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Ser mãe é padecer na internet

Opinião | Asma não tem cura e precisa ser tratada de forma individualizada

Quais são os sintomas que os pais devem ficar atentos? Médico explica

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A asma não tem cura e representa atualmente a quarta maior causa de internações no Sistema Único de Saúde, segundo o Datasus. São aproximadamente 350 mil casos por ano. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, estima-se que no Brasil existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos - a doença é uma causa importante de faltas escolares e no trabalho. Essa é uma doença crônica muitas vezes subestimada por mães e pais, que encaram essas crises como algo passageiro e pontual. "Você pode levar seu filho no pronto atendimento, passar com o pediatra da emergência para ele fazer alguma coisa, mas se esse quadro começa a ser repetitivo, procure um pediatra da sua confiança, um alergista ou um pneumologista, porque não é comum a criança ter um resfriado várias vezes no ano. Isso não é resfriado, não é gripe de repetição, possivelmente é asma, e aí normalmente um médico que acompanha essa criança tem uma chance muito maior de fazer o diagnóstico", explica o pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Eduardo Cançado. Ele conversou com o blog às vésperas do dia 3 de maio, Dia Mundial da Asma, lembrado toda primeira terça-feira do mês de maio desde 1998 a partir de uma iniciativa global da GINA (Global Initiative for Ashthma), criada pela Organização Mundial da Saúde. O objetivo da efeméride é discutir formas de melhorar a conscientização sobre a doença.

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Blog: Primeiro eu queria entender tecnicamente o que é asma. 

Dr. Eduardo: Asma na verdade é uma inflamação nas vias aéreas, que são os tubos que levam o ar lá pra dentro do pulmão, que são os brônquios, e essa irritação, essa inflamação nas vias aéreas faz com que os brônquios fiquem mais sensíveis e com isso eles fecham quando o indivíduo é submetido a determinados estímulos, e aí passa ter aquelas crises de tosse, de chiado, de aperto no peito, falta de ar.

Blog: A asma geralmente ela começa na infância ou ela pode começar em qualquer momento da vida?

Dr. Eduardo: O mais comum é a asma começar na infância e estar associada à alergia, então normalmente quando ela começa na infância existe uma história familiar de alergia, ou a mãe, o pai, o avô, a avó tem alguma manifestação alérgica que pode ser asma, pode ser rinite alérgica, alergia de pele, então essa é uma herança genética, o indivíduo nasce com essa predisposição para ser alérgico. Mas não basta ter a predisposição genética, o indivíduo tem que ser sensibilizado pelo ambiente e aí sim ele passa a ter essa inflamação. Então é mais comum começar na infância e quando começa na infância existe uma história natural, muitas crianças que têm asma chegam na adolescência, idade adulta, param de ter ou melhoram muito, é muito comum a gente ver algumas mães falando, 'ah, meu filho tinha bronquite e curou'. Não é que curou, essa é a história natural e a gente sabe que tem mais de 100 genes envolvidos na alergia, não é um só, e provavelmente essa diferente genética associada a diferentes disposições é que explica por que em algumas crianças a asma desaparece e em algumas continua ou às vezes desapareceu e voltou depois de adulto. Mas essa doença é bastante heterogênea e complexa e pode começar em qualquer idade, não é igual para todo mundo e por isso é importante identificar para personalizar o tratamento em cada um dos indivíduos.

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Blog: Qual que é a diferença entre asma e bronquite? É a mesma coisa, são coisas diferentes?

