‘Carnival Row’ retorna com críticas sociais e ‘paralelo para a vida real’ em temporada final

Orlando Bloom, Cara Delevingne e integrantes da série refletem sobre mensagens da segunda temporada da produção, que chega ao Amazon Prime Video nesta sexta, 17

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Foto do author Julia Queiroz

Fadas e criaturas mágicas podem ser uma alegoria para os problemas do mundo real? Essa é a proposta de Carnival Row, série que retorna para sua segunda e última temporada nesta sexta-feira, 17.

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Os dois primeiros episódios já estão disponíveis no Amazon Prime Video, enquanto os próximos serão lançados semanalmente na plataforma, sempre em duplas.

Estrelada por Orlando Bloom e Cara Delevingne, a produção demorou quase quatro anos para retornar ao público, depois que teve as filmagens interrompidas pela pandemia de covid-19.

Desta vez, os atores retornam mais maduros e ainda mais conectados com a história de seus personagens. “Nesta segunda vez, eu estava bem mais confortável. Acho que, além disso, [estou] ficando mais velha e bem mais confiante nas minhas habilidades para dar à personagem o que ela merece”, diz Cara, em entrevista ao Estadão.

A atriz, que começou a carreira como modelo, já havia participado de grandes filmes, mas teve seu primeiro papel de liderança na televisão com a série. Ela interpreta Vignette, uma fada refugiada que luta contra as injustiças cometidas pelos humanos contra as criaturas mitológicas do Burgue.

A personagem vive um romance com o detetive Philo (personagem de Orlando Bloom). Nesta temporada, além de investigar uma série de assassinatos que aumentam as tensões entre os grupos, ele está lidando com a revelação de que é um mestiço e sua mãe foi Aisling, uma das fadas assassinadas.

“Para mim, explorar esse personagem que tem essa dualidade em sua existência foi muito divertido”, conta o ator. “Ele foi criado como um humano nesse ambiente muito opressor e tem guardado esse segredo sobre a liberdade das fadas em seu coração, mas agora está vendo isso crescer e se aproximando desse mundo”.

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Orlando Bloom vive o detetive Philo em 'Carnival Row', que terá a história concluída na segunda temporada. Foto: Julie Vrabelova/Prime Video

Para Bloom, o personagem está lutando contra seu lado mais sombrio e tentando se tornar um ser completo, ao mesmo tempo em que esconde muito do que sente, algo que ele próprio pode se relacionar.

“Eu sou um ser humano com defeitos e estou sempre tentando fazer a coisa certa, mas a qualquer momento posso derrapar e aí é tipo ‘o que?’. Mas é isso o que acontece na vida”, explica.

“Todos nós temos nossos demônios e meio que os escondemos e fingimos que eles não estão lá e exibimos em nossas redes sociais que somos uma coisa quando, na verdade, por dentro, pensamos, ‘meu Deus, será que consigo lidar com isso?’”, completa.


Alegoria do mundo real

Apesar de ser ambientada em um mundo fantasioso, Carnival Row faz referência direta a injustiças sociais da sociedade ocidental. A série busca explorar divisões de classe, racismo, imigração e violência contra minorias de maneira alegórica e fazer o expectador questionar a realidade em que vivemos.

“As melhores séries de fantasia são um paralelo para a vida real”, opina Erik Oleson, roteirista e produtor executivo. Para ele, a primeira temporada fez um bom trabalho em construir esse paralelo, questionando, em especial, se a forma como nascemos define quem somos.

Jay Ali, ator novato na série e que vive um personagem dos Corvos Negros, quadrilha de Vignette, explica: “É feito de maneira muito interessante. Você assiste a uma série, e você tem essa fantasia, fadas, gnomos e sátiros, [mas] tudo que eles estão fazendo é representar diferentes culturas, religiões e gêneros”.

Andrew Gower (Ezra), Tamzin Merchant (Imogen), David Gyasi (Agreus) em 'Carnival Row'. Humanos e criaturas mitológicas vivem em constante tensão na série. Foto: Julie Vrabelová/Prime Video

Oleson, que chegou à produção da série nesta segunda temporada, afirma que os roteiristas e produtores tentaram ir ainda mais a fundo nos novos episódios.

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“Qual é a forma que devemos nos comportar ao encarar ódio, divisão, racismo e injustiça? É indo às ruas? É tentando trabalhar dentro do sistema, para mudá-lo para melhor? É desistindo do sistema, pegando armas e virando violentos? A todas essas perguntas, cada personagem de Carnival Row está respondendo de forma diferente”, explica.

Nesse contexto, Ali explica que seu personagem e o grupo de resistência em que está envolvido chegam a um ponto em que só buscam a sobrevivência, mas, para isso, usam meios que os humanos da série entendem como “encrenqueiros” ou até “terroristas”.

Esses humanos são liderados por homens como o sargento Dombey (vivido por Jamie Harris), um policial que ressente e rejeita a chegada das criaturas mágicas e, por isso, os persegue.

“Acho que os humanos como um todo tem muito medo de mudanças. Você sabe, é sempre melhor o diabo que você conhece do que o que você não conhece. Isso é verdade em Carnival Row e na vida. E o Dombey está protegendo a vida que ele conhece”, diz o ator.


Temporada final

A história de Carnival Row será concluída nessa segunda temporada. A série havia sido renovada ainda em 2019, quando estreou no Prime Video, e teve a produção interrompida em 2020, por conta da covid, atrasando o lançamento em anos.

“Eu esperava que a temporada fosse completada muito antes e estivesse pronta para os espectadores muito mais cedo”, revela Erik Oleson. “Com uma série tão grande e com efeitos visuais tão elaborados, é um processo enorme. Se você para no meio, adiciona muito tempo à produção”.

Cara Delevingne como a fada Vignette Stonemoss na segunda e última temporada de 'Carnival Row'. Foto: Julie Vrabelova/Prime Video

O produtor revela que, inicialmente, a trama tinha um roteiro que poderia levar a novas temporadas e explica o motivo pelo qual isso não foi para frente: “Durante a covid, percebemos que era simplesmente impossível manter todos os atores, todos os sets, manter o mundo inteiro unido esperando dois anos para colocar [a série] na frente do público, para então decidir se eles vão fazer mais [temporadas]”.

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Oleson conta que, quando os estúdios da Amazon decidiram que seria a última temporada, providenciaram os recursos necessários para criarem uma conclusão satisfatória. “Na verdade, o próprio Jeff Bezos disse: ‘você tem tudo que precisa?’, e então eu pedi por mais dois episódios”, revela.

Com isso, a temporada final terá dez episódios. “Eu sinto como se estivéssemos sentados em cima de um ovo há três anos e agora ele está prestes a rachar”, brinca a atriz Tamzin Merchant, que interpreta a personagem Imogen Spurnrose.

O sentimento do elenco em geral parece ser esse: uma mistura de alívio pela série finalmente retornar ao público com a tristeza pelo fato de que é o final.

“Foi triste, porque viramos uma família”, diz Cara Delevingne. “Agora, quero focar em papéis mais guiados pelo personagem, talvez menos acrobacias. Mas isso é parte do que gostei dessa personagem: poder fazer os dois. Então, é um pouco agridoce. Acho que nunca mais vou trabalhar em um set como esse, porque era brilhante”.


*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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