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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Não fico mais de ressaca, fico doente

Se tem uma coisa que eu posso reclamar que eu ganhei depois dos trinta foi a ressaca "de facto".  Eu sei que é papo chato essa coisa de que o corpo não aguenta. Eu vejo, todos os dias, muitos que continuam no mesmo ritmo de quando éramos universitários. E, claro, tem sempre a amiga forte que dá aquele arremate final. Além do vinho, da cerveja, ela ainda toma um digestivo e, no dia seguinte, consegue estar enérgica. Eu não. Me olho no espelho e me dá medo. Por isso, não sei de vocês, mas para mim, um drink hoje em dia pesa uma tonelada comparado com alguns anos.

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Alguém me diz, por favor, COMO eu fazia faculdade, trabalhava, bebia no bar, vagava pela madrugada sem me preocupar e, no dia seguinte depois de um bom banho, estava pronta para outra? Onde está essa pessoa, gente? Hoje não funciona mais assim. Uma tacinha de vinho em dia de semana já é um pequeno ensaio para uma dor de cabeça. Dois chopps, vá lá, mas três é mortal para o dia seguinte. Da-lhe própolis, mel, água água água água água água água. Uma coca-cola (sem ser diet, porque seu corpo pede alguma coisa bem doce) e tudo que desejo depois do almoço é minha cama inteirinha, disponível, mesmo fora de hora.

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Tenho um grupo de amigas da faculdade, muito amadas, que nos reunimos sempre que dá. Cozinhamos juntas, abrimos um vinho, dois - às vezes até três ou quatro - ouvimos de Lou Reed a Clara Nunes e falamos de nós e do mundo. Mas, no dia seguinte, o estrago é inevitável. Todas acabadas. Nós que, poucos anos atrás, saímos de sandália rasteira, de bar em bar, Vila Madalena, Baixo Augusta, sanduíche de pernil do Estadão. Tomávamos algo que, hoje na minha vida, é uma utopia: a saudosa saideira. Nós éramos imbatíveis, fortes, dançantes. Hoje, no domingo à tarde, ninguém consegue se mexer. No sábado, se tem algum evento que começa às 22h, já estamos sofrendo desde de manhã. E nem adianta fazer esquenta, porque a possibilidade de queimar a largada e dormir antes de passar um rímel no olho para sair é monumental.

E não pensem que, porque a resistência piorou para a tranqueira, ela melhorou para a saúde como um todo. Não é que nós (os que ficamos doentes depois de uns drinks) bebemos pouco porque acordamos às seis da manhã e corremos meia-maratona e que, portanto, não combina ficar enfiando o pé na jaca. É um limbo mesmo. Nem a esbórnia da noitada, nem blogueira fitness.

O que me consola é que saudosismo não leva a lugar nenhum. E acabei descobrindo a graça do happy hour, dos churrascos, feijoadas. Das festas que acontecem de dia. A luz do sol combina comigo e não preciso mais chegar em casa com o canto dos passarinhos. Além disso, quando o terceiro chopp chega, não tem nada que um remédio para dor de cabeça não cure.

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