Agressividade dos jurados do 'MasterChef', da Band, é marca registrada da terceira temporada

O E+ conversou com dois especialistas para compreender o motivo de tanta rispidez

Atualização:
Henrique Fogaça, Paola Carosella e Henrique Fogaça nas gravações do reality da Band Foto: Divulgação|Band

Na última terça-feira, 3, durante umas das provas do MasterChef, reality show de culinária da Band, uma cena, que pode ter passado despercebida pelos telespectadores, resumiu bem o tom de rispidez que vem marcando a terceira temporada do programa. Ao descobrir que Pedro, um dos aspirantes a chef de cozinha, preparava uma claudicante torta de maçã para acompanhar um bife t-bone, o jurado Henrique Fogaça surtou. Com uma expressão de baixo calão, o chef alertou o rapaz sobre o equívoco: "Muda, ou você vai se se f****". A agressividade da situação, inclusive, gerou uma reação na apresentadora Ana Paula Padrão: "Como você tá bravo". E levantou um questionamento: o reality está pegando pesado demais com a grosseria?

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A dramaturga e professora da USP, Renata Pallotini, é categórica ao afirmar que há um exagero, sim, nas reações dos jurados. Atitudes estas que têm se tornado cada vez mais abusivas. Ela nota também que o clima de guerra tem sido a tônica, não apenas no reality, mas também em filmes de ficção que envolvam uma cozinha de restaurante como cenário. Algo que não existe, necessariamente, em outros campos de atuação.

"O chef de cozinha, o cara que manda mais, em geral, é muito duro com os assistentes. Essa parece ser uma espécie de tradição já espalhada, um costume conhecido por quem vive neste mundo", contou ao E+ a especialista, que não entende bem a razão para este comportamento, mas disse ficar constrangida com tanta indelicadeza. "Acredito que as pessoas se incomodem. Pessoalmente, me incomoda. Não tem cabimento. Não há uma boa explicação para isso. Talvez seja uma forma de imitar o que acontece na realidade, mas não deve ser tolerada. Essa agressão é desagradável."

Já o psiquiatra Daniel de Barros, que acompanha de perto as produções televisivas, enxerga três possibilidades para justificar tal agressividade. Uma delas é próprio escopo natural dos reality shows. "O espírito destes programas é justamente filtrar os melhores. Passa por uma coisa de buscar uma meritocracia inquestionável, adotando um certo teor de treinamento militar, uma premissa de que só vai chegar ao fim quem realmente for bom", explicou o médico.

Para ele, um segundo aspecto seria a própria vocação da televisão. "Tudo na TV funciona sempre em um tom acima. Tem uma coisa histriônica, caricata, que caracteriza as produções. O meio é assim. Para captar a atenção das pessoas, disputada pela família, pela internet, entre outros estímulos, a TV faz uso do exagero."

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Por fim, o especialista credita o excesso de dureza, também, a uma clara demanda do público, caso contrário, os programas seriam rechaçados pela audiência, o que não acontece. Ele entende que é impossível negar a existência de uma alegria na desgraça alheia. E esse é um sentimento comum, por exemplo, ao assistirmos a uma vídeo-cacetada ou pegadinha. Por outro lado, quando uma pessoa é subjulgada a uma espécie de tortura psicológica em rede nacional, muitos telespectadores são, automaticamente, impelidos a sentir pena dela. E isso gera uma empatia. Segundo ele, evocar ambas as sensações no público talvez seja a fórmula do sucesso.

"Esse mix de sentimentos retém a audiência. Nosso cérebro, naturalmente, lida muito mal com os conflitos, com as situações mal resolvidas. Ficamos tentando dar conta, explicar para nós mesmos, dar sentido àquilo tudo. Essa ambiguidade gerada por esses personagens pode explicar o sucesso dos reality shows. Acho que o segredo é dosar: não exagerar na rispidez a ponto de gerar raiva nem deixar o caminho tão fácil para os participantes", sentenciou. 

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