Victoria's Secret está tentando se adaptar aos novos tempos; ou não

Moda - e a política - estão muito diferentes, mas a marca de lingeries das 'angels' só parece se importar com sutiãs push-up e asas

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Por Vanessa Friedman
Atualização:
Ming Xi, Grace Elizabeth, Cindy Bruna, Gigi Hadid, Kendall Jenner e Alexina Graham na passarela da Victoria's Secret Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP

A Victoria's Secret não vai ser derrotada sem luta. Ela sabe o que as pessoas estão dizendo: a grife de lingerie é anacrônica; fora do tempo; olha para um ideal de beleza feminino velho e objetificante, que é branco, sarado, seio-centrado e essencialmente sobre interpretar um papel safado entre quatro paredes. Ela sabe bem que já existiram muitas matérias falando que a marca entrou em um espiral com destino a lugar nenhum.  Ela também sabe que a norte-americana Aerie, com sua mensagem de ame o seu corpo, está em seu encalço. E que a Rihanna, com a linha de lingerie Savage x Fenty pensada para todos os tipos de mulher e apresentada na semana de Nova York, está chegando bem perto.  Então, nesta quinta, 8, no Pier 94, em Nova York, o show começou com um vídeo de algumas das mais famosas modelos do mundo falando sobre como a apresentação as fazem se sentir "bem-sucedidas", "poderosas", "empoderadas", "fortes". Sobre como "podemos ser sexy para nós mesmas e quem nós queremos ser, não o que um homem deseja." Ele até deu a deixa para a música "This Is Me" do filme O Rei do Show, apresentada pela cantora Leela James.  E aí veio a roupa íntima. E as asas. E os bodys de diamante. As penas. Teve uma sessão de florais criados pela designer Mary Katrantzou, que faz parte do line-up da Semana de Moda de Londres. (Uma mulher! Veja! Mulheres gostam da VS!). Neste bloco tiveram até algumas calças de cintura alta que pareciam... roupas. Mas não durou muito. 

Behati Prinsloo posa na passarela do desfile Foto: EFE/Jason Szenes

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As modelos encaravam as câmeras (o show será transmitido pelo canal ABC no próximo dia 2); mandavam beijos, rebolavam, faziam corações no ar e balançavam os braços tentando fazer com que a audiência vibrasse. Adam Levine, na primeira fila para apoiar sua esposa, Behati Prinsloo, ficou de pé e gritou todas as vezes em que ela atravessou a passarela.

Durante todos os blocos - foram sete temas, incluindo anjos dourados, celestiais e downtown - uma voz no microfone lembrava que a Victoria's Secret é a única marca que dá ingressos para as modelos convidarem suas famílias. (Veja! Comunidade!) O desfile gera alguns números: 1,6 milhões de pessoas viram o show ano passado, 70% do público foi composto de mulheres. Ele teve 220 bilhões de menções na mídia e nas redes sociais.

O ponto é: lidem com isso, haters. E o problema é: eles lidam. (Enquanto os números na internet estão subindo, as vendas não - uma discrepância que deveria ser notada por todas as marcas que querem transformar likes e fãs em dinheiro.) A Victoria's Secret pode ser - como Edward Razek, o chefe de marketing do grupo L Brands (dono da VS) e homem por trás do show, insistiu em uma entrevista à Vogue antes do show - uma empresa tão poderosa que pode agir sem pensar, com um sutiã que "irá vender mais como peça única do que o concorrente, que anda fazendo barulho ultimamente, lucra em total de vendas." (Aham.)  Ela pode estar fazendo o seu melhor para acompanhar os novos tempos, apresentando mais tops esportivos e deixando de lado os estereótipos culturais que a colocaram em problemas no passado, principalmente substituindo os cocares de índios nativos americanos por algo mais seguro, como luas e estrelas. As modelos estão mais diversas em termos de tons de pele, se não em definição de gênero e tamanho. (Haviam algumas mulheres um pouco curvilíneas na passarela, mas nenhuma que se encaixasse na definição plus size.)

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Kelsey Merritt, Maia Cotton, Willow Hand, Iesha Hodges, Myrthe Bolt e Melie Tiacoh durante o desfile da Victoria's Secret Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP

Mas a sua mensagem principal - como é recebida pelo mundo - é ainda dedicada a sexualidade da era pinup, quando mulheres e seus corpos eram definidos pelo imaginário masculino e estavam à mercê dos mongóis. Quando sua carne era amarrada e sugada para dentro, o decote empurrado para cima a as partes inferiores suspensas pela anatomia dos saltos altos, tudo bem depilado e hidratado, um esconde-esconde feito de maquiagem. Essa era está em vias de extinção. Fingir que não está é ignorar tudo o que aprendemos sobre homens e mulheres e a percepção de perigo. Pensar que apresentar mulheres como presentes a serem desembrulhados não molda expectativas sociais é se enganar. Se a Victoria's Secret deseja continuar relevante culturalmente, ela deve aceitar a responsabilidade de reformar esta conversa. Agora, um simples ato fala demais. A mudança climática não é apenas sobre o meio ambiente.

Gigi Hadid desfilou com uma espécie de paraquedas floral Foto: Angela Weiss / AFP

As modelos parecem jogadoras inofensivas (apesar do número de horas que é sabido que elas passam na academia e que o esforço é desproporcional a um simples jogo.) Mas me mostre os espectadores que assistiram Gigi Hadid cruzar a passarela com botas altas florais, sutiã push-up e um gigante - o que? paraquedas? porque disso? - e pensa: empoderamento!

Me mostre quem observa Shanina Shaik em um conjunto de renda branco e rosa, com tornozeleiras prateadas e um laço gigante amarrado em seu pescoço e diz: "Nossa, essa mulher está vestida para agradar a si mesma." Talvez eles existam. É só difícil de imaginar. 

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