Dr. Eduardo: A bronquite é um termo geral, 'ite' vem do grego e quer dizer inflamação, então bronquite significa inflamação dos brônquios. A asma é a inflamação dos brônquios, então é um tipo de bronquite. É que quando a gente diz que é asma a gente está dizendo que essa inflamação é alérgica. Por quê? Porque o indivíduo, por exemplo, pode ter uma infecção viral, a criança tem uma infecção viral e faz o que a gente chama de bronquiolite, não deixa de ser uma bronquite, mas essa inflamação é pelo vírus. As pessoas entram em contato com substâncias irritantes, inalam substâncias irritantes, por exemplo, isso desencadeia uma irritação, uma inflamação nos brônquios, é uma bronquite. O fumante com o tempo ele começa a ter tosse, começa a ter pigarro, isso é uma bronquite, mas desencadeada pela fumaça do cigarro. Então bronquite é um termo geral. Quando a gente fala que é asma, em geral essa inflamação é de natureza alérgica quando é na criança e está associada então a uma história familiar de alergia e muitas vezes outras manifestações alérgicas. Muitos que têm asma têm rinite alérgica, alergia de pele, dermatite atópica, alergia alimentar, todas essas manifestações alérgicas são muito parecidas, apenas em órgãos diferentes.

Blog: Então se meu filho eventualmente tem uma rinite alérgica ele pode ter uma bronquite, uma asma na sequência?

Dr. Eduardo: Sem dúvida alguma. A predisposição genética é muito parecida, ninguém sabe por que os alérgicos têm rinite alérgica, outros têm asma, outros tem alergia de pele e outros têm todas as manifestações. O que a gente sabe é que é muito comum a associação, então 80% das crianças que têm asma têm rinite alérgica junto e 50% das crianças que têm rinite alérgica têm também asma. Ou seja, rinite é mais frequente do que asma, mas é muito comum as duas manifestações concomitantes. A via aérea é a mesma e o mesmo tecido que nós temos na mucosa do nariz nós também temos na parede do brônquio, então é muito comum inflamar a via aérea superior e a via aérea inferior ao mesmo tempo, e aí essa criança vai ter rinite alérgica e vai ter asma; muitas vezes aspira esse conteúdo da via aérea superior, porque está sempre engolindo secreção quando tem rinite, muitas vezes aspira, isso irrita a via aérea baixa e passa a ter asma. Então se você tem rinite, essa é a época do ano que piora, nós estamos entrando no outono, onde a umidade relativa do ar tá mais baixa, a poluição aumenta, a gente tem mais infecção, se você tem rinite é importante procurar um especialista pra tratar porque isso diminui muito a chance de você desenvolver asma.

Blog: Doutor, sinais e sintomas, o que é que os pais precisam ficar de olho quando a gente pensa em asma?

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Dr. Eduardo: O diagnóstico da asma é focado principalmente no sintoma clínico. O que é que dá de sintoma? É aquela criança que têm episódios de repetição de tosse e essa tosse é principalmente do final da tarde em diante ou de manhãzinha, em geral é uma tosse seca, não tem catarro, não tem infecção, é uma irritação. Além da tosse frequentemente essa criança vai ter aperto no peito, chiado no peito, sensação de dificuldade para respirar, falta de ar quando faz esporte, quando anda de bicicleta, quando vai correr, isso é muito importante. E esses episódios são recorrentes, então o indivíduo tem um quadro, às vezes melhora espontaneamente, some, passa duas ou três semanas ele volta a ter uma tossinha, vai no médico, muitas vezes o médico dá um xarope, dá uma medicação, melhora um pouquinho, passa dois ou três meses volta a ter outro quadro. Então quando a criança começa a ter esses sintomas de repetição e existe uma história familiar de alguém que teve alergia na vida, rinite, asma, dermatite atópica, a chance de ser asma desse quadro desses sintomas é muito grande, então deve se procurar um especialista para ser avaliado, fazer o diagnóstico e poder começar a tratar adequadamente.

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Blog: Esse diagnóstico pode ser feito por um pediatra ou tem que ser por um pneumologista?

