O Museu Kunsthal, em Roterdã, na Holanda, vai expor até fevereiro de 2017 as obras de Peter Lindebergh, um dos fotógrafos mais importantes da moda contemporânea. A mostra chamada "Uma visão diferente da fotografia de moda" conta com um acervo de 200 fotografias de Lindbergh, que revolucionou a indústria no final dos anos 1980 ao humanizar a moda.
O objetivo do curador Thierry-Maxime Loriot, que dedicou três anos a esse projeto, foi criar uma espécie de desfile a partir das fotos. "Eu queria mostrar o valor artístico da obra de Peter mas, acima de tudo, o lado sensível do seu trabalho, é muito reconfortante observar suas fotografias porque elas ensinam algo natural", diz. No acervo, estão as principais fotografias feitas por Lindbergh, como as capas da Vogue e os retratos de Tina Turner e Pina Baush.
Além dos trabalhos famosos, há também os primeiros cliques feitos pelo fotógrafo que nunca expostos antes. Um deles é o ensaio que fez para a Vogue, em 1998, com as até então anônimas Linda Evangelista, Christy Turlington e Tatjana Patitz. Na época, a editora-chefe da revista, Grace Mirabella, e o então diretor criativo da Condé Nast, o Sr. Liberman, consideraram que Peter não tinha correspondido as expectativas. "Eles pensaram que eu ia fazer um editorial na mesma linha que eles estavam acostumados", afirma Lindbergh. Meses depois a nova editora Anna Wintour encomendou um editorial de capa de 20 páginas ao alemão. As lendárias modelos posando na praia sem maquiagem foram incluidas no livro "On The Edge: Images From 100 Years of Vogue" como a melhor fotografia da década. Na verdade, o mundo da moda tinha mudado para sempre.
Em 1990, outra capa da Vogue clicada por Lindbergh entrou para a história. Dessa vez, a imagem estrelando Linda Evangelista, Christy Turlington, Tatjana Patitz, Naomi Campbell e Cindy Crawford ficou conhecida como a "certidão de nascimento das supermodelos".
Reconhecido como pioneiro em sua área, o fotógrafo alemão ganhou o apelido de "descobridor de top models", mas também foi o artista responsável por estabelecer um novo realismo fotográfico no mundo repleto de imagens de mulheres "muito elegantes, perfeitas e ricas, que usam bolsas de pele de crocodilo". "Eu não entendo a fotografia de moda como um veículo para vender roupas", disse Lindbergh, agora com 71 anos. "Para mim é algo que fala do espírito, das mulheres, e da feminilidade."
É óbvio que a indústria da moda está interessada em imagens que evocam o desejo de consumo, mas a maior preocupação do fotógrafo foi dizer às mulheres como elas devem se vestir. Para o fotógrafo mais emblemático do século 20, "cada pessoa é linda como ela é, sem mudar nada, porque a verdadeira beleza é ser você mesmo" .
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