Qual a temperatura da água para o banho do bebê? Posso usar sabonete? Se sim, de qual tipo? E hidratante? Meu filho pode tomar sol? E usar protetor solar? As dúvidas dos pais são inúmeras e não é para menos: a pele do bebê é um órgão muito sensível, que necessita de cuidados específicos. A dermatologista Silvia Soutto Mayor, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e coordenadora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia lembra que é necessária todo um 'ajuste' da pele quando o bebê nasce. "Dentro da barriga da mãe essa pele estava hiper hidratada, envolta pelo líquido amniótico e adaptada àquele meio. Aí quando o bebê nasce e passa para o meio externo tem que se adaptar rapidamente às condições de temperatura, de umidade e a todas as bactérias e fungos do meio ambiente". E é por isso que a gente tem que tomar cuidado e saber o que pode e ou que não pode ser passado na pele do bebê.
Blog: Como é que é a pele do bebê?
Dra. Sílvia: Até o 28º dia de vida o bebê tem uma pele extremamente fina. E a criança que nasce a termo, ou seja, aquela que não é prematura, vem coberta pelo vernix caseoso, uma substância viscosa, esbranquiçada e oleosa que é o nosso primeiro hidratante. E a natureza é sábia, esse hidratante vem na pele do bebê exatamente para evitar que ela resseque muito rápido, já que estava em um ambiente úmido e 'sai' para o ambiente mais seco. A primeira coisa que a gente já faz errado sabe qual é? Tirar todo esse vernix logo que o neném nasce. Então hoje os estudos mostram e a gente orienta que nas maternidades pode até limpar o bebê para ele conseguir mamar, encostar na pele da mãe, sentir o calor da mãe, o queé importantíssimo, mas não remover totalmente o vernix caseoso, porque essa é uma camada protetora da pele do bebê.
Blog: E depois que esse bebê vai para casa, como têm que ser os banhos?
Dra. Silvia: A gente está em um país que faz calor então é difícil não dar banho no bebê todos os dias. A água não pode ser muito quente, tem que ser morna, e a maioria das pessoas não deve ter um termômetro para colocar na água e saber a temperatura, isso não é prático, nem a gente tem. Então o que geralmente a gente orienta é que a mãe coloque o antebraço dentro da água da banheira e essa água deve estar morna pra fria, não morna pra quente.
E na hora que o bebê é colocado na água esse contato é extremamente confortável. Por quê? Como falei antes, ele veio da água, então até do ponto de vista neurológico e emocional o bebê se sente aconchegado, num ambiente que lembra muito o útero materno. E qual sabonete usar? Aí começa o problema.
A gente tem aquele sonho: quero meu bebê cheirosinho, penteadinho, bem lindo para sair na foto. Só que não. A rigor o bebê só precisaria de água para tirar suor, o sabonete serve apenas para remover resíduo de fezes, urina e excesso de transpiração. Excesso. Então ele deve ser usado em uma mínima quantidade e de preferência um produto que esteja escrito no rótulo que é para uso em bebê, em recém-nascido. Existem vários, a gente costuma dizer que são sabonetes que são detergentes sintéticos, não é um sabão porque ele não tem detergência e mesmo assim é para ser usado apenas as áreas que têm sujeira como xixi, cocô, essa área da fralda, e a cabeça e o pescoço, que são as áreas onde a criança mais transpira. Essa é uma diferença do bebê para o adulto: a gente transpira na axila e na virilha, mas o bebê transpira na cabeça. Então o mais importante para o bebê é lavar cabecinha, pescoço e região da fralda com sabonete. O resto é só 'aguinha' e acabou. Se quiser deixar a criança 'de molho' faça isso só no começo do banho, só com água, nunca na água com sabonete.
Blog: E o que é que pode passar na pele do bebê? Pode passar hidratante?
Dra. Sílvia: A princípio não é necessário hidratante a não ser em crianças que tenham uma alteração da barreira cutânea, como é o caso das crianças com dermatite atópica, crianças que têm alguma doença genética de pele, mas, caso contrário, nos primeiros meses de vida o ideal é só o banho e enxugar sem esfregar. Por quê? Porque você vai preservar o hidratante natural da pele e não vai alterar a formação da flora bacteriana.
Blog: A gente está no verão e vive em um país muito quente. Como tem que ser a relação do bebê com o sol?
Dra. Silvia: Hoje a gente tem essa cultura de que o sol é um vilão, mas ele é importante para o desenvolvimento da criança, que está tendo formação de osso. Para que esses ossos se formem de uma maneira saudável é preciso vitamina D. Mesmo o pediatra receitando a suplementação de vitamina D, algo muito comum nos primeiros meses de vida, se não tiver um pouquinho de exposição solar não se consegue fazer o cálcio entrar no osso.
O sol que a gente costuma orientar para os bebês é aquele sol saudável antes das 10 da manhã e depois das 4 da tarde. Também é preciso evitar sempre a exposição solar em áreas muito sensíveis, como o rosto. O ideal é colocar a criança com um bodyzinho e deixar as perninhas no sol ou colocar a criança de manguinha curta, os bracinhos no sol com um chapeuzinho ou um boné. E por curtos períodos, 15 minutos, meia hora já é suficiente. A gente não pode esquecer que a praia, a piscina e exposições prolongadas ao sol podem até causar febre no bebê, que não tem a pele adaptada para responder bem à radiação ultravioleta. Então evitar exposições de mais de uma hora diretamente no sol, ou ficar embaixo do guarda-sol e sempre com boné ou chapéu. Não podemos esquecer que o couro cabeludo é pele, o bebê tem pouco cabelo e essa exposição pode aumentar muito a temperatura corporal.
