Quando se fala de política para infância, educação e saúde devem andar de mãos dadas. De acordo interlocutores do governo, a nova lei não representa uma ação isolada, mas trata-se de um resultado amadurecido da construção de uma nova política de educação alimentar nas escolas, na qual se busca, inclusive, influenciar hábitos alimentares mais saudáveis nas famílias, entre os profissionais da rede e trazer o tema para a vivência cotidiana no ensino, unindo educação e saúde de forma prática.
A regulamentação da obrigatoriedade dos orgânicos foi um dos destaques da apresentação de Erika Fischer, integrante da São Paulo Carinhosa e consultora do Instituto Brasiliana, e ex-diretora do Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, durante o Simpósio O que Grandes Cidades O que Grandes Cidades e Política Intersetoriais Podem Fazer pela Promoção da Saúde e pelo Desenvolvimento Infantil Integral. Coube a ela destacar ações da área de Educação fruto do programa que cuida da primeira infância e comentar as transformações implementadas na alimentação escolar, muitas delas conduzidas por ela no seu antigo posto.
Erika pontuou que a alimentação orgânica integra um trabalho alinhando com a Política que cuida da infância (a São Paulo CArinhosa), também seguindo o conceito de cidade que tem a pauta da educação em todas as suas formas de atuação articulações intersetoriais. Para incentivar ainda mais o desenvolvimento da agricultura familiar, o novo Plano Diretor, por exemplo, também demarcou uma zona rural na cidade, em especial na região sul, em Parelheiros.
"Nós, como responsáveis por adquirir, preparar e oferecer alimentos de qualidades, também somos responsáveis por replicar este conhecimento além dos muros da escola".Em sua apresentação, a especialista em educação e saúde narrou as várias ações e planos interligados que foram utilizados para trocar o conceito de "merenda" por "alimentação escolar", incluindo tudo que o termo traz consigo. "Tivemos a preocupação de desenhar as refeições de acordo com a idade das crianças e o tempo que elas permanecem na unidade escolar, ou seja, com padrões diferenciados para cada particularidade. Além disso, as receitas modificadas temporariamente para ampliação cada vez maior do repertório alimentar."
A alimentação foi, sem dúvida, o ponto alto de sua apresentação, mas ela convidou a plateia a uma reflexão sobre a importância da intersetorialidade para o planejamento e execuções de ações de políticas públicas.Na área de educação na capital, no chapéu da política da infância, citou ações criadas para um cuidado integral com famílias vulneráveis. Destacou uma nova portaria que estabeleceu a priorização de crianças do Bolsa Família e abrigos nas filas de vagas para creche, a(Fila Social), e inovações de cunho administrativo e de articulação política que exigiram muito empenho para enfrentar grandes desafios históricos.
Um deles foi a construção de novas unidades escolares por meio de recursos do Fumcad, algo inédito na capital e que exigiu um grande trabalho de reestruturação jurídica diante ao quadro de déficit de vagas trazidos por décadas anteriores. Outro ponto de destaque foi a adesão a programas federais, antes ignorados, para a ampliação do número de vagas através das CEMEIs e a otimização dos espaços. Também lembrou que o município está implementando indicadores de qualidade da educação infantil, ouvindo toda a comunidade.
Erika atribuiu a possibilidade de execução das ações também às parcerias que a Secretaria da Educação passou a realizar, principalmente à estreita relação com a São Paulo Carinhosa: "Encontramos apoio na São Paulo Carinhosa para atender à expectativas que não seriam supridas apenas com recursos internos, como por exemplo o Fila Social".
"Para dar conta dessa tarefa, foi necessário aprimorar as especificações dos objetos de licitação, reduzir em 50% a frequência de bolos e salsichas, diminuir o açúcar dos bolos em 17%, aumentar as fibras em bolos e em barras de cereal ecolocar mais cacau e menos acúçar nos compostos lácteos. Também foram introduzidos flocos de milho sem malte, bem como peixe e PTS com frequencia bimensal, e ofertados sucos exclusivamente integrais e sem acúcar, de laranja e uva, diariamente."
Erika finalizou expondo fotos de uma grande ação em parceria com São Paulo Carinhosa, que inicialmente começou como um concurso de receitas com foco especial nas merendeiras, mas que acabou se transformando numa política pública, reconhecido neste ano pela FAO."Era óbvio que uma ação como essa traria valorização das merendeiras. E, ainda havia a possibilidade de proporcionar uma comida mais gostosa, mais atrativa."
"Fomos nos encaminhando para ir mais longe do que o concurso de receitas. Batizamos como 'Prêmio Educação Além do Prato', que privilegiava não só a merendeira mas também as ações vindas da escola. A ideia era que se retrabalhasse o tema alimentação, aproximando a comunidade educacional do que vem a ser comida, permitindo uma reflexão maior sobre o alimento e seus impactos e, principalmente, buscando receitas que privilegiassem o resgate de frutas, legumes e verduras. Essa era a ideia. A escola tinha de se envolver, pesquisar sobre o tema, divulgá-lo, envolver as famílias e, ao final, nos oferecer uma receita protagonizada pela merendeira."
"Uma parceria com a ONU, através de um programa mundial de alimentos, que tem um protocolo chamado Centro de Excelência Contra a Fome, também nos ofereceu a parceria, levando as merendeiras vencedoras à uma viagem em missão diplomática para África", afirmou Erika.Citou também outros grandes parceiros que possibilitaram ações que vão desde a divulgação do concurso, até reforma em cozinhas e refeitórios escolares. Hoje, 1 ano após a premiação, gestores escolares afirmam que aumentou em 27% a adesão alimentação escolar."
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