Dr. Eduardo: Não, o diagnóstico pode ser feito por qualquer médico, inclusive o pediatra. A gente sabe que na verdade muitos dos médicos generalistas têm dificuldade e acabam tratando aquele quadro agudo, não acabam vendo a criança de repetição e não acabam então fazendo o diagnóstico de asma. Então é muito importante ter um médico da sua confiança, seja um pediatra, seja um pneumologista infantil, um alergista, mas que acompanhe essa criança que tem quadro de repetição para não ficar levando a criança na emergência, no pronto atendimento toda hora se ela tem quadro de repetição, porque é isso que frequentemente acontece, o colega médico que está na emergência vai tratar aquela tosse daquele dia, daquela semana, não vai tratar a tosse do mês que vêm, do outro mês. Então, se é um quadro agudo, se é um quadro importante, é claro, você pode levar no pronto atendimento, passar com o pediatra da emergência para ele fazer alguma coisa, mas se esse quadro começa a ser repetitivo procure um pediatra da sua confiança, um alergista ou um pneumologista, porque não é comum a criança ter um resfriado várias vezes no ano. Isso não é resfriado, não é gripe de repetição, possivelmente é asma, e aí normalmente um médico que acompanha essa criança tem uma chance muito maior de fazer o diagnóstico.

Blog: A asma tem tratamento ou uma vez a criança é diagnosticada é algo que ela vai levar pra vida toda?

Dr. Eduardo: A gente nunca fala que é a vida toda porque felizmente a vida toda é muito longa, então a gente sempre diz que sim, tem tratamento, em geral a gente fala que asma não cura, mas tem tratamento e tem controle. Como eu mencionei antes, muitas crianças que têm asma na infância, 60, 70% das crianças chegam na adolescência, na idade adulta e param de ter, entram em remissão. A gente não fala que curou, a gente fala que entrou em remissão. Por quê? Por que parte desses indivíduos vai voltar a ter sintomas na idade adulta e a gente não sabe quem vai voltar a ter, quem não vai voltar a ter. De forma que o que a gente diz é que a asma é uma inflamação e deve ser tratada com anti-inflamatório todos os dias, um tratamento que deve ser individualizado, porque muitas vezes um indivíduo tem uma inflamação que é muito leve, é muito pequena, e não precisa usar o remédio todo dia, o ano todo, você vai usar quando precisa. Mas nos indivíduos que têm sintomas mais frequentes, mais recorrentes, que tem perda de função pulmonar, esses indivíduos têm que usar um anti-inflamatório todo dia. Então hoje a gente entende, naquelas pessoas que têm asma com sintomas mais persistentes, que a asma é como pressão alta ou diabetes, é uma doença crônica que deve ser tratada todos os dias pra prevenir crise, para prevenir exacerbação, para prevenir idas ao pronto-socorro e para prevenir perda de capacidade pulmonar, porque isso acontece. Essa inflamação não tratada, que inicialmente é leve pode virar moderada e pode virar grave com o tempo. Então é importante controlar. O pronto-socorro é importante numa crise mais grave, mas se você está tendo sintoma frequente, está indo no pronto-socorro, está tendo que usar bombinha porque está com sintomas frequentes, o seu tratamento não está adequado; procure um especialista porque asma bem tratada é perfeitamente controlada.

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Blog: Mas ao contrário da diabetes e da hipertensão, tem uma tendência de achar que asma é algo menor, né?

Dr. Eduardo: Quando acontece um quadro desses tristes, especialmente com um pessoa conhecida como aconteceu com a jornalista Fernanda Young há 2 anos atrás, isso sai na mídia, as pessoas se impressionam com esse tipo de notícia, mas infelizmente asma ainda mata 5 a 6 pessoas por dia todos os dias no Brasil. Por quê? Por que essas pessoas não fazem o tratamento adequado. Não é normal ter tosse, chiado, ter falta de ar se você tem asma. As pessoas acham que isso é normal, 'ah, eu tô com um pouquinho de chiado só, não vou usar medicamento porque eu não tô com falta de ar'. Está errado. O normal é não ter nada. Se você tem sintoma é porque a sua doença está mal tratada, está mal controlada, procure o especialista. Essa inflamação se não é tratada ela vai piorando, vai aumentando, se tornando mais grave, os brônquios vão fechando cada vez mais, existe o risco de crise mais grave, de repente o indivíduo tem uma crise, como eu falei, piora de madrugada, as vias aéreas, os brônquios fecham mais à noite, então muitas vezes o indivíduo tem uma crise mais grave, usa medicação pra aliviar, para abrir os brônquios e a medicação não funciona mais, porque esse brônquio já está tão fechado, está tão irritado, que às vezes ele não abre mais.

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Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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