Não é fácil transformar uma história clássica em algo quase que completamente novo, mas foi isso que a roteirista Alice Birch e a atriz Rachel Weisz fizeram com a minissérie Dead Ringers, ou Gêmeas - Mórbida Semelhança, que chega nesta sexta-feira, 21, ao Amazon Prime Video.
A produção é inspirada no filme de terror psicológico Gêmeos - Mórbida Semelhança, lançado em 1988 pelo diretor David Cronenberg. No longa, gêmeos idênticos de personalidades opostas são ginecologistas de sucesso e dividem tudo, incluindo pacientes e relacionamentos. As coisas mudam quando um deles se apaixona por uma mulher, o que acaba comprometendo a relação dos dois.
Na nova versão, a premissa parte do mesmo lugar, mas sob uma ótica diferente: os gêmeos Beverly e Elliot, desta vez, são mulheres, interpretadas pela vencedora do Oscar Rachel Weisz. Já a personagem que gera o conflito entre elas continua sendo uma mulher, batizada de Genevieve - uma homenagem à atriz Genevieve Bujold, que deu vida à mulher no filme de 1988.
“Tudo me fez querer fazer parte deste projeto. Era uma oportunidade que eu sabia que não poderia deixar passar e fazer a audição foi a cereja do bolo. É incrível ter sido escalada, filmar a série e estar aqui agora”, diz Britne Oldford, atriz que interpreta Geneviève.
Para ela, a personagem tem o poder de mudar “drasticamente” a relação entre Beverly e Elliot. “É a primeira vez que elas encontram alguém que poderia potencialmente afetar o vínculo delas, para o bem ou para o mal”, explica.
História feita por mulheres
Além de colocar praticamente só mulheres no centro da tela, Dead Ringers fez o mesmo processo nos bastidores. Alice Birch é a principal roteirista e produtora executiva da série, enquanto Weisz também serve como uma das produtoras.
“Isso criou um ambiente muito seguro e generoso, porque todas nós entendíamos o que estava acontecendo umas com as outras”, pontua Britne. A atriz comenta que isso também impacta na inserção da narrativa LGBT da história, que parece ser “muito orgânica e real”.
“Alice é a produtora executiva, mas a sala de roteiristas era cheia de mulheres. Acho que elas realmente homenagearam o trabalho original do Cronenberg de uma forma muito respeitosa, mas também o elevaram muito”, completa a atriz Poppy Liu.
Ela interpreta Greta, uma artista misteriosa e peculiar que cuida do apartamento em que Beverly e Elliot moram. Poppy, que tem origem chinesa, comenta que é muito comum que pessoas não brancas estejam inseridas na indústria de serviços, mas que a personagem contorna isso usando sua “invisibilidade” a seu favor.
“Ela está fora do radar de todo mundo, mas está muito inserida no dia a dia delas. Ela vê tudo e tem sua própria rotina, que [o espectador] não sabe muito bem qual é. É interessante, porque ela é uma das personagens que não estava no original, é uma personagem que elas criaram”, explica.
Saúde feminina
Com a história liderada por duas mulheres ginecologistas, a produção trouxe discussões sobre fertilidade, aborto, gravidez e saúde da mulher para o primeiro plano. Para Poppy Liu, as roteiristas mostraram e descreveram diferentes experiências de parto e as relações de diferentes pessoas com seus corpos.
“Ver as falhas do sistema de saúde, essas coisas são muito reais. Tem um elemento de terror envolvendo o corpo, em termos do gênero, mas também muito dos horrores do sistema de saúde e suas falhas, isso tudo é real. Acho que ter isso na história era muito importante para elas”, diz.
Como apontado pela atriz, algumas cenas são explícitas e, em momentos, podem gerar gatilhos para quem assiste. “Emocionalmente, é como uma montanha-russa. É como ser atingido por uma onda. O mundo [da série] é tão específico e estranho, e você realmente entra nele”, explica Poppy.
“Eu acho que alguns dos assuntos foram definitivamente difíceis. Tive a sorte de não estar terrivelmente envolvida em algumas dessas cenas”, pontua Britne Oldford. Ela comenta que um dos maiores desafios foi ter que filmar muitas cenas duas vezes, já que Rachel Weisz precisava gravar como Beverly e Elliot com o auxílio de uma dublê.
Para a atriz, a expectativa para o lançamento é que a audiência entre em contato com situações que acontecem diariamente com as mulheres: “Todos nós viemos dessa experiência, então espero que isso tire o estigma sobre o nascimento, vida e morte de uma forma que permita mais compaixão e compreensão de todas as pessoas”.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais
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