Levar um fora nunca é legal. Nem descobrir que a paixão na qual você vinha apostando não vai dar em nada. Mas quando eu penso na quantidade de vezes em que fui rejeitada, a pior parte não foi o momento em que descobri que o relacionamento tinha acabado. Foi o que veio antes, aquele terrível período de incerteza quando eu não sabia se a pessoa pela qual eu estava interessada me amava ou não.
Houve o menino que eu namorei no ensino médio, que foi para a faculdade e começou a sair com outra pessoa. Ele não conseguiu chegar e me dizer o que estava acontecendo, durante meses, enquanto eu agonizava com a dificuldade de conseguir falar com ele por meio do telefone do seu dormitório. No final, seu melhor amigo me deu a notícia.
Eu atribuo seu comportamento (e o meu) à inexperiência da adolescência. Mas, mais de uma década mais tarde, como descrevi em meu livro "Unrequited: The Thinking Woman's Guide to Romantic Obsession" ("Não correspondido: o guia de pensamento da mulher para obsessão romântica", em tradução livre), eu me vi numa situação de vai e vem com um homem que estava envolvido com outra pessoa. Ele disse que planejava terminar o relacionamento e ficar comigo, o que não aconteceu.
O desejo de conquistá-lo tomou conta da minha vida. Eu não conseguia comer ou me concentrar. Eu implorei ao residente da emergência local de psiquiatria que me desse algo que fizesse aquele sentimento passar. Eu liguei incessantemente para o homem por quem estava apaixonada e bati em sua porta de madrugada.
Quando fui eu a pessoa que não queria mais, encerrar o relacionamento também não foi fácil. Eu me lembro de todas as desculpas que dei a mim mesma quando sabia que era hora de terminar: a gente não tem se visto há tanto tempo assim, então tenho de dizer alguma coisa? Ou então, pensava que iria ferir tanto a pessoa e que não sabia como lidar com isso.
Eu não queria provocar dor. Aquela culpa pavorosa é provavelmente a razão pela qual o "ghosting" (quando uma das partes desaparece sem dar explicação) está se tornando tão popular, embora seja algo descaradamente grosseiro. Desaparecer parece tão mais fácil do que ferir alguém. Parece que você está ferindo menos. Obviamente, não está.
Quando um relacionamento está uma espiral descendente, o fim claro e humano é a atitude mais respeitosa que você pode ter. Esta é a minha forma de pensar desde que o homem por quem eu estava obcecada disse as palavras pela quais eu serei eternamente grata a ele: não nos falaremos mais. Assim que ficou claro para mim, pude começar a me libertar.
É verdade que ser rejeitado é algo devastador. Os seres humanos são criaturas sociais, destinadas a se conectar com outros, que constroem parentescos e formam comunidades que melhoram nossas chances de sobrevivência. Levar um fora quebra um desses laços. O fim de um romance é particularmente doloroso, assinalam psicólogos evolucionistas, porque interfere no básico movimento humano de continuar a espécie. Nós nos sentimos machucados. Imploramos. A ansiedade é enorme e não conseguimos pensar em mais nada. O estresse de um relacionamento perdido pode enfraquecer nosso sistema imunológico e aumentar o risco de depressão e de outros problemas mentais.
Mas evitar o momento da verdade, quando você tem de ouvir, ou dizer, que acabou, não torna o processo mais fácil.
Quando você é a pessoa que quer manter o relacionamento, dizem pesquisadores, apega-se a qualquer evidência que possa dar alguma esperança. Enquanto a pessoa que quer terminar o relacionamento hesita, a outra é encorajada por sinais positivos, embora vagos (ele retornou minha ligação/ nós fizemos sexo/ ela está muito ocupada esta semana, mas pode ter um tempo para um drink na semana que vem) e não leva em consideração os negativos. Não importa se levou dias para receber a ligação telefônica, ou se o sexo foi totalmente sem sentimento.
"Se houver ambivalência, isso vai prolongar a esperança", disse Roy Baumeister, professor de psicologia da Florida State University e coautor de "Breaking Hearts: The Two Sides of Unrequited Love" ("Corações Partidos: os dois lados de um amor não correspondido", em tradução livre). A situação basicamente reduz você a um estado similar ao experimentado por ratos de laboratório num famoso estudo realizado por B.F. Skinner. Ele descobriu que quando ratos recebem uma bolinha de comida a cada vez que pressionam uma alavanca, eles param de pressioná-la quando têm comida suficiente. Mas se os ratos recebem uma bolinha de vez em quando, eles pressionam a alavanca com mais força e com mais frequência.
Skinner deu ao fenômeno o nome de "reforço intermitente". Você continua tentando obter uma bolinha de atenção porque algumas vezes você consegue uma (e um texto vagamente amigável tem o efeito de uma bolinha!). É o tipo de ciclo que viciados em jogo enfrentam. Algumas vezes eles ganham um pouco de dinheiro e isso faz com que continuem tentando, independentemente de quanto dinheiro tenham perdido.
Em um romance vacilante, o reforço intermitente alimenta a obsessão. Você consegue bolinhas suficientes apenas para continuar a pressionar a alavanca, mas nunca fica satisfeito.
No experimento de Skinner, quando a alavanca para de conceder bolinhas, os ratos logo param de pressioná-la. Um fim claro pode ter um efeito semelhante. Não há mais bolinhas de atenção a esperar. Como consequência imediata, alguém que levou um fora provavelmente vai passar muito tempo pensando no que deu errado. Mas menos de três meses após o rompimento, por exemplo, 71% das pessoas começaram a ter uma sensação de crescimento pessoal, segundo um estudo publicado no Journal of Positive Psychology.
Se o rompimento ajuda as pessoas a seguirem em frente, por que somos tão inconstantes quando o assunto é cortar laços?
Parte da resposta tem a ver com o quão confuso pode ser para as pessoas decidirem se terminam ou não um relacionamento. Elas podem precisar de tempo para chegar a uma conclusão. Mas a outra razão pela qual encerrar uma relação parece tão assustador é que tendemos a entendê-lo como um pecado. Na esteira de uma separação, nós demonizamos a pessoa que colocou um fim ao relacionamento. Como aquela pessoa pode fazer isso depois de tantos encontros incríveis, sexo bom ou alusões sobre o futuro?
Tudo isso deixa quem quer terminar a relação sem boas opções. Se evita falar sobre o assunto e é evasivo, acaba sendo cruel. Mas se o band-aid é arrancado rapidamente, a dor causada é intensa. Não estou dizendo que uma pessoa com o coração partido não deva sentir-se ferida, triste, com raiva e traída. Isso é inevitável. Quem encerrou a relação provavelmente fez uma série de coisas erradas. Mas o fim, em si mesmo, não é uma delas.
Se insistirmos que o fim da relação é o mal maior e reunirmos todos os nossos amigos para que concordem com isso, tornaremos ainda mais difícil para aquelas pessoas que querem encerrar um relacionamento, mas estão hesitantes, a tomarem a atitude. Elas não vão apenas partir o coração de alguém, elas serão desprezadas porque o fizeram.
Precisamos recuperar o fim de um relacionamento de uma forma franca, honesta e honrosa como uma obrigação moral, não um pecado indesculpável.
O fim de um relacionamento é um ato de misericórdia. Uma vez que é feito, você pode parar de pressionar a alavanca e seguir adiante.
Tradução de Priscila Arone
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