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Reflexões sobre gênero, violência e sociedade

Chris Brown e a reincidência dos agressores

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Por Nana Soares
Chris Brown, o cantor que acumula denúncias ao invés de prêmios. Foto: Pixabay

Em 2009, ganhou o mundo uma foto da cantora Rihanna com visíveis marcas de agressão no rosto, causadas pelo seu então namorado, o também cantor Chris Brown. Rihanna denunciou o caso, terminou o relacionamento e o cantor foi condenado a prestar serviços comunitários (!) por conta do episódio. Declarou-se arrependido, disse ter entendido a mensagem e aprendido com o erro.

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Corta para 2017, com outra ex-namorada acusando o ator de agressão diversas vezes durante o relacionamento. Segundo Karrueche Tran, Brown declarou a amigos que "se ela não ficasse com ele, não ficaria com mais ninguém" (frase bastante proferida por assassinos de mulheres). Por conta das ameaças de morte, a modelo pediu uma ordem restritiva contra o cantor. Hoje, Brown não pode chegar a menos de 90 metros dela.

Semana passada,mais um caso para a lista: o cantor foi fotografado "agarrando uma mulher pelo pescoço". Ao lado, uma terceira pessoa parece agir para soltar a mulher das mãos de Brown. A defesa do cantor alega que o ato foi uma brincadeira entre os dois, que são amigos e assim o permanecem. Brincadeira curiosa de se fazer quando se é um condenado na justiça pelo mesmo crime.

Acho impressionante Brown continuar solto. Mais impressionante ainda que ele consiga namorar outras mulheres apesar de seu histórico que, como é comum em casos de violência contra a mulher, se repete. Sem reeducação, ele é um reincidente, que continua a tratar as mulheres como seres menos humanos e merecedores de violência. Mais dia, menos dia, é denunciado de novo.

Falamos muito sobre combate a violência contra a mulher, sobre melhorar a Lei Maria da Penha, criar mais leis punitivas para outras situações violentas (assédio em locais públicos, por exemplo). Mas falamos muito pouco, mesmo no feminismo, sobre a necessidade de trabalhar com os homens para que deixem de cometer a violência. Faz muito mais sentido (social, econômico, humanitário) prevenir um Harvey Weinstein ou um Bill Cosby (ambos grandes nomes de Hollywood acusados de estupro) do que arcar com os processos e custos sociais das centenas de mulheres violentadas por apenas dois homens.

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Voltando ao Brasil, em São Paulo há o projeto Tempo de Despertar, idealizado pela promotora Gabriela Manssur, e que conseguiu reduzir a reincidência de 65 para 2% entre 2014 e 2016 e acaba de virar lei estadual. O que o projeto faz? Conversa e reeduca os agressores. Oras, se ninguém souber porque deve mudar, não vai verdadeiramente mudar. Falando assim fica óbvio.

Similar é o Masculinidades, que atua desde 2006 na desconstrução de conceitos machistas e da masculinidade nociva. Há tantos outros projetos corajosos na mesma linha, mas infelizmente em quantidade muito aquém do necessário para fazer frente ao tamanho do problema da violência contra a mulher no Brasil. Cansei de entrevistar especialistas dizendo que a reeducação de agressores, prevista pela Lei Maria da Penha, é o aspecto menos cumprido da lei.

Falar com as mulheres é a parte mais fundamental da história. Incentivar a denúncia, a romper o silêncio, a viver a vida mesmo após a violência. No entanto, construir uma sociedade que não nos violenta não é possível sem falar com os homens. Bom seria se isso acontecesse sem que fosse preciso um juiz determinar a reeducação, mas já que não é o caso, que pelo menos esses projetos se multipliquem (no Brasil, nos EUA e no mundo afora), para que um agressor nunca fique sem entender o que é preciso mudar e o porquê.

Enquanto isso não acontece, vamos continuar noticiando sobre os muitos Chris Brown que rondam as vidas das mulheres.


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