Blog: Bebês podem usar protetor solar?
Dra. Silvia: Os protetores solares só são liberados a partir do 6º mês de vida, antes disso a proteção deve ser feita com chapéu, boné, barraca, guarda-sol ou com as roupas com proteção ultravioleta, que hoje são comuns até aqui no Brasil. O protetor solar de uso infantil pode ser reaplicado a cada duas horas, mas é claro que o bom senso manda que a criança não fique exposta ao sol direto.
Blog: E repelente? Pode usar?
Dra. Silvia: Repelente é muito mais tóxico que protetor solar, isso é importante dizer. O repelente não pode ser reaplicado várias vezes e nunca deve ser usado na face, porque ele não pode entrar no olho, nariz e boca, nem entrar em contato com as mãos da criança, por que o que qualquer bebê faz? Põe a mão na boca e no nariz, coça o olhinho, e isso não pode acontecer.
Nem todas as crianças precisam usar repelente - se não está tendo mosquito perto da sua casa, se você tem protetor nas janelas, se você não está no litoral, não está no campo, vai passar o repelente para quê? Passar repelente de manhã para quê, se os mosquitos e pernilongos gostam mais da tarde e da noite? Então a gente tem que ter mais cuidado ao orientar e usar repelente nas nossas crianças.
Os repelentes têm liberação por faixa etária. O com icaridina é um dos mais indicados porque protege até contra a picada do mosquito da dengue e chicungunha, mas é preciso ficar atento porque existe a icaridina para uso infantil e a para uso adulto. É muito importante respeitar a orientação e rotulagem de acordo com a idade, nunca usar repelente que é uso exclusivo adulto em criança. 'Ah, mas é a mesma substância!'.Sim, mas a concentração e o veículo são diferentes. Então o repelente, filtro solar e hidratante indicados para o bebê não são os mesmos indicados para o adulto.
Blog: E quais são as coisas mais comuns que podem acontecer com a pele do bebê? O que é comum, normal, e o que deve ser motivo de preocupação?
Dra. Silvia: No verão, o que é mais comum acontecer nos bebês? A brotoeja, que às vezes assusta, mas que é normal. São aquelas bolinhas vermelhas que começam na área de maior transpiração como pescocinho, cabecinha, naqueles bebezinhos que têm o cabelo mais ralinho dá pra ver as bolinhas, às vezes nas dobrinhas, onde a criança transpira mais. E não precisa fazer nada, porque a brotoeja é um mini processo inflamatório na saída do suor na pele. A criança não está muito adaptada à glândula que produz suor, então se você agasalha demais ou sai de um lugar fresquinho e coloca no calor vai fazer brotoeja. Se você simplesmente desagasalhar e deixar essa pele ventilar melhora. Não precisa passar pasta d'água, não precisa ficar passando creme de corticoide, não precisa e não deve, brotoeja é comum, é fisiológico, aparece e some. Nos casos mais intensos pode procurar o pediatra ou o dermatologista porque pode não ser brotoeja, mas ser uma outra coisa como alergia, irritação.
Assadura é outra coisa que sempre gera preocupação. O xixi e as fezes irritam a pele e o problema é deixar o xixi e as fezes muito tempo em contato com a pele, então se você trocar essa fralda com frequência não vai ter assadura, não precisa de pomada prevenção de assadura, nada disso. 'Ah, mas é muito difícil, eu trabalho, meu filho está na escolinha ou na creche, como é que dá pra fazer isso?' Nestes casos podem ser usados os cremes de barreira ou de prevenção de assaduras. E com o quê limpar? Com algodão e água, que não precisa ser quente, a criança se acostuma com a água fria. Já o lencinho umedecido é apenas para uma viagem, para uma hora que está na rua. A assadura pode ocorrer? Pode. Mas ela pode ser prevenida com as trocas frequentes, com o uso de algodão e água - só tem indicação de usar remédio se a assadura virar uma ferida e aí o pediatra ou o dermatologista tem que ser acionados para poder indicar qual o melhor tratamento para aquela criança.
Blog: E quais são as doenças de pele que precisam de atenção, acompanhamento e que podem aparecer na infância?
Dra Silvia:A doença inflamatória, a chamada dermatite. A mais comum nessa faixa etária pediátrica é a dermatite atópica. Se for uma criança mais velha, 7, 8, 9 anos, que já brinca com algumas coisas, adolescente, que já usa maquiagem, aí pode ser uma dermatite de contato por alguma coisa.
Mas bebezinhos que já começam com coceira e placas vermelhas que coçam nas dobras, bochechas e na testa, ficam irritadas e têm uma pele áspera, aí sim o médico deve ser consultado, pode se tratar de uma dermatite atópica. A dermatite atópica começa na grande maioria dos casos no primeiro ano de vida e na outra parte das vezes dá sinais até os 5 anos de idade. Então geralmente é na infância que surgem os primeiros sinais. O que é sinal de alerta pro pai e pra mãe? Coceira. E uma coceira que não melhora, pode até dar antialérgico que não passa. Não é uma alergia a alguma coisa, é uma hiper-reatividade dessa pele a várias coisas. Por exemplo, mudou o tempo, a gente tá aqui em São Paulo e é comum acordar de manhã estar friozinho, chega na hora do almoço tá 32 graus, chega à noite cai pra 18. A pele tem que se adaptar a esse calor e frio e o atópico se adapta mal e a pele pode começar a coçar só pela mudança de temperatura.
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