Talvez achasse que o Samuca era mais maduro do que realmente é. Mas ele é só uma criança que precisa ser protegida. Por mim. Pelo pai.O remédio não estava à vista, mas ele ficou na ponta dos pés, puxou a caixinha onde estava, abriu o vidrinho e bebeu. Depois, talvez por ser maduro como eu achava que era, veio me contar: "Mamãe, eu estava com sede e tomei esse remédio - me mostrou o vidro vazio -mas é muito ruim." Fiquei desesperada, liguei para o pediatra que me orientou a ir direto ao pronto socorro. Samuel logo avisou que não estava passando bem: "Meu coração está batendo, mamãe." Estava com taquicardia. O Berotec, remédio que bebeu, é usado para fazer inalação. Apenas algumas gotinhas diluídas em soro fisiológico. Lembro que quando ele era bebê e o pediatra prescreveu o remédio, alertou-me: "Apenas uma gota em 5ml de soro. Se caírem duas joga fora e começa todo o processo de novo."
Em poucos minutos meu marido e eu chegamos o hospital mais próximo.A rapidez com que foi atendido mostrava a gravidade da situação. Faz eletrocardiograma, tira sangue, toma soro, liga para o centro de intoxicação. Ele chora, sofre, se arrepende. Diz que odeia o hospital e que nunca mais vai mexer em nada. Pergunta se o médico vai cortar a barriga dele com a faca. A gente sofre e chora junto. Samuca ficou algumas horas em observação, mas se recuperou e saiu bem do hospital. E eu, que tenho uma verdadeira neurose com a porta da área de serviço - checo mil vezes se está trancada com medo dos produtos de limpeza - fui traída por um remédio que ele usou apenas uma vez na vida para fazer inalação. Duro é ter que conviver com o embrulho no estômago que dá cada vez que penso que um descuido nosso pode mudar nossa vida para sempre. E para pior.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.