biofilia e do minimalismo é uma forma de reproduzir o quiet luxury de uma maneira mais acessível. Marina Kadooka, gerente de marketing da Mundo do Enxoval, compartilha que outra forma de utilizar o conceito é comprar peças-chaves e funcionais, em vez vários itens, além do reuso e aproveitamento de materiais e DIY (do it yourself), que agrega um toque personalizado ao ambiente. Com criatividade é possível criar um ambiente chique e despretensioso segundo ela.
"É quase uma opção de exatamente não seguir uma tendência e, sim, a atemporalidade. Uma antítese ao movimento midiático das redes sociais: a busca deste consumidor é silenciosa porque ele não quer aparecer", conclui Gustavo Bertolini, designer da Evviva.
NOVIDADES NO CIRCUITO
Do corpo para a casa - o Boticário lançou a linha Casa 214, oferta de perfumaria doméstica com três famílias de aromas, Vanilla Sublime, Gardênia Imperial e Brisa de Cedros. A proposta contempla aromatizadores em spray (R$ 134,90), sabonetes líquidos (R$ 104,90), difusores de ambiente (R$ 164,90) e velas perfumadas (R$ 135,90). O nome da nova marca tem como inspiração o endereço original da primeira loja do Boticário, cuja numeração estampava o número 214. Os produtos estão à venda em todas as lojas físicas e no e-commerce da marca.
Leilão da decoração - o site Lance Total promoverá, até as 10h do dia 29 deste mês, leilão de móveis e itens de decoração de luxo com lances mínimos a partir R$ 40. Entre os itens, é possível encontrar desde eletrodomésticos, marcenaria, louças e metais, móveis e decoração assinados por designers, que estão localizados em Moema, São Paulo. Os interessados podem visitar o apartamento decorado em horário comercial até dia 29, quando também ocorrerão os arremates. Para participar, basta acessar o site e realizar o cadastro- todas as negociações são feitas online. A Kwara, marketplace de leilão de bens e produtos, e a Cyrela, também realizam dois leilões online de bens de decorados no Morumbi e em Moema. Os lances, que devem ser realizados até hoje, partem de R$ 50. Para mais detalhes, acesse o site.
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